O ensino bíblico é central na vida de toda mulher cristã. Desde o Antigo Testamento, vemos Deus instruindo seu povo a aprender e guardar seus mandamentos. Em Deuteronômio 6.6-7, lemos: “Estas palavras que hoje te ordeno estarão no teu coração; tu as ensinarás diligentemente a teus filhos”. O ensino não é opcional; ele é parte de nosso relacionamento com Deus e de nossa obediência à sua Palavra.
Deus nos chama a ensinar sua Palavra de forma diligente, com profundo zelo e dedicação. Na continuação dessa passagem, vemos que esse ensino deveria ser integrado à vida cotidiana, não se limitando a momentos ou ambientes específicos, como salas de aula, reuniões formais ou cultos. Pelo contrário, o ensino deveria acontecer no dia a dia, enquanto as tarefas diárias eram realizadas.
Quando chegamos ao Novo Testamento, vemos como Jesus incorporou essa realidade em seu ministério. Embora tenha ensinado no templo e na sinagoga, Jesus frequentemente ensinava em momentos comuns, recorrendo a elementos do cotidiano para anunciar as verdades eternas ao coração de seus discípulos e de todos os que o ouviam. Jesus era um mestre, e sua vida foi dedicada ao ensino das Escrituras e à formação de seus discípulos.
Olhando para o ministério de Jesus, vemos que ele ensinou mulheres, algo incomum naquela época. Em Lucas 10.38-42, lemos que Maria estava assentada aos pés de Jesus, ouvindo seus ensinamentos. Essa postura de estar aos pés de alguém indicava a condição de discípulo. Em Atos 22.3, por exemplo, o apóstolo Paulo declarou que foi “educado rigorosamente na Lei de nossos antepassados, aos pés de Gamaliel”, o que indica sua posição de aprendiz de Gamaliel. Isso reforça que, ao permitir que Maria se assentasse aos seus pés, Jesus não privava as mulheres de serem suas discípulas e de aprenderem as verdades eternas. Uma prova dessa realidade é que, embora Marta se ocupasse das panelas enquanto Maria estava assentada aos pés de Jesus, em João 11, vemos a mesma Marta fazendo uma profunda confissão de fé: “Sim, Senhor, respondeu ela, eu tenho crido que tu és o Cristo, o Filho de Deus que devia vir ao mundo” ( Jo 11.27). Tal declaração, que muito se assemelha à do apóstolo Pedro em Mateus 16.16 — “Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo” —, evidencia que, assim como Maria, Marta também aprendeu com o Mestre.
Após a sua ressurreição, Jesus ordenou aos seus discípulos: “Portanto, ide e fazei discípulos de todas as nações […] ensinando-os a guardar todas as coisas que vos tenho ordenado” (Mt 28.19-20). A palavra discípulo significa “aprendiz”. Enquanto esteve na terra, Jesus ensinou e fez aprendizes de suas verdades eternas e, antes de partir, ordenou que seus aprendizes formassem outros aprendizes. Isso significa que nós, na condição de discípulas de Cristo, temos o dever de ensinar a outras pessoas aquilo que aprendemos. Esse chamado, portanto, não é exclusivo para os homens; ele também inclui as mulheres.
Quando observamos a expansão da igreja no livro de Atos e nas Epístolas, fica evidente que as mulheres foram encorajadas a ensinar outras mulheres, conforme já vimos em Tito 2. Além disso, lemos relatos como o de Priscila, esposa de Áquila, que, na companhia de seu marido, desempenhou papel ativo no ensino e no discipulado. Assim, eles ajudaram Apolo, um homem eloquente e poderoso nas Escrituras, a ter um entendimento mais completo do evangelho (At 18).
O fato de Priscila ser mencionada ao lado de Áquila indica sua relevância no ministério de ensino. Juntos, eles “lhe expuseram mais precisamente o caminho de Deus” (At 18.26). Priscila utilizou seu conhecimento não para se exaltar, mas para ajudar outros a conhecerem melhor a Deus.
Não poderia deixar de citar Loide e Eunice, mencionadas pelo apóstolo Paulo (2Tm 1.5) como mulheres fiéis que ensinaram o jovem Timóteo, que mais tarde se tornaria pastor. Esse ensino não foi algo casual, mas fruto de uma vida de devoção e fidelidade ao Senhor. Elas ensinaram Timóteo porque conheciam profundamente a Deus e estavam dispostas a dedicar a vida a servir ao Senhor. Da mesma forma, hoje somos chamadas a nos preparar para ensinar, sabendo que Deus pode usar nossas palavras para impactar as futuras gerações, assim como fez com essas mulheres notáveis.
Todos os textos mencionados até aqui mostram que o ensino está disponível para mulheres que amam a Deus e estão dispostas a servir à sua igreja. Porém, é importante destacar que, com base no ensino apostólico, é evidente que as mulheres não devem governar ou pastorear a igreja. Isso não está em discussão aqui. Contudo, como herdeiras da mesma graça e recipientes dos dons do Espírito Santo, as mulheres podem e devem usar seus dons, inclusive o de ensino, para a edificação do corpo de Cristo. As Escrituras nos apresentam uma visão abrangente do corpo de Cristo, segundo a qual tanto homens quanto mulheres são chamados a compartilhar o conhecimento de Deus, de acordo com seus dons e oportunidades.
O artigo acima é um trecho adaptado e retirado com permissão do livro: Mulheres que caminham juntas, Organizado por Cláudia Lotti e Renata Cavalcanti, em breve pela Editora Fiel.
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