sábado, 27 de abril

Como superar o medo?

A arma do poderoso arsenal de Deus: o amor

Como é que uma pessoa supera os medos que restringem suas ações, que obstruem suas conversas e, até mesmo, seus relacionamentos?? Em um capítulo anterior, nós vimos um dos aspectos para se superar um medo específico, o temor de homem. Nós aprendemos que a única maneira de superar o temor de homem é cultivar o temor de Deus. Agora vamos nos focar na arma do poderoso arsenal de Deus que nos ajuda a eliminar o medo: o amor.

Tudo que você precisa é de amor

Quando você pensa sobre medo, talvez você suponha que o oposto do medo é a confiança ou a paz. Mas a Bíblia diz algo muito diferente – ela ensina que o que precisamos não é de mais amor-próprio, mas sim de mais amor pelos outros. Isso porque o oposto do medo não é a confiança ou a paz; o oposto do medo é o amor. A única maneira de superarmos os nossos medos é aprendermos a amar mais do que temer. E isso porque o único poder forte o suficiente para eliminar o medo é o amor: amor por Deus e pelos outros. Isso é o que o apóstolo João nos ensinou em 1 João 4.18: “No amor não existe medo; antes, o perfeito amor lança fora o medo. Ora, o medo produz tormento; logo, aquele que teme não é aperfeiçoado no amor”.

Vamos olhar mais de perto para o conselho de João sobre a superação do medo e tentar ver como ele faz para matar esse poderoso dragão.

A fonte do amor

Para que possamos entender melhor o que João diz sobre medo e amor, precisamos olhar para o contexto da passagem de 1 João 4.18. Nessa parte das Escrituras, ele está falando principalmente sobre o nosso amor por Deus e sobre sermos livres do medo de Deus. Vamos considerar toda a passagem:

E nós conhecemos e cremos no amor que Deus tem por nós. Deus é amor, e aquele que permanece no amor permanece em Deus, e Deus, nele. Nisto é em nós aperfeiçoado o amor, para que, no Dia do Juízo, mantenhamos confiança; pois, segundo ele é, também nós somos neste mundo. No amor não existe medo; antes, o perfeito amor lança fora o medo. Ora, o medo produz tormento; logo, aquele que teme não é aperfeiçoado no amor. Nós amamos porque ele nos amou primeiro. 1 João 4.16-19

O tipo de amor a que João se refere aqui não é apenas o amor que é comum à maioria das pessoas. Esse poderoso amor vem de uma única fonte: Deus. Apesar de todas as boas coisas virem de Deus por meio de sua graça comum (incluindo o amor que incrédulos têm um pelo outro), o tipo de amor de que João está falando aqui é um amor que só pode ser experimentado em um relacionamento pessoal com Deus. É quando somos atraídos a ele e entramos em comunhão com ele que experimentamos o poderoso amor que derrota o medo, e que é somente dele. Podemos ver as diferenças entre uma relação baseada no medo e uma relação baseada no amor ao considerarmos a diferença entre ser julgado por um estranho e ser julgado por um Pai. Dessa forma, seremos mais capazes de compreender como o amor pode lançar fora o medo.

Deus como Juiz

Eu não consigo imaginar uma visão mais assustadora do que ficar diante de um juiz que é um estranho para mim. Saber que as minhas ações estão prestes a ser julgadas por alguém que não me conhece ou que não me ama seria aterrorizante. Eu não me sentiria nada confortável com a perspectiva de receber uma punição ou um veredito de uma pessoa que pode não me conhecer verdadeiramente e não se importar comigo. Minha vida determinada por outra pessoa? Alguém que provavelmente não me ama ou conhece?

Agora, um juiz terreno não sabe as motivações ou os pensamentos mais íntimos de uma pessoa como Deus sabe. Assim, o pensamento de ficar diante do trono do Grande Juiz de toda a terra, com apenas as minhas débeis e maculadas tentativas de bondade para me recomendar, é ainda mais aterrorizante. Não há absolutamente nada que possamos esconder de Deus, e é assustador pensar no que aconteceria se fôssemos receber a punição que realmente merecemos – um castigo que, para os cristãos, já foi pago pela morte de Jesus na cruz.

Deus como meu Pai

Compare a visão de ficar diante de um juiz com a de ficar diante de um Pai santo com quem você tem um relacionamento. Apesar da santidade do Pai ser perfeita e completamente diferente da sua, é a santidade dele que orienta cada um dos pensamentos e ações que ele tem em relação a você e o faz responder-lhe com misericórdia e compaixão. Agora, imagine que você tenha um irmão mais velho perfeito que sempre agradou a seu Pai. Você sabe que ele nunca fez nada que ofendesse o seu pai, e que sua relação com o Pai nunca foi diminuída de forma alguma. Seu irmão mais velho também se ofereceu para tomar o seu lugar diante do olhar de seu pai, porque ele sabe que tem agradado ao Pai em tudo, e ele também ama você perfeitamente. Você pode se esconder atrás dele e saber que está perfeitamente seguro de qualquer ira ou julgamento.

Há uma grande diferença entre os dois cenários, não é? Qual é a essência dessa diferença? Amor e relacionamento. É nesse tipo de amor, que brota do Pai e do Filho, que todos os crentes podem se esconder. É uma resposta a esse tipo de amor que derrotará todo o medo de ser punido. Ele nos ama muito, e podemos nos regozijar e confiar nisso no dia do julgamento. Quando formos convencidos do seu amor, não mais ficaremos cheios do “medo do que ele poderia fazer conosco”, da mesma forma que não tememos o que ele fará com o seu Filho amado. Esse amor nos leva em direção a ele e aos outros. Ele vence o medo que nos faria fugir de qualquer relacionamento aterrorizadas. Deus não é apenas o Juiz de toda a terra; ele também é o seu Pai amoroso.

Deus é o autor desse amor

A maravilhosa notícia é que esse tipo de amor não é algo que nós temos que desenvolver por conta própria, mas sim o resultado de ele ter nos amado primeiro (1 João 4.19). Esse amor nos alcança porque Deus escolheu derramar seu amor em nossos corações, como Romanos 5.5 diz: “O amor de Deus é derramado em nosso coração pelo Espírito Santo, que nos foi outorgado”. Assim, no contexto de 1 João 4, a preocupação de João era de que não deveríamos ter medo de Deus, mas sim, em resposta ao seu amor, deveríamos amá-lo. É esse amor, que flui dele, que é o único amor forte o suficiente para eliminar o medo da punição.

Mudança de medo para o amor

Pam, cujas depressões eu mencionei no início deste capítulo, crescia à medida que meditava diariamente sobre o amor de Deus por ela. Ela começou a ver que ele a amava apesar de seu pecado. Ela viu que ele estava satisfeito com ela, porque ele estava satisfeito com o seu Filho, e ela havia colocado sua confiança em Cristo e na sua perfeição. Sempre que um pensamento perturbador entrava em sua mente, dizendo: “Você não é realmente salva. Uma pessoa que é realmente salva não peca como você”, ela se lembrava do que João havia escrito, e falava para si mesma: “Eu não estou confiando em minha própria bondade. Eu estou confiando no amor que Deus tem por mim. Porque ele diz que me ama, eu posso confiar que ele me fará passar com segurança por esse momento de dúvida”. Ela começou a confrontar seus pensamentos com toda a Escritura, e não apenas com aqueles versos que a atormentavam. Ela ainda lutava contra o pecado, mas ela percebeu que também tinha um Salvador que já havia resolvido o problema dos seus pecados.

Pam deu passos importantes quando percebeu que a sua preocupação com seus pecados a estavam impedindo de amar a Deus, porque ela estava gastando todo o seu tempo com introspecção duvidosa, quando poderia estar servindo os outros por amor a Deus. Quando se via atolada em um lamaçal de dúvida, ela se lembrava do amor de Deus, confiava que ele seria fiel à sua Palavra e a amaria até o fim, e então, ela procurava oportunidades para servir o próximo. Dessa forma, ela praticava a verdade de que o amor de Deus por ela era o único poder forte o suficiente para superar seus medos e dúvidas.

Pam começou a meditar em versículos como 1 João 4.18 e Romanos 8.15: “Não recebestes o espírito de escravidão, para viverdes, outra vez, atemorizados, mas recebestes o espírito de adoção, baseados no qual clamamos: Aba, Pai”. Ela estudou versículos sobre a paternidade de Deus, apossando-se das verdades que eles ensinavam:

• Isaías 9.6 – O Pai eterno humilhou-se e veio a nós como criança para trazer-nos seu poder, paz e conselho;

• Gálatas 4.6-7 – Deus nos adotou em sua família de modo que podemos chamá-lo de “Abba”. Abba é um termo carinhoso que indica uma relação íntima entre filho e pai. No tempo do Novo Testamento, os escravos não eram autorizados a utilizar esse termo para se dirigir ao chefe da casa, mas filhos queridos eram convidados a fazê-lo;

• 1 João 3.1 – É por causa do grande amor do Pai que somos chamadas filhas de Deus – e isso é exatamente o que nós somos. Não é por causa da nossa bondade, mas somente por causa da bondade dele;

• Lucas 15.18-24 – Na história do filho pródigo, Deus demonstrou seu amor por filhos errantes, acolhendo em sua casa um filho que não tinha direito nenhum a esse amor ou à sua justiça.

Se você, como Pam, tem lutado com a certeza de saber se é ou não realmente filha de Deus, então há alguns passos que você pode tomar para vencer suas lutas. É claro que o primeiro passo é discernir se você é ou não realmente cristã. Você acredita que Jesus Cristo é o Filho de Deus e que ele viveu uma vida perfeita e morreu por seu pecado? Se você creu nisso e confiou nele para salvação, pedindo-lhe que perdoe seus pecados e que a receba em sua família, então você é dele. Se você não tiver certeza disso, então você talvez queira ver o Apêndice A na parte final deste livro.

Se, no entanto, você sabe que confiou em Cristo para a sua salvação, mas está constantemente lutando contra a dúvida, deixe-me encorajá-la a tomar as seguintes medidas:

Ore para que Deus a ajude a ver o quanto ele a ama. Não espere que ele necessariamente faça com que você “sinta” algo especial durante esse tempo de oração. Eu não estou dizendo que sentir ou experimentar o amor de Deus é ruim; apenas não é algo pelo qual fomos orientados a orar. Em vez disso, peça a ele para abrir seus olhos para a sua Palavra e para a obra que ele tem feito em sua vida. Desafie os seus pensamentos perturbadores com respostas da Palavra de Deus. Pense especificamente sobre o amor de Deus, tal como descrito na tabela abaixo. (Você também pode se fazer as perguntas encontradas no Apêndice B, na página 273). Preencha os espaços em branco na parte inferior da tabela com os seus pensamentos temerosos, e então use uma concordância ou os versículo neste livro para ajudá-la a lembrar-se do amor de Deus.

Pensamentos Temerosos

Não tenho certeza da minha salvação.

Ainda luto tanto contra o pecado que não consigo acreditar que eu sou realmente salva (João 3.16).

Tenho medo de morrer.

Eu Falhei com Deus tantas vezes.

Outras pessoas não lutam tanto quanto eu.

Pensamentos Fiéis sobre o Amor de Deus por mim

Deus me convidou para confiar nele e crer. Porque ele me ama, ele prometeu que se eu vier a ele, ele não me lançará fora (Mateus 11.28-30; João 6.37)

Todos os crentes lutam contra o pecado (1 João 1.8). O amor de Deus é forte o suficiente para vencer o meu pecado. O amor de Cristo levou o castigo por todos os meus pecados, e a sua justiça perfeita agora é minha (Romanos 5.8-10,18-19).

Por causa de seu grande amor, Jesus Cristo venceu a morte, sofrendo-a em meu lugar (Hebreus 2.14-15). Ele foi para o Pai antes de mim e prometeu guiar-me em segurança até ele (João 14.1-3). Ele prometeu me dar a vida eterna (João 6.29, 37-40).

Embora o meu coração possa me condenar, o amor de Deus é mais forte que o meu coração (João 10.29-30; 1 João 3.20). Ele prometeu perdoar o meu pecado quando eu pedisse (1 João 1.9), e creio que ele é muito amoroso e incapaz de mentir para mim (Números 23.19).

Deus não ordenou que eu comparasse a minha caminhada com a dos outros (2 Coríntios 10.12). É por causa de seu grande amor que ainda enfrento lutas, e é por causa de seu grande amor que serei bem-sucedida no fim (Romanos 8.28-29).

• Lembre-se de que Deus prometeu cuidar de você, não im- porta quão tentada ou provada você seja, e que seu amor é forte demais para deixá-la sozinha (Salmo 23; 1 Coríntios 10.13; Hebreus 13.5).

• Ter dúvidas não significa que você não é crente. Todos os crentes lutam com as dúvidas, e Deus nos convida a vir até ele apesar de nossas dúvidas. Nossa fé é baseada no caráter de Deus e não em nossos sentimentos sobre a nossa fé. Somente Deus pode nos sustentar durante os nossos momentos de dúvida, e ele nos convida a lançar todas as nossas preocupações sobre ele.2

• Procure alegrar-se e seja grata em todas as situações, especialmente nas mais difíceis, sabendo que Deus está trabalhando em sua vida por causa do seu grande amor (Romanos 8.28-29; Efésios 5.20; 1 Tessalonicenses 5.16,18).

• Confesse seus pecados de medo, preocupação e incredulidade. Agradeça a Deus pelo seu perdão prometido (1 João 1.9).

• Procure ser obediente por alegre gratidão (Romanos 12.6-21).

Usando medidas como essas, Pam foi capaz de crescer em sua confiança e obediência à medida que meditava no amor maravilhoso de Deus por ela e o abraçava. Ela aprendeu a regozijar-se no fato de que o amor de Deus por ela não era baseado no que ela fazia, mas sim na santidade de Deus e em sua escolha soberana. Ela aprendeu que poderia descansar em sua bondade, e você também pode.


Este artigo é um trecho adaptado com permissão do livro Vencendo medos e ansiedades, de Elyse Fitzpatrick, Editora Fiel.

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Autor: Elyse Fitzpatrick

Elyse Fitzpatrick é conselheira bíblica no Institute for Biblical Counseling and Discipleship, na Califórnia, e possui mestrado em Aconselhamento Bíblico no Trinity Theological Seminary. Elyse é coautora do livro Pais Fracos, Deus Forte.

Ministério: Editora Fiel

Editora Fiel
A Editora Fiel tem como missão publicar livros comprometidos com a sã doutrina bíblica, visando a edificação da igreja de fala portuguesa ao redor do mundo. Atualmente, o catálogo da Fiel possui títulos de autores clássicos da literatura reformada, como João Calvino, Charles Spurgeon, Martyn Lloyd-Jones, bem como escritores contemporâneos, como John MacArthur, R.C. Sproul e John Piper.

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