quinta-feira, 12 de dezembro
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A alternativa: por que não implantarmos igrejas?

Em vez de acrescentar novos cultos ou locais, quando os números aumentam, por que não implantar igrejas simplesmente? O único motivo para não implantar igrejas provém de duas falhas: ou a igreja falhou na obra discipuladora de treinar mais presbíteros e diáconos, ou a igreja decidiu adaptar-se à cultura da fama e do consumismo. Deixe-me começar com a segunda falha.

Adaptando-se à Cultura

Hoje em dia, as pessoas exigem excelência. Descartamos a mediocridade – o pianista desajeitado, as almofadas desgastadas dos bancos da igreja, o pregador mediano. Os estúdios da Sony têm determinado nossas expectativas com relação à qualidade do som. As lojas de decorações, como a Pottery Barn, têm elevado o nosso senso de bom gosto em decoração. E todo mundo, desde Chris Rock até Ronald Reagan tem nos ensinado o que significa ser um comunicador eficiente. Qualquer coisa que seja inferior não é apenas questionável esteticamente, mas também nos distrai emocionalmente. Eu posso desejar cantar louvores a Deus, mas as gravações profissionais das músicas que ouço no carro têm me ensinado com o que a boa música se parece; e agora eu tenho problemas no simples fato de me concentrar enquanto o pianista toca os acordes básicos e estridentes dos hinos – pelo menos, isso é mais difícil para mim do que o era para meu bisavô. Eu possodesejar ouvir o pregador, mas, durante toda a semana, estou rodeado pelos comerciais embusteiros da TV e pelos programas de auditório, e esse pregador diz “hum” dez vezes por minuto e não diz nada engraçado. Não consigo ficar concentrado. Então, entre escolher a ele ou a alguém carismático, de trinta e cinco anos, um fenômeno de um programa de T.V de qualidade; eu fico com o fenômeno, mesmo que isso signifique vê-lo através da tela.

Considero essas coisas como realidades sociológicas. Hoje, as pessoas são consumistas – e ponto final. Gostar ou não gostar, essa é uma característica inata da consciência social dos visitantes e membros que entram nos templos de nossas igrejas. Você sabe que isso, de fato, acontece, já que muitos livros sobre crescimento de igreja abordam temas como “excelência em nossas igrejas” e “não seja um pregador chato” com a mesma urgência de uma epístola Paulina.

Entretanto, optar por uma igreja multilocalizada[i] em detrimento da implantação de igrejas é decidir adaptar-se a essa mentalidade consumista. É dizer a esses consumidores que estão entrando pelas nossas portas: “Sim, você tem a autoridade para dizer como a igreja deve ser. Não se preocupe com o arrependimento e com o senhorio de Cristo, pelo menos nessa área de sua vida. Não importam todos os benefícios da união que a metáfora de 1 Coríntios 12, sobre o corpo de Cristo, possa prometer. Diga-me o que você quer! Deixemos que sua experiência sensorial reine aqui”.

E assim, os esforços para implantar igrejas falham, pois todo mundo prefere o pregador fenômeno em vez do discípulo dele. Quem compra ingressos para a temporada de jogos de um time de beisebol do interior, da quarta divisão, quando pode comprar ingressos para os jogos da primeira divisão pelo mesmo preço?

A fim de dar algum crédito aos sistemas de igrejas multilocalizadas e de cultos múltiplos, reconheço que Deus claramente concede a alguns pregadores um talento maior do que a outros, da mesma forma como alguns jogadores de beisebol se posicionam na base e rebatem a bola muito mais longe do que os outros. E as igrejas fiéis deveriam buscar maneiras de permitir que os seus melhores batedores, que lançam a bola para fora do estádio, façam melhor uso de seus dons e lancem suas bolas o mais longe possível, cada vez mais. Quem discutirá com Jesus quando Ele que afirma que o homem que recebeu cinco talentos deve ter a oportunidade de transformá-los em dez, quando comparado ao homem que possui um ou dois talentos.

O que é especificamente desafiador em nossos dias e em nossa era é que, do que jeito que a mídia moderna tem sido, todo mundo exige ter um super batedor em sua própria franquia. E o resultado disso? Mega-igrejas. Na verdade, cada vez menos, entramos nas ligas de beisebol para jogar por nós mesmos. Contentamo-nos em assistir aos jogadores profissionais – Pergunte aos músicos profissionais sobre a aptidão que o povo possui para música, hoje em dia, comparada com a aptidão que possuía cinqüenta anos atrás, e você ouvirá sempre a mesma resposta: atualmente, poucas pessoas são capazes de cantar ou tocar um instrumento, porque os padrões de profissionalismo e desempenho nos levam a desistir de ter participação na música por nós mesmos. Por que se aborrecer aprendendo a tocar violoncelo quando se pode facilmente ouvir ao próprio Yo-Yo Ma?

O problema é que o Cristianismo, que para mim significa ser membro da igreja, é um esporte participativo, não um esporte para assistirmos. Não é apenas aparecer aos domingos para assistir ao sucesso dos batedores. Em minha perspectiva pessoal, o Cristianismo diz respeito a aparecer nos domingos e dar louvores a Deus à medida que encorajo meus irmãos e irmãs, acrescentando o meu canto ao deles, reforço o louvor corporativo de nossa igreja a Deus e trabalho ativamente para aplicar a Palavra de Deus à minha vida enquanto o pastor apresenta a pregação. O Cristianismo, a meu ver, diz respeito ao meu envolvimento com os membros de minha igreja ao longo da semana, à medida que ecoamos o ministério da Palavra, aqui e ali, vez após vez, em nossa vida comunitária. E na sua perspectiva, o Cristianismo diz respeito ao seu envolvimento em todas essas coisas. Em outras palavras, o seu e o meu envolvimento com o time da quarta divisão, associado aos nossos 45 erros por jogo, é, na verdade, mais importante para o nosso discipulado cristão do que sentar nas arquibancadas assistindo à todas as estrelas apresentarem sua mágica empolgante. No entanto, quando os líderes de igreja decidem acrescentar outros cultos ou lugares à igreja, em vez de plantar novas igrejas, isso bem pode significar que eles falharam em ensinar aos membros de sua igreja essas simples lições.

Mas as pessoas podem não participar de uma igreja com os jogadores da primeira divisão e mesmo assim se tornarem ativamente envolvidas? É lógico que podem. O envolvimento ativo na igreja deveria caracterizar tanto os membros das igrejas grandes quanto os das igrejas pequenas. O meu ponto de vista é: quando um templo que tem capacidade para acomodar 500 pessoas está lotado é porque, devido ao bom ensino e ao discipulado dos presbíteros ao longo do tempo, deve haver, entre esses 500 membros, cristãos e presbíteros suficientemente maduros para reconhecer que todos se beneficiarão, e o reino de Cristo, de fato, avançará, se 100 ou 200 desses 500 membros se separarem do grupo e implantarem uma nova igreja em outra região da cidade. Em outras palavras, membros como Joe e Suzy poderiam apreciar sentar-se diante da fantástica pregação do Pr. Mike e do louvor vívido da banda de música, mas eles também deveriam ter sido ensinados pelo Pr. Mike, e pelos outros presbíteros, que eles, na verdade, cresceriam mais como cristãos, e o testemunho de Cristo alcançaria outros lugares da terra, se eles se separassem da igreja, junto com outros 100, e implantassem uma igreja em sua própria vizinhança, liderados pelo cooperador do Pr. Mike, que é menos talentoso. Desse modo, 100 assentos da igreja ficariam livres e o Pr. Mike teria espaço para crescer novamente. E não somente isso, mas a cidade então teria duas torres de farol brilhando, não apenas uma. A igreja estaria se espalhando. A Grande Comissão estaria sendo cumprida. Agora imagine se as igrejas e os pregadores realmente talentosos repetissem esse processo 40 vezes, ao longo de 40 anos, e salpicassem a cidade com mais 40 igrejas supridas com presbíteros, diáconos e membros comprometidos. Isso não seria preferível em vez de uma igreja multilocalizada; um grande megálito de cultos múltiplos, dependendo de um único pastor super-star para ruir ou ficar de pé?

Algumas pessoas dirão: “Ah, mas assim as pessoas vão, aos poucos, esvaziar a igreja-mãe”. Sim, isso realmente acontece numa época em que as igrejas se renderam ao consumismo em todas as áreas, desde a escolha das músicas até aos seus logotipos chamativos; e os membros nunca foram equipados com a eclesiologia bíblica ou com uma mentalidade focada no reino de Deus.

Falhando em Treinar Líderes 

Este tópico nos leva de volta à primeira falha que descrevi no início – a falha em treinar mais presbíteros e pregadores. Nossa igreja fez uma descoberta maravilhosa depois de implantarmos nossa primeira igreja dois anos atrás: membros que eram jogadores periféricos em nossa igreja se uniram à igreja implantada e foram capazes de se tornar os jogadores-chave nela. Por exemplo, estou pensando em um irmão que não era presbítero em nossa igreja, mas quando colocado na situação de implantar uma igreja, desenvolveu-se e tornou-se um presbítero. E agora ele, sua família e até seus vizinhos não crentes (eu espero) estão se beneficiando de suas responsabilidades espirituais mais intensas com as quais ele vem se ocupando naquela igreja, na função de presbítero. Em outras palavras, a implantação de igrejas é mais útil para a formação de futuros presbíteros e pregadores do que as igrejas multilocalizadas. E não somente isso, mas quando a equipe pastoral e os líderes leigos deixam uma igreja para implantar outra, eles criam um vazio na igreja-mãe para que outros se desenvolvam e o preencham.

Mas como podemos administrar com sabedoria a questão do pregador super-star que tem cinco talentos? Bem, se esse pastor for realmente tão bomtãounido ao Espírito Santo, isso transformará os crentes novos em cristãos maduros, que receberão com alegria os desafios ligados à implantação de uma igreja (isso se ele os tiver equipado com uma boa eclesiologia e uma mentalidade focada no reino de Deus). No entanto, se a pregação dele apenas tiver a aparência de boa porque ele confia nos artifícios carnais, ou seja, se ele for apenas um animador de platéia, isso não transformará as pessoas; elas não estarão desejosas de acompanhar a implantação de uma igreja, e a igreja não encontrará uma solução fácil para o seu “crescimento”. As pessoas oamarão, e amarão o seu humor e o seu carisma. E o problema está no fato de que elas não terão aprendido a amar a Jesus.

Pastor, se você pensa que implantar uma congregação fora de sua igreja não funcionará porque as pessoas da igreja o amam, então, é provável que você esteja certo. Elas realmente amam, e isso pode não dar certo. O problema é que você não é um pastor tão extraordinário quanto pensava ser, porque é a você que elas amam.

Implante Igrejas Sempre

Em primeiro lugar, a igreja pode administrar com sabedoria os talentos de seu pastor super-star implantando igrejas sempre. Pelo menos, implantando algumas congregações, a igreja poderá tentar esvaziar alguns assentos, de forma que os não crentes e as ovelhas mais fracas possam chegar e ocupá-los novamente. Penso que isso foi o que Deus finalmente teve que fazer com a igreja de Jerusalém. Ele teve que forçá-los a cumprir a grande comissão, dispersando-os por meio da perseguição. A vida na igreja única de Jerusalém, sem dúvida, era muito mais confortável do que a vida dentro de uma caverna. Os apóstolos eram pastores super-stars, se é que podemos dizer que algum dia houve pastor super estar. Os problemas surgiram, como o da questão de distribuição de alimentos, mas as soluções foram rapidamente encontradas com homens mais maduros, cheios do Espírito Santo e de sabedoria. Homens como Felipe e Estevão. Não podemos deixar homens como esses irem embora, podemos? Mas, aparentemente, Deus tinha outros planos: “Igreja, vocês acham que eu preciso de Estevão para fazer a minha obra? Não, não preciso. Estou enviando-o para casa. Igreja, vocês acham que vocês precisam de Felipe? Não, não precisam. Estou enviando-o para longe.

Você há de convir comigo que a implantação de uma nova igreja pode produzir uma grande ruptura na vida do corpo. Não é fácil cortar um braço. Entretanto, os exemplos em toda a Bíblia me dizem que Deus não tem medo de criar algumas pequenas rupturas na igreja, de vez em quando, a fim de instigar o seu povo a obedecer sua missão. Uma frase famosa de Thomas Jefferson diz: “A árvore da liberdade deve ser regada de quando em quando com o sangue dos patriotas e dos tiranos”. Quando se trata da grande comissão, eu ouso dizer, Deus adota uma filosofia semelhante a essa. Portanto, deveríamos buscar preservar os casulos de nossas igrejas a qualquer preço?

Construa um Prédio Maior

Em segundo lugar, uma igreja pode administrar com sabedoria os talentos de seu pastor super-star construindo um templo maior. Se ela possui os recursos financeiros e tem um plano razoável para pastorear todo o rebanho com esse aumento de tamanho, ótimo! Ela se tornará um coração ainda maior para bombear ainda mais sangue (frase do Mark Dever).

Use a Tecnologia

Em terceiro, a igreja pode administrar sabiamente os talentos de um pastor super-star por meio de, bem, nos anos setenta, isso poderia ser feito por meio das fitas cassetes e do ministério de rádio; nos anos noventa através do ministério de CDs; e hoje, pelo ministério de mp3.

Houve muitos semestres no seminário, quando eu ouvia a um ou dois sermões de John Piper por semana, em meu aparelho de CD portátil. A igreja onde eu era discipulado, fisicamente localizada em um ponto em Louisville, Kentucky, beneficiou-se grandemente dos dons incomuns desse homem. Mas depois, apropriei-me desses benefícios e coloquei-os em prática em minha igreja local, que era bem menor e mais insignificante. Não precisei freqüentar a igreja dele para crescer por intermédio de seu ministério. Dito isso, eu pessoalmente não creio que a maioria dos pastores das mega-igrejas e das igrejas multilocalizadas possui o mesmo dom do Espírito Santo que John Piper possui. Em muitos casos, receio que outras coisas estejam contribuindo para propagar a popularidade deles. E não apenas isso, de maneira implícita, eles acabam retrocedendo àquela concepção de Cristianismo de “espectadores de espetáculos”.

[i] Uma igreja multilocalizada é uma igreja que tem os seus sermões transmitidos para vários locais diferentes ao mesmo tempo, através de transmissão via satélite, ou seja, é uma igreja única, na qual a membresia se reúne em lugares diferentes, ao mesmo tempo. Esse tipo de igreja é um fenômeno crescente nos Estados Unidos.

 

Traduzido por: Waléria Coicev

Do original em inglês: The Alternative to Multi-Site: Why Don’t We Plant? Com a permissão do ministério 9Marks.


Autor: Jonathan Leeman

Jonathan Leeman é graduado em Jornalismo, possui mestrado em Divindade pelo Southern Baptist Seminary (EUA) e Ph.D. em Eclesiologia. É diretor de comunicação do Ministério 9Marks.

Parceiro: 9Marks

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O ministério 9Marks tem como objetivo equipar a igreja e seus líderes com conteúdo bíblico que apoie seu ministério.

Ministério: Ministério Fiel

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Ministério Fiel: Apoiando a Igreja de Deus.

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