sábado, 14 de dezembro
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Altar do bezerro

Gilbert K. Chesterton apontou que o problema do homem que não crê em Deus, não é que ele tenha parado de crer, mas sim que esse homem crê em qualquer coisa. Moisés subiu ao monte Sinai para receber a Lei de Deus. Mas, como Moisés demorou a retornar, o povo israelita decidiu construir um bezerro de ouro. Ao regressar, Moisés encontrou o povo cultuando tal bezerro (Êxodo 32). O fato é que ou o ser humano cultua a Deus ou ele se devota a algum bezerro que lhe pareça reluzir. Toda pessoa tem um lugar supremo, e apenas um, no centro do seu ser e existência. Esse lugar é na verdade um altar – um altar último. E ao ocupar esse altar o ser humano oferece sua maior devoção – sua vida. A questão não é se alguém tem ou não tem esse altar. A questão é o que está nesse altar – Deus ou um bezerro de ouro?

O ser humano não consegue viver sem algo que dê significado ao seu ser e existência. Ele precisa de algo que lhe provoque uma antecipação de realização e satisfação. A vida se torna vazia e insuportável sem esse valor. O altar não pode ficar vazio. Mas, nessa necessidade inevitável, contida ou expressa, um erro é comumente cometido. O ser humano concede uma dimensão última àquilo que é contingente e fortuito, buscando em algo que é menor que a vida o “atender” o anseio da alma ao invés de buscar no que é maior que a vida… e morte. O ser humano transveste de Deus aquilo que não é Deus. É um trágico equívoco. Da sua profunda experiência com esse drama, Blaise Pascal alertou que o abismo do vazio interior “pode ser preenchido apenas por um objeto infinito e imutável, em outras palavras, por Deus”.

Jacques Ellul, professor de Sociologia e História na Universidade de Bordeaux, falecido em 1994, apontou corretamente que a idolatria “não tem desaparecido, mas longe disso… há os deuses secretos que assediam e seduzem muito eficazmente, porque eles não declaram abertamente serem deuses…” Sem Deus, essa sedução sempre acontece. Nenhum ser humano deixa vazio o seu altar supremo. O apóstolo Paulo disse que os seres humanos “dizendo-se sábios, tornaram-se loucos, e trocaram a glória do Deus imortal por imagens feitas segundo a semelhança do homem…” (Romanos 1:22-23)

No abandonar Deus, a ocupação desse altar é concedida a uma variedade de bezerros. Se para uns é um objeto religioso, para outros, atualmente, são alternativas seculares. Para o adolescente, dominado pela mídia e moda, o ocupante do altar é geralmente um artista ou esportista. Para o adulto, pode ser o dinheiro. Para o devoto da ciência, o ocupante do altar é ela própria. Outros endeusam uma causa, como a ecologia. As opções de deuses se multiplicam em formas tais como poder, profissão, status, romance, família, esporte, sexo, drogas etc. Eis a questão – qual é o bezerro no altar supremo?

Na esfera da religião, o erro do bezerro é um velho conhecido. Por isso, o mandamento antigo proíbe categoricamente a construção de qualquer imagem ligada ao culto – “não farás para ti… nenhuma imagem…” (Êxodo 20:4). É oportuno observar que Deus não deixou nenhum dado sobre a aparência de Cristo. Se houvesse essa informação, absurdos idólatras iconográficos aconteceriam. O coração humano é rápido e sutil na arte de transferir a divindade para um objeto que possa manipular ou possuir, e que se molde às suas expectativas e projeções.

É relevante notar que a narrativa informa que “o povo, ao ver que Moisés demorava a descer do monte, juntou-se ao redor de Arão e disse… faça para nós deuses que nos conduzam, pois a esse Moisés… não sabemos o que lhe aconteceu” (Êxodo 32:1). A demora foi crucial para o erro do bezerro. Moisés foi o líder que Deus escolheu para conduzir o povo. Ainda que Moisés fosse o homem de Deus para aquela tarefa, Moisés não era Deus, mas um homem. No entanto, sem a presença visível de Moisés, o povo desconsiderou Deus. Devido a visão equivocada que tinha de Deus, o povo acabou na miséria de cultuar um bezerro. Eles queriam Deus numa manifestação sob o controle de seus sentidos. Seria um deus condicionado à percepção, manipulação, concepção ou expectativa deles. Na verdade, os deuses no altar humano são consequências do domínio do ego em contraposição ao domínio de Deus. Por isso, o ser humano transfere o seu anseio pelo divino para algo da sua projeção e expectativa, e termina nas mãos daquilo que é imanente e menor que a vida, seja algo religioso ou secular.

O antídoto para esse erro é ter uma compreensão nítida de quem Deus é – Deus que transcende o universo humano. Um Deus acima e além da vida e da morte. É preciso uma visão de Deus que torne irrelevante e desnecessário qualquer bezerro. E somente o conhecer do Deus que transcende a finitude humana pode trazer a satisfação final.

O fato é que os bezerros de ouro precisam ser abandonados ou não há encontro com Deus, portanto, não há satisfação plena. Pela fé, em arrependimento, o ego humano e suas idolatrias são crucificados com Cristo e o encontro com Deus acontece – o Deus suficiente. E no poder do Cristo ressurreto nasce uma nova vida com Deus. “…Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo…” (II Coríntios 5:19) E um novo cântico e preenchimento chegam à vida.


Autor: Jesse Campos

Ministério: Ministério Fiel

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Ministério Fiel: Apoiando a Igreja de Deus.

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