sábado, 14 de dezembro
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Deus existe?

Você pode responder à pergunta “Existe um Deus?” em cerca de 775 palavras? Essa talvez seja a tarefa mais fácil que a Tabletalk já solicitou, uma vez que a resposta é tão clara? Não há ateus consistentes, apenas pessoas se escondendo de Deus. “Os céus proclamam a glória de Deus, e o firmamento anuncia as obras das suas mãos” (Sl 19.1). Deus é o inescapável dado que sustenta todas as coisas.

Ou, será que esta é a tarefa mais difícil que a Tabletalk já solicitou? Uma resposta abrangente pode preencher uma biblioteca inteira. O que segue, então, é apenas um fragmento perdido de um capítulo de um livro naquela biblioteca.

1. Deus o Criador é a única solução para o último enigma de Gottfried Leibniz e Martin Heidegger: “Por que existe algo, e não nada?”.

Ex nihilo nihil fit — “Nada vem do nada”. Observemos que nada não é um “pré-algo”; não é “algo reduzido ao mínimo”. Nada é NADA, COISA nenhuma­. Nada — um conceito impossível para a mente compreender precisamente porque nada carece de “realidade”, em primeiro lugar. Para transformar o famoso ditado de René Descartes, Cogito, ergo sum (penso, logo existo) podemos dizer, Quod cogito, non cogito de nihilo (Porque eu sou, não posso conceber o nada). Isso leva a outro pensamento cartesiano: Quod cogito, ergo non possibile Deus non (Porque penso, portanto, é impossível que Deus não exista). O cosmo, minha existência e minha capacidade de raciocinar dependem do fato de que a vida não veio e não pode vir do nada, mas requer uma origem razoável e racional. O contrário (tempo + acaso = realidade) é impossível. Nem o tempo nem o acaso são fenômenos pré-cósmicos.

2. Esse Deus deve ser o Deus bíblico, por duas razões. A primeira é que somente esse Deus fundamenta adequadamente a coerência física do cosmos como a conhecemos. A segunda razão é que sua existência é a única base coerente, seja reconhecida ou não, para o pensamento racional e a comunicação. Consequentemente, o descrente da necessidade deve recorrer a tomar emprestado – e, de fato, intelectualmente roubar – um fundamento bíblico para pensar coerentemente e viver de forma sadia. Assim, o humanista secular que argumenta que não há princípios definitivos deve tomar emprestado das premissas bíblicas para avaliar qualquer coisa como em si mesma, como sendo certa ou errada.

Recentemente tentei um experimento simples, mas inquietante, direcionando minha mente a pensar na suposição de que Deus não existe e depois explorar as implicações. Desencorajo fortemente a realização dessa experiência mental, pois ela conduz inexoravelmente a um lugar sombrio, um abismo mental onde nada na vida faz sentido, de fato, onde não há possibilidade de “sentido” final. Aqui, tudo o que consideramos bom, verdadeiro, racional, inteligível e belo não possui qualquer subestrutura para dar coerência a esses conceitos. Assim, a natureza de tudo o que sou e experiencio se torna radicalmente desconstruída e desconectada da minha consciência deles. Essa “consciência” que parece inteligível é, então, uma fabricação injustificável de minha própria imaginação. E então essa imaginação deixa de ter coerência em si mesma. Em essência, então, minha consciência altamente complexa se torna meramente uma série inexplicável de intrincadas reações químicas baseadas em nenhuma racionalidade e sem significado inerente. “Significado” em si, em qualquer sentido genuinamente transcendente, é em si mesmo um conceito sem sentido.

Como experimentadores na peregrinação do ateísmo consistente, concluiremos então que são os “ateus” que são levados ao desespero, enquanto cedem às conclusões insuportáveis ??de suas premissas, que são os únicos pensadores ateus consistentes com a ousadia de suas convicções. Aqueles que calmamente afirmam ser ateus são desmascarados como pessoas que de fato recusam a conclusão das convicções que professam, reprimindo o que eles sabem ser verdadeiro (que Deus existe) — exatamente o argumento que Paulo faz em Romanos 1.18-25.

O romancista Martin Amis narrou uma pergunta que o escritor russo Yevgeni Yevtushenko fez a Sir Kingsley Amis: “É verdade que você é ateu?”, Amis respondeu: “Sim. Porém é mais do que isso. Veja, eu o odeio”. Longe de ser capaz de negar a existência de Deus, ele confessou tanto a existência de Deus quanto o seu próprio antagonismo em relação a Deus.

Amis não estava sozinho. Nem um cavaleiro do Reino, nem algum de nós, pode escapar de ser a imago Dei (por mais mutilada que seja). Portanto, nunca podemos negar o Deus de quem somos a imago. Porque Deus colocou um fardo sobre nós: “pôs a eternidade no coração do homem” (Ec 3.11). Como Agostinho disse, nossos corações estão inquietos até que encontremos nosso descanso em Deus.

Por que então a Bíblia não faz a pergunta: “Existe um Deus?”. Porque a sua primeira frase já apresenta a resposta: “No princípio, Deus…”.

 

Tradução: William Teixeira.

Revisão: Camila Rebeca Teixeira.


Autor: Sinclair Ferguson

Dr. Sinclair B. Ferguson é professor de teologia sistemática no Seminário Redeemer em Dallas, TX, EUA. É reitor do curso de Doutorado em Ministério na Academia Ligonier, e professor no Ministério Ligonier.

Parceiro: Ministério Ligonier

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