sexta-feira, 22 de novembro
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Santificação e conversão

Qual a importância dessa pergunta? Essa não é uma pergunta abstrata sobre teologia; é uma questão do mundo real tanto para o evangelismo quanto para o ministério. Ela está no cerne de uma das maiores pragas do evangelicalismo – o membro de igreja que não é convertido. Essa pergunta está na raiz da controvérsia da “salvação pelo senhorio”, bem como da questão problemática do assim chamado “crente carnal”, dois assuntos pastorais intensamente práticos.  Além disso, esse problema se relaciona diretamente com os pais cristãos que anseiam pela conversão de seus filhos. Colocando a pergunta de uma outra forma, uma pessoa que não vive como um cristão dedicado pode ir para o céu? Se não, e se dizemos que uma vida cristã é necessária para a salvação, não estaríamos contradizendo o ensino bíblico da salvação pela graça, e não pelas obras?

O que é a santificação? De acordo com a pergunta 38 do Catecismo Batista, “Santificação é a obra da livre graça de Deus (2 Tessalonicenses 2.13), pela qual nós somos renovados em todo o nosso ser, segundo a imagem de Deus (Efésios 4.23,24) e somos capacitados mais e mais a morrermos para o pecado e vivermos para a retidão (Romanos 6.4, 6)” (Isso é idêntico à pergunta 35 do Breve Catecismo de Westminster). Regeneração é o novo nascimento, santificação é o crescimento que necessariamente resulta dele. Justificação é a declaração de Deus de que um pecador que crê é justo por conta dos méritos de Cristo imputados a esse pecador. A santificação é o crente saindo do tribunal onde Deus, de uma vez por todas, o declarou justo, e imediatamente iniciando o processo pelo qual o Espírito de Deus o capacita a, cada vez mais, se conformar à justiça de Cristo, tanto internamente quanto externamente. Jonathan Edwards falou sobre o inevitável desejo do cristão pela santificação: “A natureza de alguém que é um recém-nascido espiritualmente é ter sede de crescer em santidade, assim como é a natureza de um bebê recém-nascido ter sede do leite de sua mãe.”* O processo é progressivo, mas nunca é completo nesta vida. A santificação é finalmente completa na glorificação.

Em um sentido, podemos dizer que a santificação não tem nenhuma relação com a regeneração ou com a justificação. E, ainda assim, podemos dizer que ela tem toda relação com o fato de alguém demonstrar que já as experimentou. (Note declarações semelhantes a “Nós sabemos que já passamos da morte para a vida, porque…”  na carta de 1 João). A santificação sozinha não salva, mas não há salvação sem ela. Como Paulo disse aos crentes de Tessalônica:  “… Deus vos escolheu desde o princípio para a salvação, pela santificação do Espírito e fé na verdade” (2 Tessalonicenses 2.13). A experiência de salvação começa com a regeneração e a justificação, continua com a santificação e é completa na glorificação.  Todos que são regenerados e justificados estão sendo santificados. Todos que estão sendo santificados serão, finalmente, glorificados. Embora possamos distinguir entre regerenação, justificação, santificação e glorificação, nós não devemos separá-las. Em outras palavras, a pessoa que verdadeiramente experimenta uma irá experimentar todas elas (e na ordem que está listada).

Então, o antigo resumo teológico de que nós “fomos salvos, estamos sendo salvos e seremos salvos” se aplica aqui. A santificação não está inclusa na parte do “fomos salvos” da salvação, mas é um sinônimo da parte do “estamos sendo salvos”.  E sem santificação, não há o “seremos salvos”. Pois como Hebreus 12.14 ensina: “Segui a paz com todos e a santificação, sem a qual ninguém verá o Senhor”.

Como eu busco “…a santificação sem a qual ninguém verá o Senhor?”  Diferente da regeneração, há muito esforço humano cheio do Espírito envolvido na santificação. Por um lado, “Deus é quem efetua em vós tanto o querer como o realizar, segundo a sua boa vontade” (Filipenses 2.13). Por outro lado, em 1 Timóteo 4.7, recebemos essa ordem: “Exercita-te, pessoalmente, na piedade”.  Deus usa os meios de graça para nos santificar, sendo os principais deles as disciplinas espirituais que fazemos pessoalmente e corporativamente. No âmbito pessoal, elas incluem o receber da Palavra de Deus, a oração, a adoração particular, o jejum, o silêncio, a solidão etc. Isso é equilibrado pelas disciplinas que praticamos com a igreja: a adoração pública, o ouvir da palavra de Deus pregada,  a oração corporativa, a comunhão etc. E em tudo isso, nossa confiança não está em nós mesmos, mas em Deus. Como Paulo coloca: “Estou plenamente certo de que aquele que começou boa obra em vós há de completá-la até ao Dia de Cristo Jesus” (Filipenses 1.6).

Leitura adicional:

Bíblica: Gálatas; 1 João

Teológica: Jonathan Edwards, “Afeições Religiosas” [Religious Affections]

Prática: Jerry Bridges, “A Disciplina da Graça” [The Discipline of Grace]

Notas:

*Jonathan Edwards, The Works of Jonathan Edwards, vol. 2, Perry Miller, gen. ed., Religious Affections, ed. John E. Smith (New Haven, CT: Yale University Press, 1959), página 366.


Autor: Donald Whitney

Donald S. Whitney serve no Southern Baptist Theological Seminary (anteriormente estava na Midwestern Baptist Theological Seminary, onde ensinou sobre formação espiritual por dez anos). Ele é autor de seis livros, incluindo Spiritual Disciplines for the Christian Life. É um palestrante reconhecido, especialmente no que se refere à espiritualidade pessoal e congregacional. Ele tem servido ao ministério pastoral há 24 anos.

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