sábado, 23 de novembro
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O verdadeiro e o falso arrependimento

Visto que o apóstolo afirmou que o falso arrependimento não apazigua a Deus, surge a pergunta: como Acabe obteve o perdão e removeu o julgamento imposto sobre si? Se julgarmos pelos últimos atos de sua vida, ele parecia ter sido comovido apenas por algum temor repentino (1 Rs 21.28-29). Na verdade, Acabe vestiu-se de pano de saco, pôs cinzas sobre si mesmo e andava cabisbaixo (1 Rs 21.27); e, conforme dizem as Escrituras, ele humilhou-se diante de Deus. No entanto, rasgar as vestes, enquanto seu coração permanecia obstinado e mergulhado na malícia, significava pouco. Apesar disso, observamos como Deus exerceu misericórdia.

Eu respondo: os hipócritas, às vezes, são poupados por um pouco. A ira de Deus, porém, sempre permanece sobre eles. Isto acontece mais por causa do exemplo que eles se tornarão para outros do que pelo bem deles mesmos. Ainda que Acabe teve sua punição mitigada, que proveito isso lhe trouxe, visto que não sentiu qualquer benefício dessa mitigação, exceto enquanto estava vivo? Portanto, a maldição de Deus, embora secreta, havia se fixado sobre a residência de Acabe, que foi para a eterna condenação.

Este mesmo fato pode ser visto em Esaú, pois, embora ele tenha sofrido uma rejeição, uma bênção temporal foi assegurada às suas lágrimas (Gn 27.40). No entanto, visto que a herança espiritual resultante da profecia divina poderia ser possuída por apenas um dos irmãos, quando Esaú foi deixado de lado e Jacó, escolhido, a rejeição de Esaú como herdeiro excluiu a misericórdia de Deus. Mas a consolação de Jacó — fartar-se da exuberância da terra e do orvalho do céu (Gn 27.28) — fez Esaú tornar-se um homem selvagem.

Isto que acabei de afirmar tem de ser aplicado como exemplo para outras pessoas, a fim de que aprendamos mais rapidamente a dedicar nossas mentes e nossos esforços em favor do arrependimento verdadeiro; pois não pode haver dúvida de que, quando somos verdadeira e sinceramente convertidos, Deus, que estende sua misericórdia sobre os indignos (quando estes manifestam insatisfação com seu próprio “eu”), nos perdoará prontamente. Deste modo, também somos ensinados que julgamento terrível está acumulado para todos os obstinados, que, com descarada altivez e um coração petrificado, se divertem em desprezar e reduzir a nada as ameaças de Deus. Assim mesmo, Deus freqüentemente estendia sua mão aos filhos de Israel, para livrá-los de sua calamidade, embora os seus clamores fossem fingidos e seus corações, enganosos e falsos (cf. Sl 78.36-37); pois Deus mesmo reclamou, neste salmo, que eles sem demora reverteram o seu próprio caráter (v. 57). Porém, apesar disso, Deus, por meio de gentileza amável, quis trazê-los à conversão sincera e torná-los sem culpa. Ao suspender a punição por um tempo, Deus não fica obrigado por uma lei perpétua. Ao contrário, às vezes, Ele levanta o castigo ainda com mais severidade contra os hipócritas e duvidosos, para demonstrar quanto Lhe desagrada a presunção deles. Mas, conforme já dissemos, Deus apresenta alguns exemplos de sua prontidão em perdoar, e, mediante este perdão, os ímpios podem ser encorajados a restaurar suas vidas; enquanto o orgulho daqueles que obstinadamente Lhe resistem pode ser severamente condenado.


Autor: João Calvino

João Calvino (1509 – 1564) é considerado um dos maiores representantes da Reforma Protestante do século XVI, como ficou conhecido o movimento de reação aos abusos da Igreja Católica Romana à época. Calvino foi o responsável por sistematizar o protestantismo reformado através das Institutas da Religião Cristã, sua principal obra teológica, cujo objetivo era servir de instrução para a formação do cristão.

Ministério: Ministério Fiel

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Ministério Fiel: Apoiando a Igreja de Deus.

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