domingo, 15 de dezembro
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Pastor, o que é inegociável na sua igreja?

Certa vez perguntei a um rapaz em minha igreja como estava indo o seu primeiro ano de casamento. Ele respondeu: “é como o Vietnã. É uma zona de guerra. Há uma explosão em cada colina”.  Conhecendo a esposa do rapaz, eu percebi que a culpa não poderia ser toda dela; ela era uma pessoa piedosa e racional. Temi que meu amigo estivesse cometendo erros de novato. Ele estava permitindo que todas as questões — grandes e pequenas — se tornassem um teste de sua liderança. Ele pensava que se ele não vencesse a discussão, ele pareceria um fracote. Tudo se tornava uma questão de princípios. O relacionamento deles se tornou um concurso. Quanto mais ele fixava posições inegociáveis, mais ela lutava contra elas.

Casamento, Depois Divórcio

Pastorear uma igreja pode se parecer bastante com um novo casamento. E jovens pastores inexperientes podem cometer muitos dos mesmos erros que os maridos novatos cometem. Então, como você sabe quais questões são essenciais e quais não são? Em qual colina você está disposto a morrer?

Todo pastorado passa pela “fase de lua-de-mel”, quando há uma relativa calmaria enquanto o cara novo se estabelece no seu gabinete e em seu púlpito. (Eu pessoalmente odeio esse termo. Ele sugere que a igreja dará uma colher de chá para o jovem pastor por alguns poucos meses ou até mesmo anos, mas depois eles correrão atrás dele!) Mesmo durante essa fase em que ele está inconscientemente pisando no pé de alguns. Talvez ele tenha mudado levemente a ordem do culto, ou a lista de orações, ou quaisquer palavras que sempre são ditas em um funeral. Mas a congregação está segurando a língua coletiva.

Em algum ponto, a lua-de-mel acaba e o jovem pastor começa a tomar decisões que ele pensava que a igreja queria que fossem tomadas quando ele estava sendo entrevistado. A maioria das pessoas pode até gostar das decisões (elas não são aquelas que falam!). Mas poucas não estão felizes (essas são aquelas que falam!). As conversas começam discretamente. Uma conversa aqui e ali em um corredor ou na classe Escola Bíblica Dominical. Eventualmente elas chegam “aos ouvidos de um diácono”.  Ele concorda com a reclamação, mas a apresenta na reunião dos diáconos como o problema de outra pessoa.

O que o jovem pastor faz? Infelizmente, muito frequentemente ele vê a reclamação como um desafio à sua liderança e fica na defensiva. Ele é duro com o “diácono representante”. Todos dão um passo para trás e o pastor sai da reunião dos diáconos pensando que ele se posicionou sobre um princípio, derrubando um desafio à sua liderança, e recuperou a unidade da igreja.

Pelo menos até o próximo desafio. E depois o próximo. E o próximo. Em pouco tempo o jovem pastor está empregando a mesma técnica com cada desafio. Ele está enfrentando de frente, tomando uma dura posição e “vencendo” sem saber que está pagando um preço. Toda ideia ou proposta se torna pessoal; ele vê as suas ideias como uma extensão pessoal de si mesmo. Ele vê que a sua liderança está em jogo. E em pouco tempo o show acabou. O pastor e a igreja se separam. Diferenças irreconciliáveis.

Considere a Unidade

Há algumas colinas em uma igreja nas quais se deve tomar uma posição e até mesmo morrer. Eu não estou prestes a sugerir que um pastor se renda em absolutamente todas as questões. Se você fizer isso, você acabará tendo uma falsa igreja! Mas antes que cheguemos às “colinas”, consideremos um tema global da Escritura: unidade.

O apóstolo Paulo exorta constantemente à unidade na igreja porque ela reflete a própria unidade de Deus: “Rogo-vos, irmãos, pelo nome de nosso Senhor Jesus Cristo, que faleis todos a mesma coisa e que não haja entre vós divisões; antes, sejais inteiramente unidos, na mesma disposição mental e no mesmo parecer” (1Co 1.10).

Em outro lugar ele escreve: “Rogo-vos, pois, eu, o prisioneiro no Senhor, que andeis de modo digno da vocação a que fostes chamados, com toda a humildade e mansidão, com longanimidade, suportando-vos uns aos outros em amor, esforçando-vos diligentemente por preservar a unidade do Espírito no vínculo da paz” (Ef 4.1-3).

Paulo chama aqueles que são “espirituais” para restaurarem qualquer um que for flagrado em transgressão com um espírito de brandura (Gl 6.1). E aqueles de nós “que somos fortes devemos suportar as debilidades dos fracos e não agradar-nos a nós mesmos”. (Rm 15.1). Por quê? Por muitas razões, mas no mínimo pelo bem da unidade.

Mas a unidade sempre morre nas mãos da ambição egoísta e de desejos carnais.

Tiago escreve: “De onde procedem guerras e contendas que há entre vós? De onde, senão dos prazeres que militam na vossa carne? Cobiçais e nada tendes; matais, e invejais, e nada podeis obter, viveis a lutar e a fazer guerras” (Tg 4.1-2a).

A liderança da igreja não é imune a guerras e contendas decorrentes de paixões e desejos ímpios. Mas quando são vítimas de tal comportamento, se afastam da sua própria vocação. Jesus diz: “Bem-aventurados os pacificadores, porque serão chamados filhos de Deus” (Mt 5.9). E Paulo diz que nos foi dado o “ministério da reconciliação” (2Co 5.18). Sim, esses versículos se aplicam a todos os cristãos, mas a liderança é chamada a dar o exemplo (Hb 13.7). Os líderes designados em Atos 6 para distribuir alimentos são escolhidos não simplesmente pela sua proficiência na distribuição de alimentos, mas porque eles são cheios do Espírito e de sabedoria — eles saberão como resolver divisões na igreja.

Portanto, antes que linhas sejam desenhadas na areia ou bandeiras fincadas em montes, os pastores precisam ter essa mentalidade pacificadora para trazer unidade ao corpo. Eles precisam ser o que o Pr. Mark Dever chama de um “amortecedor”. Aqueles que são maduros no corpo devem ser amortecedores para os imaturos, de maneira que se mantenha a unidade.

Em Quais Colinas Não se Deve Morrer?

Então, em quais colinas eu não morreria?

  1. Presbíteros. Muito embora nós no Ministério 9Marks creiamos que uma pluralidade de presbíteros seja bíblica, prática e muito útil no pastorear da igreja, nós não cremos que você tenha que ter presbíteros para funcionar como uma igreja. Sábio? Sim! Necessário? Não.
  2. Bandeiras. Muitos irmãos tornaram o aderir à bandeira americana na igreja uma questão polêmica. Alguns exigiram que ela estivesse presente. Alguns exigiram que ela não estivesse na igreja. Nós recomendamos que se retire a bandeira para que ela não confunda estrangeiros (e americanos) sobre o que significa ser cristão. Mas cremos que seria melhor sermos unidos com uma bandeira atrás do púlpito do que divididos sem ela lá.
  3. Multiplicidade de cultos. Nós não gostamos de múltiplos cultos porque cremos que múltiplos cultos são, na verdade, múltiplas igrejas. Ainda assim, há momentos e condições que podem exigir uma multiplicidade de cultos: talvez um novo prédio esteja em construção ou você esteja em um país restrito.
  4. Música. “Guerras de Adoração” vêm diretamente do inferno. Satanás deve pensar que essa é uma das suas grandes vitórias: fazer os crentes se dividirem sobre como eles adorarão o único Deus verdadeiro. Certamente ambos os lados devem ceder mais nessa guerra pelo bem da unidade.

Temo que a areia movediça já esteja nos meus tornozelos, e alguns leitores pensarão que já estou até o pescoço se eu continuar com essa lista. Mas o ponto é que devemos reconhecer diferenças entre uma questão primária e uma questão secundária. Eu não quero relegar questões secundárias à pilha de coisas não importantes. Contudo, eu quero sim pesá-las apropriadamente à luz do chamado para sermos unidos, e termos uma só mente.

Em Filipenses 4.2-3, Paulo escreve: “Rogo a Evódia e rogo a Síntique pensem concordemente, no Senhor. A ti, fiel companheiro de jugo, também peço que as auxilies, pois juntas se esforçaram comigo no evangelho, também com Clemente e com os demais cooperadores meus, cujos nomes se encontram no Livro da Vida”.

Paulo reconhece que essas duas salvas trabalhadoras do evangelho têm algo em comum que pesa mil vezes mais do que qualquer discórdia que elas tenham. Então ele chama a igreja a acabar com a disputa (questão secundária) pelo bem do evangelho (questão primária).

Em Quais Colinas Devemos Morrer?

Então, em quais colinas eu morreria? Honestamente, não há muitas.

  • Pregação. Se a minha igreja quisesse eliminar o ato da pregação e substituir por um diálogo, ou uma dramatização, ou qualquer outra coisa, eu consideraria que meu tempo de serviço terminou. Ouvir e reagir à palavra de Deus é fundamental para o que a igreja é.
  • “Bem-aventurados são os que ouvem a palavra de Deus e a guardam!” (Lc 11.28).
  • A igreja primitiva se reunia para se devotar à “doutrina dos apóstolos” e à “comunhão” (At 2.42).
  • Paulo diz: “a fé vem pela pregação, e a pregação, pela palavra de Cristo” (Rm 10.17).

Ao fim da vida de Paulo, sentado na prisão, escrevendo o que poderia ser a sua última carta para o seu jovem discípulo, Timóteo, Paulo diz: “Conjuro-te, perante Deus e Cristo Jesus, que há de julgar vivos e mortos, pela sua manifestação e pelo seu reino: prega a palavra” (2Tm 4.1-2).

Um dia, Timóteo, você estará diante de Deus e prestará contas do seu ministério, e a pregação é o que você irá querer ter feito entre hoje e aquele dia. Essa é uma colina na qual vale a pena morrer.

  • O Evangelho. O evangelho também é uma colina na qual vale a pena morrer. Comprometa o evangelho ou substitua o nosso único substituto, Jesus Cristo, por qualquer coisa, e a aliança entre o pastor e o rebanho está quebrada. Agora, as tentações para comprometer o evangelho são raramente claras. Não é como se alguns membros da igreja aparecessem no seu gabinete pedindo que você pregue a partir do Livro de Mórmon. Elas provavelmente serão mais sutis. “Pastor, o senhor não pode pegar mais leve com todo esse negócio de depravação? Por que não uma série de dez semanas sobre corpos saudáveis ou casamentos saudáveis?”  Eu sei de um ministro de música que disse o seguinte ao seu pastor: “Eu gostaria de excluir as três músicas que o senhor escolheu sobre o sacrifício de Cristo; o senhor fez um conjunto sangrento com a música de domingo!”  O ministro de música estava ofendido com todo aquele sangue!

Novamente, eu vou parar com uma lista muito curta; apenas duas colinas onde morrer. Ao fazer isso, eu deixo para você, leitor, o trabalho de considerar seriamente quantas questões primárias existem na igreja pelas quais vale a pena morrer.

Eu deixarei você com dois pensamentos finais. Primeiro, o que estamos realmente falando é sobre como reformar uma igreja local. A primeira regra de ouro em uma situação de reforma é: não reforme nada que você não ame. Eu não estou falando sobre amar eclesiologia; estou falando sobre amar um grupo específico de pessoas em uma igreja local. Se você não ama aquele grupo de pessoas, você será muito duro e muito rápido em sua reforma.

Segundo, um velho texano me disse quando eu estava nos meus vinte anos: “Matt, jovens tendem a superestimar o que eles podem fazer no curto prazo e subestimar o que eles podem fazer no longo prazo”. Eu não acho que eu tenha percebido plenamente a verdade daquela afirmação até agora, chegando aos meus quarenta. Nós precisamos ser pacientes com as nossas congregações da mesma maneira que precisamos ser pacientes com os nossos filhos. Não podemos esperar que congregações mal ensinadas entendam as profundas verdades da fé e as apliquem, assim como não podemos esperar isso de nossos filhos pequenos. Mas podemos ser pacientes, ensinar e esperar no Senhor.

Tradução: Alan Cristie


Autor: Matt Schmucker

É diretor executivo do Ministério 9Marcas. É um dos presbíteros da Igerja Batista Capitol Hill, em Washington, DC. É graduado na área de finanças e marketing, e vive em Washington, com sua esposa e 5 filhos.

Parceiro: 9Marks

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O ministério 9Marks tem como objetivo equipar a igreja e seus líderes com conteúdo bíblico que apoie seu ministério.

Ministério: Ministério Fiel

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Ministério Fiel: Apoiando a Igreja de Deus.

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