segunda-feira, 25 de novembro
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Sorriam! Estamos sendo observadas

Nossa missão e nosso propósito também são “um”: PARA QUE o mundo creia que Jesus foi enviado por Deus e que o Pai nos ama como ama o Filho. Em João 13.34-35, Jesus diz aos discípulos que a demonstração de amor entre eles atesta que realmente são seus discípulos. A exibição da unidade entre os crentes é convincente aos olhos do mundo, pois é contracultural, e só pode ser explicada por um grande poder trabalhando nesse povo: Jesus, o Filho de Deus. O teólogo D. A. Carson afirma que, “embora a unidade prevista neste capítulo não seja institucional, esta cláusula de propósito no final do versículo 21 mostra que a unidade deve ser observável”.[1] Carson completa que só é possível atingir esse propósito pela adesão comum ao evangelho, pelo amor alegre e abnegado e pelo compromisso com os objetivos comuns dos quais os seguidores de Jesus foram encarregados.

Na igreja, Deus une diversas idades, classes sociais, histórias, estados civis, gostos e interesses (Cl 3.11). Cada membro do corpo do qual você faz parte foi escolhido pelo Senhor, não consistindo em uma escolha feita por você, com base em seus próprios interesses. Mesmo em meio a tantas diferenças, esses membros têm tudo o que precisam para permanecer juntos, ou seja, o sangue de Jesus. Mas essas são uniões muito improváveis, concorda? Basta parar para pensar, por um instante, nos membros de sua igreja local. Você acha que vocês teriam algum outro motivo para caminhar juntas se não fosse Cristo? Talvez você tenha afinidade com algumas irmãs criteriosamente selecionadas, em relação à fase da vida ou a qualquer outro fator. Mas o que dizer desse grupo em sua multicolorida inteireza? Nós somos diferentes demais. E caminhamos juntas apenas por termos o mesmo Salvador. E ele está trabalhando em nossa unidade para que ela seja levada à perfeição (Jo 17.23).

Um amor contracultural

O amor que demonstramos umas pelas outras fala sobre o amor que levou Jesus à Cruz. E não, não nos amaríamos corretamente de outra forma. Nós não temos essa capacidade; a igreja não é algo natural, mas, sim, uma comunidade formada de maneira sobrenatural. É justamente porque essa união não é natural que confere credibilidade ao que falamos sobre Jesus.

Certa vez, uma mulher no meu trabalho dirigiu-me uma crítica por eu ser amiga de adolescentes, dizendo que eu deveria andar mais com mulheres adultas como eu e que tivessem a mesma bagagem profissional ou talvez mais experiência profissional que eu. Ela estava se referindo às jovens da minha igreja, com quem eu amava caminhar lado a lado. Também tenho amigas da minha idade, mas veja que o que chamou a atenção dessa mulher foi minha relação com pessoas que, do seu ponto de vista, nada teriam a acrescentar à minha experiência. Na visão dela, que proveito eu poderia tirar dessas amizades?

A igreja faz isso. Ela reúne pessoas diferentes na unidade que Deus deseja e aperfeiçoa. Quando essa igreja manifesta amor entre seus membros, dá evidências de que Deus trabalhou nesse povo. Portanto, a união dos cristãos entre si — possível pela união deles com o Pai e o Filho, por intermédio do Espírito — dá credibilidade à mensagem de Jesus e testemunha poderosamente ao mundo que ele foi enviado por Deus. Essa união em amor e serviço está constantemente sendo observada pelo mundo. O que, então, eles estão vendo?

O inimigo nos quer inimigas

Se nossa unidade plena brilha tão forte para o mundo, de modo que todos vejam e creiam em Jesus, espera-se que essa união sofra as tentações do pecado e seja constantemente atacada. Se o inimigo tem sucesso em causar rupturas em nossa união, a imagem que o mundo verá não é nada bonita. A Bíblia diz que os prazeres da carne — que ainda militam em nós contra o Espírito e que dão à luz o pecado — são a causa de guerrearmos e contendermos umas com as outras e de mostrarmos ao mundo algo bem diferente daquilo pelo qual Jesus orou.

C. S. Lewis escreveu um livro bastante aclamado que consiste em cartas fictícias entre um demônio e seu sobrinho aprendiz. O objetivo dessa troca de correspondências era orientar o aprendiz a ser mais hábil na arte de tentar o ser humano, do qual ele fora incumbido de tomar a alma. O demônio já começa ensinando que um dos grandes aliados para a missão deles é a própria igreja. Assim, lemos nessa obra diversas “dicas” de como investir contra os relacionamentos do ser humano: fazê-lo enxergar somente os vícios e os pecados de seus próximos na igreja e ignorar que ele mesmo tem suas falhas; torná-lo um degustador de igrejas sem nunca se firmar em uma única congregação; levá-lo à devoção e a ideologias extremas, e nunca a Deus. Além disso, ele sugere inclinar seu amor a abstrações, como amar a humanidade, a liberdade e o amor, mas nunca permitir que esse amor seja um sentimento concreto, em relação ao próximo. A primeira edição do livro é de 1940, mas ainda é muito atual, concorda?[2]

Atualmente, as redes sociais estão desempenhando o importante papel de apresentar ao mundo as guerras de nossa família da fé. Mas isso não é algo novo para o povo de Deus. A Bíblia está repleta de relatos de nossas quebras de relacionamento, desde a saída de Adão e Eva do Éden, como veremos nos próximos capítulos. E, mesmo após a oração de Jesus, sua morte e ressurreição, lemos na Bíblia sobre o povo salvo ainda lutando com divisão, no lugar de união, e de maior amizade com os prazeres do que com Deus, expressando sentimentos de cobiça, inveja, egoísmo, murmuração, fofoca, amargura, sentimento faccioso, desobediência, traição e crueldade (Tg 3.13-18; 4.1,2; 1Pe 4.3; 2Tm 3.1-5). Afinal, o pecado ainda está no mundo. Não foi à toa que Deus escolheu registrar na Bíblia que contendas e conflitos continuariam existindo na igreja. Se, para saber que ele foi enviado, o mundo dependesse de nossa união plena, sem conflito algum, imaginamos que a melhor publicidade seria não registrar esses problemas no maior livro do mundo.

Observe, porém, que, neste mundo, nossa união nunca será perfeita, pois somos todos pecadores lidando com outros pecadores. Mas essa união será aperfeiçoada em um processo, assim como nós! Nossa união com as outras pessoas existe como consequência da união que nós temos com Cristo. É fato que ele nos chama a amar da mesma forma que ele nos amou. Felizmente, é ele quem nos capacita a obedecer.

Amar como Deus amou é amar o imperfeito, o imerecedor, o irritante, o incômodo, o que nos insulta, o que não nos faz bem (Lc 6.32-35; Mt 5.46). Se é para amarmos os outros como ele nos amou, esse amor deve ser sacrificial, envolvendo arrependimento, perdão e reconciliação com as pessoas difíceis (Ef 5.1-2). O mundo deve ver que Jesus está trabalhando em nós e nos transformando diariamente — e essas são amostras abundantes da graça de Deus sobre o pecado. Isso é muito diferente do que o mundo faz com seus relacionamentos árduos e descartáveis.


Este artigo é um trecho adaptado com permissão do livro Unidas contra a rivalidade feminina, de Ana Paula Nunes, Editora Fiel (clique para comprar pela pré-venda).

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[1] D. A. Carson, The Gospel According to John (InterVarsity Press, 1991), p. 568.

[2] C. S. Lewis, Cartas de um diabo ao seu aprendiz (São Paulo: Thomas Nelson, 2017).


Autor: Ana Paula Nunes

Ana Paula Nunes é formada em Comunicação Social e pós-graduada em Política e Estratégia. Em teologia é pós graduada em Teologia Bíblica pelo CPAJ e possui cursos em Apologética e Cosmovisão Reformada no Seminário Presbiteriano de Brasília. Congrega na Igreja Presbiteriana e é editora do Literatura & Redenção e Sherlocka Holmes. Costuma escrever outros textos em sherlockaholmes.medium.com.

Ministério: Editora Fiel

Editora Fiel
A Editora Fiel tem como missão publicar livros comprometidos com a sã doutrina bíblica, visando a edificação da igreja de fala portuguesa ao redor do mundo. Atualmente, o catálogo da Fiel possui títulos de autores clássicos da literatura reformada, como João Calvino, Charles Spurgeon, Martyn Lloyd-Jones, bem como escritores contemporâneos, como John MacArthur, R.C. Sproul e John Piper.

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