quinta-feira, 19 de dezembro
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Ele me faz repousar em pastos verdejantes. Leva-me para junto das águas de descanso

O Salmo 23 nos dá um maravilhoso exemplo do cuidado e proteção de Deus em imagens que demandam a imaginação. Mas para a mente contemporânea, o pano de fundo dessa imagem pode ser desconhecido. A imagem do pastor é na verdade uma metáfora para a realeza no antigo Oriente Próximo. Assim, para Davi dizer: “O Senhor é meu pastor”, implica mais do que uma linda metáfora pastoral; ele está dizendo: “O Senhor é meu Rei Pastor”. Portanto, Davi canta, neste salmo, a respeito do Rei divino que o guia e sustenta, e isso é visto inicialmente no versículo 2. Usando a metáfora pastoral, Davi observa o que Deus faz para ele: “Ele me faz repousar em pastos verdejantes. Leva-me para junto das águas de descanso”. Ao olharmos atentamente para a linguagem deste versículo, fica claro que o cuidado de Deus por seu povo é extenso e abrangente.

No hebraico, o texto literalmente diz: “Nos campos de grama, ele me faz deitar; para as águas tranquilas, ele me guia”. Na paisagem semiárida da antiga Palestina, pastagens não eram abundantes. Os pastores teriam que guiar seus rebanhos para os lugares com grama suficiente para suas ovelhas. O pastor precisava saber para onde ir, o melhor caminho a percorrer e o ritmo em que deveria conduzir o rebanho. Provavelmente haveria terreno seco e difícil para atravessar, assim como incontáveis ??perigos de feras e ladrões ao longo do caminho.

Cristo como o Bom Pastor cuida de nós ao longo do caminho, sustentando-nos a cada passo, em cada estação.

Essa realidade ressalta a grandeza de Deus vista neste verso. A frase “campos de grama” destaca a abundante provisão de Deus. A palavra traduzida como “campos” significa lugares de pastagem, e sugere algo como prados verdes. A adição de “grama” (traduzido como “verdejantes” na ARA) sublinha ainda mais a abundância da disposição. A palavra muitas vezes se refere à exuberante e abundante grama da primavera após a estação chuvosa ter regado a terra (Dt 32. 2; 2Sm 23. 4). Portanto, a frase transmite a imagem de campos de grama fresca e abundante. Depois de uma longa e cansativa jornada, não poderia haver melhor destino imaginável. O texto também revela a centralidade das ações de Deus. A linguagem emprega verbos causativos: “ele me faz repousar”. O Rei Pastor está soberanamente guiando Davi a essa abundância e dando-lhe um lugar para habitar. Essa ideia de morada se liga ao tema geral de “refúgio” no Saltério, que também está presente no restante do salmo (23.5–6). Assim, Deus provê um lugar seguro para que Davi receba a provisão que ele precisa desesperadamente.

Mas a descrição de Davi sobre a provisão do Senhor não está terminada. A declaração paralela nesse versículo produz outra imagem do cuidado de Deus por seu povo. David literalmente diz: “leva-me para junto das águas de descanso.” O fornecimento de água é essencial para a vida, especialmente para um rebanho em uma terra seca e desafiadora. Um lugar de águas calmas (isto é, não de águas impetuosas) seria o cenário ideal para o pastor dar de beber e lavar as ovelhas, mas também era um lugar onde ele podia limpar e curar as feridas que as ovelhas tivessem sofrido durante a tumultuada jornada. Notavelmente, a linguagem de Deus guiando Davi nesse versículo é encontrada em outras partes do Antigo Testamento (Êx 15.13; Sl 1.3; Is 40.11; 49.10) e, nesse versículo, ele ressalta a escolta protetora do Senhor ao levar seu servo para “águas de descanso”. Esta frase é muitas vezes traduzida como águas “mansas” ou “tranquilas”, destacando a calma das águas. Enquanto essa é uma maneira perfeitamente boa de interpretar este verso, é importante notar que a palavra traduzida “descanso” é na verdade um substantivo em hebraico e é a última palavra na frase “águas de descanso”. Isto implica que “descanso” é na verdade o cenário para as águas e o local em que são encontradas. No Antigo Testamento, a palavra para “descanso”, muitas vezes refere-se a Canaã como um lugar de descanso para Israel (Dt 12.9; 1Rs 8.56; Is 11.10) e à morada de Deus (Sl 95. 11; 132. 8, 14; Is 66. 1). Isso sugere que o próprio Senhor é o lugar de “descanso” à vista do Salmo 23.2, e o fim do salmo (v. 6) confirma essa ideia. Então, o definitivo lugar de descanso para o povo de Deus é o próprio Deus.

Esse verso no Salmo 23 apresenta ao povo de Deus a maravilha da provisão abundante (material e espiritual) que temos em seu Filho, o Bom Pastor. Quando oramos: “o pão nosso de cada dia dá-nos hoje”. (Mt 6.11), baseia-se na realidade de que Jesus, nosso rei soberano, nos guia através desta vida, proporcionando-nos tudo de que precisamos para cada dia e para a vida eterna em si. Tudo o que precisamos até o momento presente veio de Sua mão (vv. 31-34), e Ele continuará a prover para nós até o dia em que ele nos introduzir na provisão eterna de Seu descanso. Cristo, como o Bom Pastor, cuida de nós ao longo do caminho sustentando-nos a cada passo, em cada estação. E quando “passamos pelas águas” da morte, Cristo estará conosco (Is 43.2), e Ele nos guiará para as abundantes pastagens, para a “Terra do Emanuel”.

Tradução: Paulo Reiss Junior.

Revisão: Filipe Castelo Branco.

Fonte: He Makes Me Lie Down in Green Pastures; He Leads Me beside Still Waters.


Autor: Michael G. McKelvey

Dr. Michael G. McKelvey é professor de Antigo Testamento no Reformed Theological Seminary, em Jackson, Mississippi, e ministro ordenado da Igreja Presbiteriana na América. Ele é o autor de “Moses, David and the High Kingship of Yahweh”.

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