domingo, 15 de dezembro
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Como a regeneração necessariamente precede a conversão

Antes de explicar o porquê de ser assim, os termos “regeneração” e “conversão” precisam ser brevemente explanados.

Regeneração significa que alguém nasceu de novo ou nasceu do alto (João 3.3, 5, 7, 8). O novo nascimento é a obra de Deus, de tal modo que todo aquele que é nascido de novo é “nascido do Espírito” (João 3.8). Ou, como diz 1 Pedro 1.3, é Deus quem “segundo a sua muita misericórdia, nos regenerou para uma viva esperança”. O meio que Deus usa para conceder essa nova vida é o evangelho, pois os crentes foram “regenerados não de semente corruptível, mas de incorruptível, mediante a palavra de Deus, a qual vive e é permanente” (1 Pedro 1.23; cf. Tiago 1.18). A regeneração ou o nascer de novo é um nascimento sobrenatural. Assim como não podemos fazer nada para nascermos fisicamente – isso simplesmente acontece conosco! – assim também não podemos fazer nada para causar o nosso renascimento espiritual.

A conversão ocorre quando pecadores voltam-se para Deus em arrependimento e fé para salvação. Paulo descreve a conversão dos tessalonicenses em 1 Tessalonicenses 1.9: “pois eles mesmos, no tocante a nós, proclamam que repercussão teve o nosso ingresso no vosso meio, e como, deixando os ídolos, vos convertestes a Deus, para servirdes o Deus vivo e verdadeiro”.  Os pecadores são convertidos quando se arrependem de seus pecados e voltam-se, em fé, para Jesus Cristo, confiando nele para o perdão de seus pecados no Dia do Juízo.

Paulo argumenta que os descrentes estão mortos em “delitos e pecados” (Efésios 2.1; cf. 2.5). Eles estão sob o domínio do mundo, da carne e do diabo (Efésios 2.2-3). Todos nascem nesse mundo como filhos ou filhas de Adão (Romanos 5.12-19). Portanto, todas as pessoas entram nesse mundo como escravas do pecado (Romanos 6.6, 17, 20). A vontade delas está em escravidão ao pecado e, portanto, elas não têm inclinação alguma ou desejo algum de fazer o que é certo ou de se converter a Jesus Cristo. Deus, contudo, por conta de sua maravilhosa graça, “nos deu vida juntamente com Cristo” (Efésios 2.5). Essa é a forma de Paulo dizer que Deus regenerou seu povo (cf. Tito 3.5). Ele soprou vida em nós onde não havia nenhuma antes, e o resultado dessa nova vida é a fé, pois a fé também é “dom de Deus” (Efésios 2.8).

Muitos textos de 1 João demonstram que a regeneração precede a fé. Os textos são os que seguem: “Se sabeis que ele é justo, reconhecei também que todo aquele que pratica a justiça é nascido dele” (1 João 2.29). “Todo aquele que é nascido de Deus não vive na prática de pecado; pois o que permanece nele é a divina semente; ora, esse não pode viver pecando, porque é nascido de Deus” (1 João 3.9). “Amados, amemo-nos uns aos outros, porque o amor procede de Deus; e todo aquele que ama é nascido de Deus e conhece a Deus” (1 João 4.7). “Todo aquele que crê que Jesus é o Cristo é nascido de Deus; e todo aquele que ama ao que o gerou também ama ao que dele é nascido” (1 João 5.1).

Nós podemos fazer duas observações a partir desses textos. Primeiro, cada ocorrência do verbo “nascer” (gennaô) está no tempo verbal perfeito, que denota uma ação que precede as ações humanas de praticar a justiça, evitar o pecado, amar a Deus ou crer nele.

Segundo, nenhum evangélico diria que antes de termos nascido de novo teríamos que ter praticado a justiça, pois tal visão ensinaria a justificação por obras. Nem diríamos que primeiro nós evitamos o pecado e, então, nós nascemos de Deus, pois tal visão sugeriria que as obras humanas nos fazem nascer de Deus. Nem diríamos que primeiro nós mostramos um grande amor a Deus e, então, ele nos faz nascer de novo. Certamente que não. Está claro que praticar a justiça, evitar o pecado e amar a Deus são consequências ou resultados do novo nascimento. Mas, se esse é o caso, então temos que interpretar 1 João 5.1 da mesma forma, pois a estrutura do versículo é a mesma que encontramos nos textos sobre praticar a justiça (1 João 2.29), evitar o pecado (1 João 3.9) e amar a Deus (1 João 4.7). Segue-se, então, que 1 João 5.1 ensina que primeiro Deus nos concede uma nova vida e, então, nós cremos que Jesus é o Cristo.

Nós vemos essa mesma verdade em Atos 16.14. Primeiro Deus abre o coração de Lídia e a consequência é que ela passa a prestar atenção e crê na mensagem proclamada por Paulo. Semelhantemente, ninguém pode ir a Jesus em fé a não ser que Deus trabalhe em seu coração e o atraia à fé em Cristo (João 6.44). Mas todos esses que o Pai atraiu e deu ao Filho irão certamente colocar sua fé em Jesus (João 6.37).

Deus nos regenera e, então, nós cremos. Portanto, a regeneração precede a nossa conversão. Assim, nós damos toda glória a Deus pela nossa conversão, pois o nosso voltar-se para ele é inteiramente obra da sua graça.

 

Tradução: Felipe Prestes
Revisão: André Aloísio Oliveira da Silva


Autor: Thomas R. Schreiner

Thomas R. Schreiner serve como pastor de pregação na Clifton Baptist Church em Louisville, Kentucky. Ele é também professor de Novo Testamento no Southern Baptist Theological Seminary e escreveu Romans (Baker, 1998) e Paul, Apostle of God’s Glory in Christ: A Pauline Theology (InterVarsity, 2001), entre muitos outros títulos.

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