Este artigo faz parte da série Gênero e Características literárias dos livros da Bíblia, que são artigos retirados e adaptados com permissão da Bíblia de Estudo da Fé Reformada, Editora Fiel.
O conhecimento do gênero literário de um livro bíblico visa conduzir o leitor ao melhor entendimento das Escrituras, já que a Palavra de Deus é inspirada e que o próprio Deus planejou a escrita de cada gênero para um determinado fim. Esperamos que o conhecer o gênero e a estrutura literária de cada livro ofereça ao leitor uma leitura e estudo bíblico mais profundo e proveitoso.
Êxodo
Gênero
Êxodo integra a narrativa contínua que vai de Gênesis a Reis, rememorando eventos desde a criação do mundo até a queda da cidade de Jerusalém, em 586 a.C. Diferente das histórias modernas, que focalizam somente as atividades do povo, essa narrativa destaca as ações e palavras de Deus. Êxodo tem, em seu interior, uma variedade de formas literárias que têm sido cuidadosamente integradas na narrativa histórico-teológica. O cântico poético de vitória do capítulo 15 forma o clímax para o livramento dos israelitas em relação ao exército de faraó. O Livro da Aliança (20.22–23.33) contém uma variedade de temas: casos relativos à lei (21.1–22.20); imperativos morais (22.21–23.9); instruções cúlticas (23.10-19). As instruções para a construção do tabernáculo e a designação de sacerdotes são ressaltadas com detalhes consideráveis (caps. 25-31), assim como o é também o relato da construção da tenda (caps. 35-40). A inclusão de tipos tão distintos de temas no livro de Êxodo enriquece grandemente a percepção do leitor acerca dos eventos.
Características literárias
A narrativa registrada no livro de Êxodo pode ser visualizada como se encaixando nas duas metades com o capítulo 18, formando um elo que liga uma à outra. A visita de Jetro a Moisés junto ao monte Sinai provê a oportunidade de inspecionar o que acontecera a Moisés e aos israelitas nos capítulos precedentes a Êxodo. A resposta de Jetro provê um sumário apropriado para tudo o que havia ocorrido: “Bendito seja o Senhor, que vos livrou da mão dos egípcios e da mão de Faraó; agora, sei que o Senhor é maior que todos os deuses, porque livrou este povo de debaixo da mão dos egípcios, quando agiram arrogantemente contra o povo” (Êx 18.10, 11). Após uma retrospectiva, o restante do capítulo 18 fica na expectativa, antecipando como Deus proverá, no Livro da Aliança, juízos legais que orientem os envolvidos na resolução de disputas (Êx 21.1–22.20). Ao estabelecer níveis diferentes de juízes dentro de Israel, o povo será ajudado a cumprir seu chamado de ser uma nação santa.
A preservação escrita das palavras pactuais de Deus tem importância central para a teologia do livro de Êxodo. Deus não só declara os Dez Mandamentos ao seu povo reunido ao pé do Sinai, como também os grava em tábuas de pedra: “escritas pelo dedo de Deus” (31.18; cf. 32.15, 16; 34.1, 28). Os termos da aliança eram mais específicos pelo assim chamado “Livro da Aliança” (20.22–23.33), as palavras de Deus escritas por Moisés, o mediador da aliança de Deus (24.4, 7; cf. 34.27).
Os elementos da aliança sinaítica assemelham-se, tanto na forma como no conteúdo, ao formato de um tratado político do segundo milênio a.C., particularmente os tratados políticos hititas. Esses tratados incluíam um preâmbulo (20.2), obrigações gerais (20.3-17), obrigações específicas (21.1– 23.33) e ratificação (24.1-11). Uma cópia do tratado às vezes era preservada nos santuários das partes (p. ex., as duas tábuas de 31.18). Além disso, com frequência observa-se a semelhança de conteúdo entre os processos legais dos capítulos 21.1–22.20 e os códigos do antigo Oriente Próximo (em especial o Código de Hamurabi, da Babilônia, por volta de 1750 a.C.). No entanto, os casos relativos à lei do livro de Êxodo atribuem maior relevo ao valor da vida humana do que à propriedade.

Este artigo foi retirado e adaptado com permissão do material de estudo da Bíblia de Estudo da Fé Reformada, Editora Fiel e Ligonier.
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