O texto abaixo foi extraído do livro: O Que Estão Ensinando aos Nossos Filhos, de Solano Portela, da Editora Fiel.
O que é educação cristã?
Se perguntarmos a um grupo qualquer de pessoas, “o que é Educação Cristã?” certamente obteremos as mais variadas respostas. Com efeito, o conceito de “Educação Cristã” não é algo claro e definido na mente da maioria. Mesmo os crentes, que teriam um interesse especial pelo assunto, possuem conceitos mal entendidos. O problema encontrado não é a ausência de opiniões, mas a multiplicidade de ideias errôneas sobre o tema, que fogem ao ideal bíblico da questão, ou talvez a confusão de termos que exigem definições mais precisas.
Temos três termos que precisam ser definidos: (1) Educação Secular, (2) Educação Religiosa e (3) Educação Cristã. Educação Secular é o sistema de educação desenvolvido com a ausência de Deus e de sua interação com a criação como premissa. É aquele que impera em nossas escolas, do qual temos tratado nos capítulos anteriores da primeira seção (“O Cenário”), que escudado em uma suposta auréola de “neutralidade”, distorce a realidade, pois apresenta apenas uma visão horizontal de vida. Nele falta o transcendente; falta o contexto de propósito e o relacionamento entre o Criador, a criação e as criaturas.
Por Educação Religiosa, definimos a instrução específica, no campo cristão, sobre as doutrinas da Bíblia; sobre o caminho e plano da salvação; sobre os objetivos maiores de vida de cada pessoa e suas responsabilidades para com o Criador de tudo e de todos. Educação Religiosa seria o campo de atuação legítimo da esfera da igreja, e das diversas ferramentas empregadas por esta para atingir objetivos educacionais, como a Escola Dominical, aulas de doutrina, evangelismo, etc. Ocorre que essa área é, muitas vezes, chamada de Educação Cristã. Congressos de Educação Cristã tratam, em sua maioria, de preparar e equipar professores para a Escola Dominical. Mestrados de Educação Cristã são, via de regra, oferecidos por seminários, para preparar pessoas para instrução religiosa. Nesse sentido, o termo mais adequado, para essa esfera do ensino seria Educação Religiosa, e não Educação Cristã.
O termo Educação Cristã poderia ficar restrito à designação da instrução, em todas as áreas de conhecimento, que é ministrada sob o reconhecimento do Deus Criador e daquilo que nos é revelado em sua Palavra sobre os seus atributos e nossas pessoas. Assim ele é utilizado nos países de língua inglesa. Assim tem sido utilizado também em nossa terra, mas sempre correndo o risco de confusão com o termo Educação Religiosa. Por essa razão, temos migrado para utilização do termo mais longo, mas mais claro e preciso: Educação Escolar Cristã. Esse último termo é o mais utilizado, neste livro.
No entanto, o mais importante é firmarmos a compreensão do conceito e das implicações dessa visão, no processo educacional. É necessário até uma avaliação criteriosa da nossa filosofia de vida, pois o futuro de nossa pessoa e dos nossos filhos pode estar em grande dependência da clareza de visão que tivermos sobre este tema e da proximidade que as nossas ideias estiverem das prescrições encontradas na Palavra de Deus.
O objetivo da Educação Escolar Cristã deve ser o de proporcionar à pessoa que está sendo educada, não apenas a obtenção de conhecimentos variados uns dos outros e da sua própria constituição física e moral, mas sim o de conceder o entendimento de uma visão integrada e coerente de vida, relacionada com o Criador e com os Seus propósitos. Quando examinamos o Salmo 19, encontramos nele esta “Visão Unificada de Vida”.
Podemos dividir este Salmo em três partes:
1. A primeira é encontrada do versículo primeiro ao versículo seis. Nestes versos lemos sobre as maravilhas da criação desde a conhecida declaração que “Os céus anunciam ao mundo a glória de Deus” (v. 1) até aquelas que nos falam da harmonia reinante em uma natureza criada e formada por um Deus soberano e todo-poderoso.
2. A segunda parte é aquela compreendida pelos versículos sete a dez. O resultado da obra criativa de Deus é aqui entrelaçado com uma descrição da Sua lei. Lemos que esta lei “é perfeita” (v. 7), e que o homem é comandado a obedecê-la (v. 8), sendo não apenas uma obrigação de cada um, mas ela é proveitosa e útil aos que a seguem (v. 9 e 10). A criação é inteligível em maior profundidade e veracidade somente sob o prisma desta lei de Deus.
3. Nos versículos onze a quatorze, temos a terceira e última parte do Salmo, dando continuidade a exposição desta inter-relação de Deus, Sua criação, Sua ordem e Suas criaturas. Aqui são apresentadas considerações morais sobre o comportamento das pessoas. Nesta divisão vemos introduzidos os conceitos de “correção” (v. 11), “pecado” (vv. 12 e 13) e a obrigação que todas as pessoas têm de glorificar a Deus em tudo (v. 14).
Poderíamos agora perguntar: “Mas o que tem isto a ver com Educação Escolar Cristã?” Respondemos: é justamente essa visão unificada de vida proporcionada neste Salmo que procuramos atingir pela aplicação da Educação Escolar Cristã. Vejamos:
(a) Em sua primeira parte o Salmo nos apresenta o domínio da natureza como sendo um direito de Deus, por causa de sua posição de Criador e Senhor de sua criação. Em Gênesis 1.28 (e outras passagens) este domínio é outorgado ao homem. Vemos então a necessidade de exercer tal domínio através de um conhecimento das leis que regem a criação. A aquisição deste conhecimento é, portanto, teologicamente legitimada na interpretação correta das Escrituras. (b) Estes conhecimentos, entretanto, não podem ser separados ou divorciados da lei de Deus, de sua vontade e propósitos para a humanidade. Eles devem ser ministrados e recebidos dentro de uma estrutura de pensamento que reflita as premissas e proposições bíblicas sobre a natureza do homem e o seu estado atual. Isto é o que lemos na segunda parte do Salmo. (c) Finalmente, na terceira e última parte vemos o reflexo de todas estas verdades na vida prática das pessoas, como servos de um Deus todo-poderoso. Ou seja, os fatos apreendidos, a forma como os relacionamos entre si e ao Criador, têm importantíssimos reflexos em nossa formação moral e em nosso comportamento como cidadãos.
Se conseguirmos verificar e aceitar a necessidade de possuirmos uma filosofia unificada de vida que apresente a visão bíblica sobre a absorção de conhecimentos e a aplicação destes em nossa existência, devemos ainda explorar com maior detalhamento certas definições e princípios que podem nos auxiliar a clarificar o nosso conceito de “Educação Escolar Cristã”.