quinta-feira, 28 de março

Instruções para uma partida pacífica

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O texto abaixo foi extraído do livro Antes de Partir, de Nancy Guthrie

O conforto não é desejável somente enquanto nos agrada, mas também enquanto nos fortalece e nos auxilia com as nossas maiores obrigações. E quando este é mais necessário do que na hora da enfermidade e na aproximação da morte? Eu devo, portanto, adicionar tais instruções como necessárias para tornar a nossa partida confortável ou, pelo menos, pacífica, bem como, segura.

Não entendam a enfermidade incorretamente, como se fosse um mal maior do que é; mas observem quão grande misericórdia é que a morte tenha um prenúncio ou um precursor tão adequado: que Deus faça tanto antes de nos tirar daqui, a fim de nos afastar do mundo e nos fazer dispostos a ir embora; que a carne indisposta tenha a ajuda da dor; e que os sentidos e o apetite que, de fato, atraíam a mente às coisas terrenas, decaiam; e que nós tenhamos um chamado tão audível e tão grande ajuda para um verdadeiro arrependimento e preparação séria! Eu sei que, para aqueles que têm andado muito próximos de Deus e que estão sempre preparados, uma morte repentina pode ser uma misericórdia; como temos recentemente tido o conhecimento de diversos ministros santos e outros, que morreram após um sacramento, ou na noite do Dia do Senhor, ou no meio de algum santo exercício, com tão pouca dor que ninguém ao redor deles percebeu quando morreram. Mas normalmente é uma misericórdia ter a carne debilitada e enfraquecida pela enfermidade dolorosa, para nos ajudar a vencer a nossa indisposição natural de morrer.

Lembrem-se de quem envia a enfermidade, e quem é que os chama para morrer. É aquele que é o Senhor de todo o mundo, e que nos deu a vida que ele leva de nós; e é aquele que dispõe de anjos e homens, de príncipes e reinos, do céu e da terra; e, portanto, não há razão alguma para que vermes como nós desejemos ser excluídos. Vocês não podem negar que ele é aquele que dispõe de todas as coisas, sem negar que ele é Deus: é aquele que nos ama e nunca nos quis mal em qualquer coisa que tenha feito para nós; que deu a vida de seu Filho para nos redimir; e, portanto, não pensa que a vida seja muito boa para nós. A nossa enfermidade e morte são enviadas pelo mesmo amor que nos enviou um Salvador, e nos enviou os pregadores poderosos de sua Palavra, e nos enviou o seu Espírito, e secreta e docemente modificou os nossos corações, e os une a si mesmo em amor; que nos deu uma vida de misericórdias preciosas para as nossas almas e corpos, e prometeu nos dar a vida eterna; e pensaríamos que ele agora pretende algum mal contra nós? Ele não pode transformar isso também para o nosso bem, como tem feito muitas vezes com uma aflição sobre a qual nos queixamos? Olhem pela fé para o seu Senhor morto, sepultado, ressuscitado, ascendido e glorificado. Nada superará mais  poderosamente o veneno e os temores da morte do que os pensamentos crédulos acerca daquele que triunfou sobre ela. É terrível que ela separe a alma do corpo? Assim ela fez com o nosso Senhor, que ainda assim a venceu. É terrível que ela coloque o corpo na sepultura? Assim ela fez com o nosso Salvador, embora ele não tenha visto a corrupção, mas rapidamente tenha se levantado pelo poder de sua Divindade. Ele morreu para nos ensinar a, de forma crédula e corajosa, nos submetermos à morte. Ele foi enterrado para nos ensinar a não termos medo em demasia de uma sepultura. Ele ressuscitou para conquistar a morte para nós e assegurar àqueles que se levantam em novidade de vida, que eles serão ressuscitados no fim pelo seu poder para a glória; e, sendo feitos participantes da primeira ressurreição, a segunda morte não terá poder sobre eles. Ele vive como o nosso Cabeça, para que possamos viver por ele; e para que possa assegurar a todos aqueles que estão aqui ressuscitados com ele, que procuram primeiro as coisas que são de cima que, embora em si mesmos estejam mortos, ainda a sua vida “está oculta juntamente com Cristo, em Deus. Quando Cristo, que é a nossa vida, se manifestar, então, vós também sereis manifestados com ele, em glória” (Cl. 3:3-5). Que palavra consoladora é essa, João 14:19, “Porque eu vivo, vós também vivereis”.

A morte não pôde segurar o Senhor da vida; nem pode nos segurar contra a vontade daquele que tem “as chaves da morte e do inferno” (Ap. 1:18). Ele ama cada um de seus santificados muito mais do que vocês amam um olho, ou uma mão, ou qualquer outro membro do seu corpo, que vocês não estão dispostos a perder se forem capazes de salvá-lo. Quando ele subiu, ele nos deixou essa mensagem cheia de conforto para os seus seguidores em João 20:17: “Vai ter com os meus irmãos e dize-lhes: Subo para meu Pai e vosso Pai, para meu Deus e vosso Deus”. Que, juntamente com estas duas seguintes, eu escreveria diante de mim no meu leito de enfermidade. “Se alguém me serve, siga-me, e, onde eu estou, ali estará também o meu servo” (Jo. 12:26). E, “Em verdade te digo que hoje estarás comigo no paraíso” (Lc. 23:43). Ó, que pensamento alegre deveria ser para um crente pensar, quando estiver morrendo, que ele está indo para o seu Salvador, e que o nosso Senhor ressuscitou e foi antes de nós, para nos preparar um lugar e nos levar no tempo certo para si mesmo (Jo. 14:2-4. “Não se turbe o vosso coração; credes em Deus, crede também em mim” [v.1]). Não é de um estranho que falamos para vocês, mas de seu Cabeça e Salvador, que os ama melhor do que vocês amam a si mesmos, cujo escritório está lá para vocês aparecerem continuamente diante de Deus e, ao fim, receber as suas almas que partem; e à sua mão é que vocês devem, então, recomendá-las, como Estevão fez (At. 7:59). Escolham algumas promessas mais adequadas às suas condições, e as repassem várias e várias vezes em suas mentes, e as alimentem e vivam por elas pela fé. Se tiverem de ser perturbados pela grandeza do seu pecado, que seja como… “Pois, para com as suas iniquidades, usarei de misericórdia e dos seus pecados jamais me lembrarei” (Hb. 8:12). Se for a fraqueza de sua graça que os incomoda, que possam escolher “Todo aquele que o Pai me dá, esse virá a mim; e o que vem a mim, de modo nenhum o lançarei fora” (Jo. 6:37). Se for o medo da morte e a estranheza para o outro mundo que os incomoda, lembrem-se das palavras de Cristo anteriormente citadas e de 2 Coríntios 5:8: “Estamos em plena confiança, preferindo deixar o corpo e habitar com o Senhor”. Fixem em alguma palavra ou promessa

tal, que possa ajudá-los na sua partida.

Olhem para Deus, que é a glória do céu, a luz e a vida, e alegria das almas, e creiam que vocês verão a Sua face, e viverão na perfeita e eterna fruição de seu amor pleno entre os glorificados. A criança recém-vinda do ventre para este mundo iluminado de interações humanas não recebe uma mudança tão alegre quanto a alma que é recentemente libertada da carne e passa desta vida mortal para Deus. Uma visão de Deus, por uma alma abençoada, vale mais do que todos os reinos da terra. É agradável para os olhos ver o Sol, mas o Sol é trevas e inútil em comparação com a glória dele.

Escolham algumas promessas mais adequadas às suas condições, e as repassem várias e várias vezes em suas mentes, e as alimentem e vivam por elas pela fé.

Ó, que Deus nos fizesse saber de antemão, por uma fé viva, o que é contemplá-lo em sua glória e viver em perfeito amor e alegria, e, então, a morte não seria mais capaz de nos assustar, nem nós estaríamos indispostos a uma mudança abençoada!


Autor: Vários

Ministério: Editora Fiel

Editora Fiel
A Editora Fiel tem como missão publicar livros comprometidos com a sã doutrina bíblica, visando a edificação da igreja de fala portuguesa ao redor do mundo. Atualmente, o catálogo da Fiel possui títulos de autores clássicos da literatura reformada, como João Calvino, Charles Spurgeon, Martyn Lloyd-Jones, bem como escritores contemporâneos, como John MacArthur, R.C. Sproul e John Piper.

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