Charles e Robert
Em 1809 nasceram dois meninos no Reino Unido: um, em Shrewsbury, na Inglaterra; e o outro, em Mount Florida, na Escócia. O primeiro se chamava Charles; e o segundo, Robert, e este era sete meses mais novo do que aquele. Charles era filho de uma família muito culta, e Robert, de uma família rica. Os dois rapazes talvez nunca tenham se encontrado.
Ambos, porém, foram estudar medicina na Escócia no mesmo ano, em 1825, quando contavam com dezesseis anos de idade; Charles, na Universidade de Edimburgo, e Robert, na Universidade de Glasgow. Depois de formados, ambos fizeram longas viagens de navio no exercício de suas profissões. Charles, como naturalista, deu uma volta ao mundo, numa viagem que durou quase cinco anos. Robert, como médico de bordo, foi duas vezes até Bombaim, na Índia, tendo a oportunidade de conhecer muitos portos, inclusive Funchal, na Ilha da Madeira. Tal como Robert faria mais tarde, Charles também esteve no Brasil, embora apenas em rápidas incursões. Os dois ficaram impressionados com algumas cenas chocantes que viram durante suas viagens. Charles ficou chocado com a situação social dos nativos da Austrália e Nova Zelândia, transformados em escravos pelos próprios colonizadores europeus.
E Robert, com as condições sociais da Índia, tendo sentido, em primeira mão, a grande necessidade de médicos no Oriente. Ambos se casaram em 1838, aos vinte e nove anos; Charles, com sua prima, Emma Wedgwood, e Robert, com Margareth Crawford.
Não obstante essas coincidências, os dois britânicos eram religiosamente diferentes. Depois de abandonar o curso de medicina (tinha pavor das cirurgias), Charles matriculou-se na Universidade de Cambridge para estudar a Bíblia e se tornar um clérigo (1828). Nesta ocasião, ele professava sua crença na verdade absoluta e literal das Escrituras Sagradas. Já Robert, conquanto a família desejasse muito que ele estudasse teologia e se tornasse um pastor, foi se desfazendo da bagagem religiosa recebida no lar. Tornandose crescentemente incrédulo e agnóstico, passou a ter aversão às leis do Criador, o que o deixava mais em liberdade para satisfazer os desejos que lhe viessem ao coração, sem temer as conseqüências e penalidades.
Aconteceu, porém, que os dois moços experimentaram significativas mudanças religiosas na década de 1830, durante os seus vinte e poucos anos. Charles desistiu da carreira eclesiástica, formou-se em artes e tornou-se agnóstico. Robert renunciou a sua incredulidade e passou a ter profundo respeito por Deus. O que levou Charles a abandonar sua fé foram suas pesquisas científicas.
O que levou Robert a abraçar a fé foi o estudo das Escrituras, contando com o decisivo testemunho e influência de uma paciente cristã, que enfrentou grandes sofrimentos com serenidade e fé. A partir dessas diferentes experiências revolucionárias, Charles e Robert tornaram-se notáveis, cada um em sua área. O primeiro tornou-se cientista. O segundo tornou-se médico missionário. O trabalho de Charles levou muita gente a desacreditar da autoridade das Sagradas Escrituras. O trabalho de Robert levou muita gente a amar a Bíblia e a praticá-la como sua norma de fé e conduta. No ano de 1839, quando ambos estavam com trinta anos, Charles publicou o seu primeiro livro/ relatório de pesquisas em história natural e geologia (fruto de sua viagem ao redor do mundo), e Robert foi ordenado pastor presbiteriano em Londres.
Charles se dedicou à pesquisa e aos seus livros, quase todo o tempo. Era extremamente apegado à esposa e aos filhos. Depois de sua conversão, Robert estudou teologia e se tornou missionário médico na Ilha de Madeira (1838-46) e no Brasil (1855- 76). Casado duas vezes, nunca teve filhos. Charles morreu em abril de 1882, com a idade de 73 anos. Robert morreu 6 anos depois, em janeiro de 1888, com 79 anos. O primeiro está sepultado na Abadia de Westminster, em Londres, e o segundo, num modesto cemitério em Edimburgo.
O nome completo do naturalista é Charles Robert Darwin (1809- 1882). O nome completo do missionário médico é Robert Reid Kalley (1809-1888). O primeiro é mais conhecido por sua teoria da evolução, que causou uma revolução na ciência biológica, mediante a publicação de seu mais importante livro sobre a origem das espécies por meio da seleção natural. O segundo é mais conhecido por ser um missionário protestante pioneiro, de cujo trabalho originaram-se importantes denominações evangélicas de língua portuguesa, tais como aIgreja Presbiteriana de Portugal, a Igreja Evangélica Congregacional do Brasil e a Igreja Cristã Evangélica do Brasil. Segundo testemunhos de pessoas mais próximas, Charles Darwin nunca teria se livrado de certos conflitos íntimos, mesmo com a leitura da Bíblia e as orações de sua esposa, que era cristã.
Robert Kalley
Robert Reid Kalley nasceu em 8 de setembro de 1809, em Mount Florida, nos arredores de Glasgow, Escócia. Foi batizado aos oito dias de vida na tradicional e antiga Igreja Presbiteriana da Escócia. Era filho de Robert Kalley, abastado negociante e dedicado membro da igreja, que faleceu um ano mais tarde. Sua mãe era Jane Reid Kalley, que voltou a casar-se, morrendo, porém, em 1815, deixando o filho para ser criado pelo padrasto. Este também era membro da igreja e desejou que o jovem seguisse a carreira ministerial.
Em 1829, Kalley obteve o diploma de cirurgião e farmacêutico pela Faculdade de Medicina e Cirurgia de Glasgow, tendo feito os seus estudos práticos no Hospital Real dessa cidade. Desde a juventude, havia sido um incrédulo e agnóstico, mas graças ao testemunho de uma paciente foi conduzido a estudar cuidadosamente as Escrituras Sagradas. Esses estudos o conduziram à conversão.
Logo após sua conversão, Kalley foi despertado para a obra missionária. Um fato marcante foi a morte de Robert Morrison (1782-1834), missionário de origem escocesa e presbiteriano ligado à Sociedade Missionária de Londres, que foi o pioneiro protestante em Cantão, China. Kalley sentiu que a morte de Morrison representava um desafio e um chamado para ele. Inicialmente, portanto, Kalley pretendia evangelizar a China, mas, em conseqüência do grave estado de saúde de sua esposa, Margaret, resolveu ir para a Ilha da Madeira, na costa portuguesa. Chegaram a Funchal no dia 12 de outubro de 1838. Naquela cidade havia uma grande colônia de escoceses. No ano seguinte, Kalley foi ordenado ao ministério pastoral, no dia 8 de julho.
Nessa altura, o protestantismo permanecia proibido a todos os portugueses, mesmo após a abolição da Inquisição em Portugal, em 1821.
Apenas aos estrangeiros era permitida a prática de outras religiões que não a Católica, desde que não fosse praticada em língua portuguesa e que não fosse praticada em edifícios que pudessem ser identificados externamente, como igrejas. Só após a Revolução dos Cravos, de 1974, é que se pôde falar de liberdade religiosa em Portugal, o que possibilitou oficialmente a criação de comunidades protestantes. Em 1840, o Dr. Kalley fundou um hospital em Funchal. Logo se deu conta de que os madeirenses demonstravam uma surpreendente falta de conhecimento da doutrina cristã e iniciou o trabalho missionário.
Foram fundadas 20 escolas, distribuídas Bíblias e começado um trabalho de missão que encontrou acolhimento. Robert Kalley fundou a primeira rede de escolas em Portugal que ofereciam gratuitamente instrução primária a crianças e adultos. Cerca de dois mil madeirenses se interessaram por esta nova comunidade.
No início de 1843, a hostilidade latente do clero deu início a um movimento anti-herético. Kalley foi preso, acusado de apostasia, heresia e blasfêmia, crime considerado inafiançável, e permaneceu recluso por cinco meses. Em 1845, foi fundada ilegalmente (as igrejas protestantes permaneciam proibidas) em Funchal a primeira congregação protestante portuguesa, a Igreja Presbiteriana Portuguesa, que tem atualmente o nome de Igreja Evangélica Presbiteriana Central.
A nova igreja seria perseguida pelas autoridades madeirenses. Em agosto de 1846, a casa dos Kalleys foi invadida e destruída por homens que tinham ido eliminá-lo. Com a ajuda de vários portugueses da recémformada comunidade protestante, o casal fugiu para os Estados Unidos. Kalley teve de se disfarçar para poder entrar no navio inglês que o salvou. Sua mulher e familiares obtiveram a proteção do consulado britânico. Sua casa, móveis, equipamento médico, biblioteca e manuscritos foram todos destruídos pelo incêndio, cuja fumaça ele pôde ver do navio.
O hospital foi saqueado e muitas das escolas do interior queimadas, bem como todas as Bíblias e literaturas evangélicas encontradas. Dois mil portugueses foram expulsos da ilha da Madeira pelas autoridades portuguesas, sendo refugiados em Trinidad e Tobago, nas Bermudas e nos Estados Unidos, onde os madeirenses evangélicos estabeleceram-se nas cidades de Springfield e Jacksonville, no Estado de Illinois. Destas comunidades vieram alguns missionários para Portugal e também para o Brasil, tendo sido fundada em 1870 a Igreja Presbiteriana de Lisboa.
Kalley no Brasil
Depois de passar algum tempo na Escócia e na Inglaterra, Kalley trabalhou como médico missionário durante dois anos na Ilha de Malta e outros dois na Palestina (1850-1852), onde organizou uma pequena igreja. Sua primeira esposa veio a falecer no início de 1852. No final daquele ano, em 14 dezembro, ele contraiu núpcias com Sarah Poulton Wilson (1825- 1907), mulher refinada e talentosa, a quem conheceu na Palestina. Sarah nasceu em Nottingham, Inglaterra, sendo sobrinha de um rico industrial e filantropo, membro destacado do Parlamento Britânico e líder da igreja congregacional. A família também tinha ligações com os Irmãos de Plymouth por intermédio de outro tio de Sarah. Esta recebeu uma educação esmerada e cultivou muitos dotes artísticos, revelados mais tarde na poesia, na pintura e na música. Foi grande defensora do nascente movimento das Escolas Dominicais.
O Dr. Alderi de Souza Matos, num excelente artigo, destaca que “esse casamento contribuiu para que Kalley eventualmente se afastasse de suas raízes presbiterianas e se voltasse para o congregacionalismo”.
Logo após seu casamento com Dona Sarah, Kalley partiu para os Estados Unidos. Nos anos 1853 1854 ficou ministrando aos refugiados madeirenses naquela nação. Enquanto residiu nos Estados Unidos, impressionou-se com o Brasil através do livro publicado em 1845, “Reminiscências de viagens e Permanências nas Províncias do Sul e Norte do Brasil”, de autoria do Rev. Daniel P. Kidder (1815-1891), que esteve no Brasil onde distribuiu Bíblias. Ao ler esta obra, Kalley ficou impressionado com a descrição da cidade do Rio de Janeiro e outros lugares.
Em 9 de abril de 1855, partiu com destino ao Brasil. Em 10 de maio de 1855, chegou ao Rio de Janeiro e subiu para morar em Petrópolis, na residência antes habitada pelo embaixador dos EUA, Mr. Webb. Numa tarde de domingo, a 19 de agosto de 1855, Kalley e sua esposa instalaram em sua residência a primeira classe de Escola Dominical, contando com cinco crianças, filhos de cidadãos americanos. Foi contada a história do profeta Jonas. Os Kalleys ficariam no Brasil por 21 anos, cuidando de enfermos e salvando almas.
Desde que chegou a Petrópolis, Kalley procurou relacionar-se com as autoridades civis, inclusive com o imperador D. Pedro II, do qual se tornou amigo. Como seu vizinho, este foi visitá-lo várias vezes para ouvir sobre as suas viagens através da Palestina. A influência crescente de Kalley junto a destacados brasileiros contribuiu para a ampliação da liberdade religiosa no Brasil.
O Rio de Janeiro de 1855 era uma cidade com cerca de 300 mil habitantes. A cidade contava com cerca de cinqüenta igrejas e capelas espalhadas pela cidade. O Catolicismo Romano era a religião oficial do Império Brasileiro.
As igrejas que resultaram do trabalho de Kalley na Ilha da Madeira (onde seus discípulos eram conhecidos como “calvinistas”), bem como aquelas fundadas por refugiados madeirenses no Caribe e nos Estados Unidos, eram todas presbiterianas.
No Brasil, Kalley não organizou uma igreja nos moldes presbiterianos. Aos poucos, ele foi assumindo uma eclesiologia congregacional. Quando veio para o Brasil, suas convicções congregacionalistas já estavam bastante definidas: não batizava mais crianças, e organizava congregações locais autônomas.
Com o desenvolvimento do trabalho no Rio de Janeiro, Kalley escreveu para amigos e antigos companheiros de Ilinnois, convidando-os a virem auxiliá-lo no Brasil. O primeiro a chegar foi William D. Pitt (1828-1870), inglês que fora aluno de Dona Sarah em Torquay. Pouco depois vieram Francisco da Gama e sua mulher, D. Francisca, e Francisco de Souza Jardim e família. Kalley batizou o português José Pereira de Souza Louro em 8 de novembro de 1857. No dia 11 de julho de 1858, organizou a Igreja Evangélica Fluminense ¸ com 14 membros, sendo batizado naquele dia o primeiro brasileiro, Pedro Nolasco de Andrade. Esta é a primeira igreja “de missão” que conseguiu lançar raízes permanentes no país. Todas as outras igrejas existentes naquela época ou anteriormente eram constituídas de estrangeiros. Kalley é, deste modo, o pai do congregacionalismo brasileiro.
O seu trabalho influenciou outros missionários a dedicarem seus esforços aos brasileiros, e seu modelo de evangelização e culto exerceu uma influência profunda e duradoura na cultura evangélica brasileira. Em fins de 1873, o missionário foi para Recife, onde fundou a Igreja Evangélica Pernambucana. Em 1875, foi eleito co-pastor da Igreja Fluminense o Rev. João Manoel Gonçalves dos Santos (1842-1928), um membro da igreja que havia estudado, desde 1872, no Pastor´s College, de Charles H. Spurgeon (1834-1892), em Londres, recomendado e auxiliado nisto pelo Dr. Kalley, que providenciara a sua ida para Londres. O Rev. Gonçalves do Santos, que na estima do missionário Salomão Luiz Ginsburg (1867-1927) “era um bom homem, mas extremamente conservador” , haveria de pastorear a igreja por quase quarenta anos.
Em 1876, Kalley preparou os 28 artigos que são até hoje a base doutrinária dos congregacionais brasileiros: Breve Exposição das Doutrinas Fundamentais do Cristianismo.
Acerca da doutrina do batismo, diz o artigo 25: “O Batismo com água foi ordenado por nosso Senhor Jesus Cristo como figura do Batismo verdadeiro e eficaz, feito pelo Salvador quando envia o Espírito Santo para regenerar o pecador. Pela recepção do Batismo com água, a pessoa declara que aceita os termos do pacto em que Deus assegura aos crentes as bênçãos da salvação”. Outra característica forte de Kalley era sua forte ênfase à santidade do domingo. Um exemplo do seu “sabatarianismo” pode ser visto quando, no Rio de Janeiro, proibiu os membros da igreja de alugarem uma carruagem no domingo para irem a um funeral! Kalley também expôs publicamente seu ponto de vista contrário à escravidão africana no Brasil.
O professor Antônio Gouvêa de Mendonça conclui que Kalley era um legítimo representante do puritanismo escocês mesclado com o wesleyanismo metodista. A Breve Exposição declara, em seu artigo 19, que a igreja de Cristo é composta “de todos os sinceros crentes no Redentor, os quais foram escolhidos por Deus, antes de haver mundo, para serem chamados e convertidos nesta vida e glorificados durante a eternidade”.
Todavia, como destaca o Dr. Alderi Matos, a maior parte dos artigos poderia ser aceita por qualquer evangélico, reformado ou não.
Os elementos específicos do calvinismo, tais como a soberania de Deus, a eleição divina e a perseverança dos santos, não são enfatizados.
O Dr. Kalley partiu definitivamente para a Escócia no dia 10 de junho de 1876, vindo a falecer em Edimburgo em 17 de janeiro de 1888. Dona Sarah faleceu em 1907, também em Edimburgo, havendo o Rev. João Manoel Gonçalves dos Santos assistido o funeral e tomado parte na cerimônia fúnebre. Ela faleceu aos 82 anos de idade, deixando-nos uma herança inigualável no campo da hinódia evangélica brasileira.
Os Kalleys e os batistas brasileiros
Para a obra batista brasileira, o trabalho do casal Kalley foi de grande significado. Os Kalleys abriram importantes caminhos, deixando um legado de preciosas conquistas das quais os batistas desfrutaram. Em 5 de agosto de 1882, numa carta para Junta de Missões Estrangeiras dos Batistas do Sul (EUA), o pioneiro batista William Buck Bagby (1855- 1939) escreve de Campinas (SP):
(…) Preguei ultimamente em vários lugares ao redor de Santa Bárbara para os brasileiros e portugueses (destes, há muitos aqui chegados há pouco) (…) Eles sempre parecem surpresos e alegres com o fato de ouvirem os cultos em sua própria língua, acostumados que estão a ouvir só o latim nas suas reuniões religiosas do romanismo.
Geralmente tentam cantar conosco. Neste particular, temos que ser gratos agora ao venerável Dr. Kalley, o qual, anos atrás, pregou neste país e organizou uma igreja independente no Rio.
Dona Henriqueta Rosa Fernandes Braga (l909-l983), em seu livro sobre osSalmos e Hinos, lembra que este hinário, organizado pelo casal Kalley, foi a primeira coletânea de hinos evangélicos em português organizada no Brasil e que foi usado também pelos batistas, até que tivessem o seu próprio hinário, o Cantor Cristão, o qual foi substancialmente alimentado pelo conteúdo deSalmos e Hinos. A historiadora batista Betty Antunes de Oliveira destaca que o primeiro pastor batista brasileiro, Antonio Teixeira de Albuquerque (1840-1887), dois dias antes de falecer, o que ocorreu aos 9 de abril de 1887, em Alagoas, pediu que fosse cantado o hino “Eis-nos, ó Pastor Divino”, traduzido para o português por Dona Sarah Kalley. Esse hino foi publicado na terceira edição deSalmos e Hinos em 1868, e Zachary C. Taylor (1851-1919) o transcreveu no jornal “Echo da Verdade”, em maio de 1887. Henriqueta Fernandes Braga conclui: “Como o Rev. Teixeira de Albuquerque faleceu em 1887, torna-se evidente o uso de Salmos e Hinos nas igrejas batistas da época, pois a primeira edição do Cantor Cristão – folheto com dezesseis hinos – só foi publicada em 1891, quatro anos após sua morte”.
Outro exemplo da influência dos Kalleys deu-se com a vinda para o Brasil do missionário Salomão Luiz Ginsburg (1867-1927), que resultou de um apelo que proveio da Senhora Sarah Kalley. Judeu polonês e filho de um rabino, convertido a Cristo, Ginsburg viria a se tornar um dos mais incansáveis pioneiros batistas no Brasil. Veja como o próprio Ginsburg, que estava no Reino Unido, descreve este processo:
“O Dr. Guinness chamou-me ao seu escritório e me disse que uma senhora recentemente vinda do Brasil, onde ela e seu marido, agora enfermo, gastaram muitos anos, estava ansiosa por mandar um missionário para aquele país, sob as seguintes condições: ela pagaria a passagem, as despesas de instalação e cem libras esterlinas; o candidato ao campo assumiria o compromisso de aprender a língua e trabalhar um ano às suas próprias custas, como missionário independente. O Dr. Guinness pensou que eu seria o homem para esse empreendimento. Pedi-lhe, então, tempo para pensar e orar a esse respeito. A proposta me interessou.
(…) No dia seguinte, dei a decisão ao Dr. Guinness. Aceitei a proposta. Ainda que eu não a conhecesse, soube depois que a senhora em questão era a Sra. Kalley, esposa do fundador da Missão Congregacional no Brasil. Fui convidado a passar uma semana com ela em sua residência, em Edimburgo, onde supus que seria devidamente inspecionado e precisaria dar uma satisfação. Mas não demorou que fosse avisado da minha partida para o Brasil (…)” Para uma biografia completa de Robert Kalley, recomendo o livro Uma Jornada no Império, de William B. Forsyth, recém-lançado em português pela Editora Fiel.