sexta-feira, 29 de março

O encargo bíblico para a revitalização de igrejas

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Por quase toda parte dos Estados Unidos (e algumas outras partes do mundo), algumas igrejas evangélicas quase literalmente poluem a paisagem.

Muitas dessas igrejas são como lixo deixado nas esquinas – elas fazem com que as pessoas atravessem a rua para evitá-las. As pessoas que pertencem a essas igrejas professam crer no evangelho, e suas declarações históricas de fé confessam o evangelho. E, de fato, alguns cristãos verdadeiros pertencem a tais igrejas. Mas, no geral, a vida da igreja difunde qualquer outra coisa, exceto a mensagem do evangelho. Essas igrejas emitem lixo tóxico, em vez do alimento nutritivo de que o povo necessita.

Algumas igrejas nesse estado podem ser irrecuperáveis. Mas o fato triste é: muitos evangélicos parecem satisfeitos em ignorar tais igrejas e simplesmente começar outras novas.

Plantar igrejas é importante e estratégico, e eu me alegro em ver mais e mais pessoas engajadas nessa obra.

Mas, se você visse um jardim coberto de ervas daninhas, simplesmente plantaria alguns belos lírios bem no meio dele? Se você não pudesse ouvir o noticiário da TV porque seu rádio estava alto demais, simplesmente aumentaria ainda mais o volume da TV?

Eu sugiro que a revitalização de igrejas – o trabalho de trazer vida a igrejas moribundas, ao lidar com as causas de seu declínio e edificá-las na fidelidade – é uma responsabilidade bíblica. Quero dizer, quando vemos essas igrejas agindo como antitestemunhas de Cristo, nós deveríamos, conforme a Escritura, tomar o encargo de fazer algo acerca disso. O propósito deste artigo é provar tal ponto.

Revitalização de Igrejas: Uma Prioridade Apostólica

Considere a carte de 1Coríntios. Paulo plantou a igreja em Corinto por volta de 50 d.C., e ele escreveu essa carta apenas alguns poucos anos depois, em resposta a relatos que ouvira acerca da igreja, assim como a algumas questões que a igreja lhe apresentara. Quais eram os problemas que levaram Paulo a escrever? Considere os seguintes:

  • Divisões e facções: alguns diziam “Eu sigo Paulo”, ou “Eu sigo Apolo” (1.10-17);
  • Tolerância à imoralidade sexual (5.1-13);
  • Demandas judiciais entre membros da igreja (6.1-8);
  • Confusão acerca do casamento e da sexualidade (7.1-40);
  • Divisão na igreja quanto aos limites da liberdade cristã (8.1-13; 10.1-33);
  • Disputas acerca da adoração (caps. 11-14);
  • E falsos ensinos acerca da ressurreição (cap. 15).

Se você olhar de soslaio e puser de lado as particularidades culturais, a igreja em Corinto, por volta de 55 d.C., é a imagem escarrada de muitas igrejas evangélicas hoje. Muitas igrejas hoje estão envoltas em uma parecida e potente mistura de falsos ensinos, imoralidade, divisão, contendas e mundanismo de toda sorte. Muitas igrejas hoje estão em semelhante necessidade de uma cirurgia pastoral radical, que possa salvar suas vidas e restaurar sua saúde.

Então, ao se deparar com esses problemas em Corinto, o que Paulo fez? Ele não disse: “Essas pessoas não têm esperança. Elas são uma mistura de falsos crentes e pessoas orgulhosas, teimosas e religiosas. Você não quer aquelas pessoas na sua igreja, de modo nenhum” – e então enviou Timóteo a ir e plantar uma nova igreja em Corinto.

Em vez disso, ele lidou com eles. Ele veio vê-los de novo e de novo. Ele os repreendeu e os instruiu e os suportou. Resumindo, ele trabalhou para reformar a igreja de Deus que estava em Corinto.

Sim, há descontinuidades entre a situação de Paulo e a nossa. Para citar apenas um exemplo, essa igreja era a única igreja em Corinto naquela época. Mas o ponto ainda permanece: em vez de deixar a igreja de Corinto simplesmente apodrecer em seu pecado, Paulo labutou para recuperá-la e restaurá-la. Um tipo semelhante de recuperação e restauração é exatamente o de que inúmeras igrejas evangélicas necessitam hoje.

E isso é consistente com as prioridades mais amplas de Paulo como um apóstolo. Diferentemente de alguns missionários contemporâneos, Paulo não tentava simplesmente começar o maior número de igrejas no menor tempo possível. Em vez disso, eis o que Paulo fez após a sua primeira viagem missionária: “Alguns dias depois, disse Paulo a Barnabé: Voltemos, agora, para visitar os irmãos por todas as cidades nas quais anunciamos a palavra do Senhor, para ver como passam” (At 15.36). E assim Paulo “passou pela Síria e Cilícia, confirmando as igrejas” (At 15.41).

Paulo estava tão preocupado com a saúde das igrejas as quais havia plantado que, apesar das imensas regiões do Mediterrâneo ainda por evangelizar, e de sua ambição de fazê-lo pessoalmente (Rm 15.20), ele voltou a uma região em que já havia labutado, a fim de fortalecer as igrejas. Eu sugiro que, se nós havemos de seguir os passos de Paulo, como a Escritura nos chama a fazer (1Co 4.17; 11.1; Fp 3.17), então nós deveríamos ter uma responsabilidade pela contínua saúde e firmeza das congregações que carregam o nome de “cristãs” e professam aderir ao evangelho.

Igrejas não são biodegradáveis. E, quando elas começam a desintegrar, podem exalar por anos, décadas ou até séculos um mau cheiro que ofusque o aroma de Cristo. Quando uma igreja é dividida, ela proclama que Cristo está dividido (1Co 1.13). Quando uma igreja tolera imoralidade, ela diz ao mundo que Cristo não é santo – e que os sexualmente imorais, os idólatras, os bêbados e os roubadores irão herdar o reino de Deus (veja 1Co 6.9-11).

Então nós, como Paulo, deveríamos ter uma responsabilidade pela restauração, revitalização e reforma de igrejas que estejam em vários estágios de enfermidade. E nós temos não poucas dessas igrejas em nossas mãos, especialmente nos Estados Unidos.

Jesus, o Reformador de Igrejas

Nas cartas às sete igrejas de Apocalipse 2 e 3, o próprio Jesus trabalha para reformar aquelas congregações locais. Ele fala àquelas igrejas com o fim de consertar o que está quebrado, curar o que está enfermo, reprovar o que é falso, e dar nova vida ao que está morrendo.

Eis aqui uma amostra: Jesus reprova os efésios que eram doutrinariamente saudáveis, mas careciam de amor (Ap 2.2-7). Ele recomenda a igreja em Pérgamo por conservar o seu nome, contudo a reprova por acolher falso ensino e a chama ao arrependimento (Ap 2.13-17). Na igreja em Tiatira havia alguns que mantinham falso ensino, e Jesus promete julgá-los (Ap 2.20-23), mas recomenda o resto da igreja e os encoraja a perserverar (Ap 2.19, 24-28). E à igreja em Sardes Jesus diz:

Conheço as tuas obras, que tens nome de que vives e estás morto. Sê vigilante e consolida o resto que estava para morrer, porque não tenho achado íntegras as tuas obras na presença do meu Deus. Lembra-te, pois, do que tens recebido e ouvido […] Tens, contudo, em Sardes, umas poucas pessoas que não contaminaram as suas vestiduras e andarão de branco junto comigo, pois são dignas (Ap 3.1-4).

Se você precisa de um versículo que sirva de texto-prova em favor da revitalização de igrejas, Apocalipse 3.2 o é: “Consolida o resto que estava para morrer”.

É verdade que esse versículo foi escrito à própria igreja, mas não deveriam igrejas irmãs e aspirantes ao pastorado exemplificar a compaixão de Cristo para com igrejas como aquela em Sardes? Não deveríamos nós ter uma preocupação com o remanescente fiel em tais igrejas, que sofrem nas mãos de falsos mestres?

Jesus reformou e revitalizou igrejas – sete delas apenas nesses dois capítulos. Nós deveríamos fazer o mesmo.

O Povo de Deus Carrega o Nome de Deus

Uma outra motivação que a Escritura nos dá para a reforma e revitalização de igrejas é que o povo de Deus carrega o nome de Deus. Os cristãos são batizados no nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo (Mt 28.19). Os cristãos são o templo dos últimos dias, a corporificação do lugar onde Deus fizera seu nome habitar (1Rs 8.17, 19). A igreja é o povo que foi chamado pelo nome do Senhor, os quais ele criou para a sua glória, os quais ele formou e fez (Is 43.7).

Além disso, Deus é zeloso pela glória do seu nome (Is 48.9-11) – e nós deveríamos sê-lo também.

Mas, como dissemos, quando as igrejas definham no pecado, na divisão e no nominalismo, o nome de Deus se torna um motejo na comunidade. Tais igrejas difamam o nome de Deus, em vez de adorná-lo e magnificá-lo.

Uma igreja decadente e mergulhada no pecado é como um farol com a lâmpada e o refletor quebrados. Em vez de refletir a luz da glória de Deus milhas a frente, de chamar pecadores ao porto seguro da misericórdia de Deus, uma igreja assim deixa a noite tão negra quanto estava antes – ou até mais. É como uma estação de rádio cujo sinal foi sequestrado: não importa o que ela confesse crer, tal igreja difunde mentiras sobre Deus, em vez da verdade.

Assim, uma preocupação com o nome de Deus, o qual ele pôs sobre o seu povo – e sobre as suas assembleias corporativas em um sentido especial (Mt 18.20) – deveria nos impulsionar à reforma e revitalização de igrejas. Como Mark Dever tantas vezes disse, revitalizar igrejas é como um pague-um-leve-dois pelo reino. Você derruba uma má testemunha e ergue uma boa testemunha em seu lugar.

E Daí?

Se esta é uma defesa bíblica consistente, o que deveríamos fazer? Eu diria simplesmente que, à medida que nós pensamos em como propagar o evangelho e testemunhar para o reino, a revitalização de igrejas deveria ser uma importante opção a considerar. Deveria ser algo em que nossas igrejas pensassem, planejassem e pelo que orassem. Igrejas que desejem propagar e promover o evangelho devem estar preocupadas, assim como Jesus e Paulo, em fortalecer e restaurar o testemunho de igrejas com problemas.

Considere refletir sobre o que a sua igreja local pode fazer para ajudar outras igrejas locais que estejam com problemas. Conheça-as. Descubra as necessidades delas. Construa relacionamentos com elas. Esteja aberto a ajudá-las de todas as formas que puder, incluindo, se a oportunidade surgir, enviar um pastor e pessoas para ajudarem na obra de reforma.

Se você aspira ser um plantador de igreja, considere a revitalização de igrejas como uma alternativa além da plantação. Se você revitalizar uma igreja, pode estar glorificando a Deus e servindo o seu povo não apenas por estabelecer uma nova igreja (o que é essencialmente o que reformar uma igreja muitas vezes significa), mas também por limpar a sujeira que seus irmãos e irmãs deixaram pela cidade. Assim como nós limpamos fisicamente a nossa vizinhança, você pode ficar surpreso em como nossos vizinhos apreciam uma igreja espiritualmente renovada. E quem sabe quantas igrejas podem ser plantadas ou revitalizadas a partir da sua renovada congregação!

A revitalização de igrejas deveria ser nossa responsabilidade porque é responsabilidade de Deus, como visto no ministério pessoal do Senhor Jesus Cristo exaltado, e do apóstolo Paulo. O povo de Deus carrega o nome de Deus, então nós também deveríamos nos esforçar para fortalecer “o resto que está para morrer”.


Autor: Bobby Jamieson

Bobby Jamieson é editor assistente do Ministério 9Marks, nos EUA.

Parceiro: 9Marks

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O ministério 9Marks tem como objetivo equipar a igreja e seus líderes com conteúdo bíblico que apoie seu ministério.

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Ministério Fiel: Apoiando a Igreja de Deus.

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