quarta-feira, 24 de abril

Ele restaura minha alma

Pode ser que haja algum problema para os cristãos em relação a passagens da Bíblia com as quais estejam familiarizados e se sintam confortáveis. Nós as ouvimos muitas vezes. Nós as lemos muitas vezes. Nós talvez as tenhamos ouvido sendo pregadas muitas vezes. O resultado é que já não pensamos mais nelas quando as lemos, ouvimos lê-las ou as ouvimos sendo pregadas. Nós pensamos que já sabemos o que eles significam. Às vezes, é bom nos determos quando as lemos, as repassarmos frase por frase, palavra por palavra, perguntando a nós mesmos o que elas significam. É bom pensar nelas, ponderá-las, meditar nelas, para que possamos ouvi-las de novo e assim novamente ouvir a Palavra de Deus falando conosco.

“Ele restaura minha alma”. Quatro palavras simples. Duas palavras simples em hebraico. Mas o que elas querem dizer? O que elas dizem para nós? O que elas devem nos dizer? Temos diante de nós a imagem do Pastor com o seu rebanho. As imagens no verso 2 são claras. Podemos ver as pastagens exuberantes ao lado do riacho tranquilo onde o rebanho está sob o olhar atento de seu Pastor. Mas “ele restaura a minha alma”? Como imaginamos isso? Como vemos o Pastor restaurando as almas do seu rebanho? É fácil pensar que talvez Davi tenha mudado o seu olhar aqui das ovelhas para as pessoas. No entanto as frases seguintes também se referem ao rebanho e à liderança do pastor, deixando-nos a considerar qual seria a conexão desta cláusula com aquelas que a precedem e com aquelas que vem a seguir.

Ele é o Bom Pastor, então, é ele que, restaura nossas almas, enfaixa as feridas, cura nossas doenças e nos dá força no lugar da fraqueza.

Ele restaura. É nesse ponto que recebemos ajuda de outras passagens pastorais. Talvez a melhor passagem pastoral no Antigo Testamento seja Ezequiel 34. Esta passagem pode muito bem ter estado na mente de Jesus quando ele começou seu discurso sobre o bom pastor em João 10. Em Ezequiel 34, ouvimos o Senhor condenando os pastores de Israel. Parte da culpa deles é que não trouxeram de volta as ovelhas que se desviaram (v. 4). Quando o Senhor mais adiante na passagem declara que ele mesmo será seu pastor, Ele diz, em parte, que ele trará de volta as ovelhas que se desviaram (v. 16). Aí está a conexão. Nós tendemos a ver as ovelhas deitadas pacificamente no campo e nos esquecemos que as ovelhas são animais teimosos. Elas se levantam. Elas andam por aí. Elas se perdem. É tarefa do pastor trazê-las de volta. No salmo, então, vemos o Pastor, ativo, indo atrás daquelas ovelhas que se desviaram, trazendo-as de volta para o rebanho. E somos consolados, sabendo que o nosso Bom Pastor não nos permitirá ir longe demais. Ele nos procurará e nos trará de volta ao rebanho.

Minha alma. Minha vida. Meu nephesh [1]. O Bom Pastor não apenas traz de volta as ovelhas perdidas, mas também dá vida aos mortos. Nós estávamos mortos em nossos delitos e pecados, e nosso Bom Pastor nos deu uma nova vida. As ovelhas que estão fracas, doentes ou feridas o Pastor fortalece, cura e enfaixa (Ez 34.16). Ele as restaura a vida plena, para que elas possam mais uma vez ficar em pé, andar e se alimentar, para se manterem como parte do rebanho. Nossa antiga vida nos deixou não apenas mortos em nossos pecados, mas fracos, doentes e prejudicados por nossos pecados. É o Bom Pastor, então, que, ao restaurar nossas almas, enfaixa nossas feridas, cura nossas doenças e nos dá força no lugar da fraqueza.

Nosso nephesh não é apenas a nossa vida, mas a sede dos nossos desejos. Ao restaurar nossas almas, ele nos faz famintos e sedentos por justiça. Ele alimenta essa fome, ele sacia essa sede. Nosso nephesh é também a sede de nossas emoções. Ao restaurar nossas almas, ele nos dá alegria de manhã depois da noite de choro. Ele transforma nosso luto em dança. Ele remove nosso pano de saco de lamentação e angústia, dando-nos a nova roupa de alegria. O nephesh também se refere ocasionalmente aos nossos atos mentais, nosso pensamento e nosso conhecimento. Ao restaurar nossas almas, o Bom Pastor restaura nosso pensamento e nosso conhecimento. Começamos a entender as coisas de uma nova maneira. As Palavras que outrora não passavam de meras palavras em uma página começa a ter significado. Começamos a ouvir, entender e conhecer a voz do nosso pastor. Ouvimos o seu chamado e respondemos seguindo a sua orientação, mesmo que ele nos leve através do vale da sombra da morte.

Nossa restauração também não é simplesmente individual, embora o salmo seja frequentemente lido como uma promessa ao indivíduo. O Pastor nunca é pastor de uma só ovelha. Ele é o pastor do rebanho. Ao restaurar as vidas das ovelhas, ele também restaura a vida do rebanho. Ele faz um rebanho de ovelhas saudáveis e fortes, capazes de se unir para o bem do rebanho.

Exceto pela nova vida, nenhuma dessas restaurações é instantânea. A cura dos doentes e dos feridos leva tempo. O fortalecimento do fraco leva tempo. A renovação dos desejos e da mente leva tempo. O Bom Pastor usa o rebanho na restauração do indivíduo. À medida que o indivíduo se fortalece, ele é usado pelo Pastor na restauração de outras almas. Que tenhamos prazer em que nosso Bom Pastor restaure nossas almas para que possamos ser usados por ele na restauração das almas dos outros.

[1] Nota do Editor: Nephesh é uma palavra hebraica bíblica que ocorre na Bíblia hebraica.

Tradução: Paulo Reiss Junior.

Revisão: Filipe Castelo Branco.

Fonte: He Restores My Soul.


Autor: Benjamin Shaw

Dr. Benjamin Shaw é reitor acadêmico e professor de Hebraico e Antigo Testamento no Greenville Presbyterian Theological Seminary.

Parceiro: Ministério Ligonier

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Ministério do pastor R.C. Sproul que procura apresentar a verdade das Escrituras, através diversos recursos multimídia.

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