“O pecado original está em nós como a barba. Barbeamo-nos hoje, parecemos apresentáveis e nosso rosto está limpo; amanhã nossa barba cresce de novo, e não para de crescer enquanto permanecemos na terra. De maneira semelhante, o pecado original não pode ser extirpado de nós; ele brotará em nós enquanto vivermos.” — Martinho Lutero
“Sabemos, porém, que a lei é boa, se alguém dela se utiliza de modo legítimo.” (1Tm 1.8)
A lei
Todos sabemos o que é lei. Conhecemos as leis de trânsito, as leis e regras de uma escola ou empresa, as leis relacionadas ao comércio etc. Sem lei, não há ordem. Sem lei, ninguém poderá dizer que matar um ser humano é errado. É a lei que diz o que é e o que não é errado, o que é permitido e o que é proibido. Ainda que as leis humanas sejam imperfeitas, “a lei do Senhor é perfeita e restaura a alma” (Sl 19.7)
Deus nos apresenta dois tipos de lei no Antigo Testamento. É importantíssimo que entendamos isso. A primeira é a lei moral, e a segunda é a lei cerimonial. Uma ainda está em voga, enquanto a outra deixou de existir e de funcionar desde o momento em que Cristo ressuscitou.
A lei moral
A lei moral é retratada nos Dez Mandamentos. Essas são leis que nunca deverão acabar, leis que estarão vigentes enquanto seres humanos existirem. Vamos ler os Dez Mandamentos?
Então, falou Deus todas estas palavras: Eu sou o Senhor, teu Deus, que te tirei da terra do Egito, da casa da servidão. Não terás outros deuses diante de mim.
Não farás para ti imagem de escultura, nem semelhança alguma do que há em cima nos céus, nem embaixo na terra, nem nas águas debaixo da terra. Não as adorarás, nem lhes darás culto; porque eu sou o Senhor, teu Deus, Deus zeloso, que visito a iniquidade dos pais nos filhos até à terceira e quarta geração daqueles que me aborrecem e faço misericórdia até mil gerações daqueles que me amam e guardam os meus mandamentos.
Não tomarás o nome do Senhor, teu Deus, em vão, porque o Senhor não terá por inocente o que tomar o seu nome em vão.
Lembra-te do dia de sábado, para o santificar. Seis dias trabalharás e farás toda a tua obra. Mas o sétimo dia é o sábado do Senhor, teu Deus; não farás nenhum trabalho, nem tu, nem o teu filho, nem a tua filha, nem o teu servo, nem a tua serva, nem o teu animal, nem o forasteiro das tuas portas para dentro; porque, em seis dias, fez o Senhor os céus e a terra, o mar e tudo o que neles há e, ao sétimo dia, descansou; por isso, o Senhor abençoou o dia de sábado e o santificou.
Honra teu pai e tua mãe, para que se prolonguem os teus dias na terra que o Senhor, teu Deus, te dá.
Não matarás. Não adulterarás. Não furtarás.
Não dirás falso testemunho contra o teu próximo.
Não cobiçarás a casa do teu próximo. Não cobiçarás a mulher do teu próximo, nem o seu servo, nem a sua serva, nem o seu boi, nem o seu jumento, nem coisa alguma que pertença ao teu próximo. (Êx 20.1-7; veja Dt 5.7-21)
Deus deu essas leis para Moisés no Monte Sinai. Deus as escreveu em duas placas de pedra e ordenou que Moisés as lesse e ensinasse ao povo. Originalmente, os Dez Mandamentos se chamavam “As Dez Palavras” — ou, simplesmente, “Decálogo”. Êxodo 31.18 diz que o próprio dedo de Deus escreveu estas leis:
E, tendo acabado de falar com ele no monte Sinai, deu a Moisés as duas tábuas do Testemunho, tábuas de pedra, escritas pelo dedo de Deus.
Quando Moisés desceu do Monte Sinai para ler e entregar as tábuas ao povo, horrorizou-se com a idolatria que havia tomado conta. Muito irritado, acabou quebrando as duas tábuas de pedra que Deus dera e sobre as quais escrevera com seu próprio dedo:
Logo que se aproximou do arraial, viu ele o bezerro e as danças; então, acendendo-se-lhe a ira, arrojou das mãos as tábuas e quebrou-as ao pé do monte… (Êx 32.19)
Por compaixão, em uma segunda ocasião em que Moisés esteve com o Senhor, este reescreveu as leis em placas de pedra feitas pelo libertador de Israel:
Então, disse o Senhor a Moisés: Lavra duas tábuas de pedra, como as primeiras; e eu escreverei nelas as mesmas palavras que estavam nas primeiras tábuas, que quebraste. (Êx 34.1)
Assim, Deus deu as chamadas leis morais, aquelas que deveriam ser seguidas pelo povo em todo tempo e lugar. As leis morais não foram abolidas, ao contrário das leis cerimoniais.
Leis cerimoniais
As leis cerimoniais são aquelas relacionadas ao culto no tabernáculo ou no templo em Israel. Via de regra, elas apontavam para Jesus Cristo. Normalmente, estão relacionadas ao sangue, aos cordeiros, aos sacrifícios, aos alimentos proibidos etc. São leis relacionadas à vinda de Cristo e que apontavam para a santidade e seriedade com que o povo devia viver (há vários exemplos no livro de Levítico, como a lei do holocausto [Lv 6.8], a lei da oferta pelo pecado [Lv 6.24], a lei da oferta pela culpa [Lv 7.1], a lei das ofertas pacíficas [Lv 7.11] e outras)
Essas leis cerimoniais duraram até a morte de Cristo na cruz do Calvário, após o que todas elas foram abolidas. Visto que o perfeito Cordeiro de Deus já se manifestou, não há mais a necessidade de leis que apontem para ele, nem para o seu sangue, nem para o seu sacrifício, nem para o alimento puro que ele é. Nenhum cordeiro, sangue ou sacrifício é ainda necessário. É por isso que não sacrificamos animais após a morte e ressurreição de nosso Salvador.
Quando o véu no Templo de Jerusalém se rasgou de alto a baixo, toda a lei cerimonial do Antigo Testamento (especialmente localizadas no livro de Levítico, mas não só nele) foi abolida. No entanto, elas continuam nos lembrando o nível de seriedade que Deus exigia daqueles que desejam aproximar-se dele. Graças a Deus, nenhum sacrifício é mais necessário, pois Jesus Cristo foi finalmente sacrificado em nosso lugar.
Com a obra perfeita da redenção, Jesus Cristo aboliu todas as leis cerimoniais, mas não as leis morais.

Este artigo é um trecho retirado e adaptado com permissão do livro Um guia para a nova vida: doutrinas básicas para o discipulado cristão, de Wilson Porte Jr., Editora Fiel.
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