Vivemos e namoramos numa sociedade moderna. Podemos assistir àquilo que quisermos, a qualquer hora e em qualquer lugar. É possível encomendar e receber na porta de casa qualquer comida em poucos minutos. Podemos “curtir”, flertar e enviar mensagens a partir da segurança e do conforto do sofá salpicado de migalhas de nossos flats. O mesmo egoísmo e a mesma impaciência são os principais ingredientes da onda de sexo pré-conjugal, conduzindo mais de metade de nós a essa entrega antes mesmo de concluir o ensino médio. Com algumas imagens geradas pelo computador, tudo parece liberdade e aventura, sem cercas ou filtros. Mas será que nos faltam liberdade e aventura mais plenas quando nos acomodamos a algo mais rápido, mais fácil e mais barato? E se você perceber que está deixando de comer rodízio de carne numa boa churrascaria por algumas poucas migalhas de cereais à mesa do café da manhã?
Ao olharmos para o namoro, inclusive na igreja, temos de admitir que muitos — a maioria — de nós erramos em tudo isso. Corremos para namorar assim que começamos o ensino médio, mas esperamos para nos estabilizar e casar apenas depois da formatura, após iniciar a carreira profissional e usufruir alguma liberdade. Entramos e saímos dos relacionamentos como se estivéssemos comprando um par de sapatos novos, removendo qualquer um que comece a apertar ou parecer desconfortável, e pegando qualquer um mais agradável no dia seguinte. Durante a maior parte do tempo, apreciamos a ideia de nos guardar sexualmente, mas não nos momentos mais importantes. Enquanto isso, o mundo está sempre inventando tecnologias novas e mais fáceis de usar, a fim de nos ajudar a nos entregar cedo demais a alguém que ainda não conhecemos bem. Amamos ser amados, mas não estamos completamente certos do que realmente seja amor.
Todo o jogo de namoro se alimenta de adrenalina e ambiguidade — sempre mostrando o suficiente para despertar o interesse e a curiosidade de alguém, mas nunca para responder às questões mais importantes. É um jogo de “gato e rato” sem os ratos (e eu acho que podemos concordar que nada é pior do que uma sala cheia de gatos). Atiramos iscas uns para os outros, com meias-verdades sobre os melhores aspectos de nós, sempre selecionando exatamente o que queremos mostrar — e a forma como mostramos —, revelando apenas o que possa atrair ou seduzir a outra pessoa. Hoje, o namoro tende a centralizar o mundo inteiro ao meu redor — meus interesses, meus amigos, minhas preferências. Muitos de nós acreditamos estar à procura de casamento quando batemos papo ou flertamos uns com os outros, mas, em verdade, só estamos à procura de nós mesmos — de nossa própria imagem e autoestima, de nossos próprios desejos egoístas, de nosso próprio ego. Estamos sempre projetando e nos posicionando para conseguir a atenção e a confirmação que almejamos, mas sem correr risco ou nos entregar demais durante esse processo.
Jesus nos convida a amar e namorar de uma forma diferente, de modos que resistam e se elevem acima das tendências em voga hoje entre os que ainda não casaram. Quando, numa sociedade, valor e identidade são aferidos por quem gosta de nós — e muitos gostam de nós —, Jesus nos lembra que já temos um valor muito maior do que sabemos e somos definidos por um amor muito maior que qualquer amor humano. Contra toda a ambiguidade do esconde-esconde, ele nos injeta intencionalidade, a liberdade de nos comunicar com clareza e cuidado no amor, e o requinte de conhecermos e sermos conhecidos nos relacionamentos. Enquanto tantos socializam de forma imprudente nesta “geração do eu”, Jesus nos liberta do egoísmo, mostrando-nos como pôr os interesses, as necessidades e os corações das outras pessoas acima dos nossos próprios, e ensinando-nos a recusar a autossatisfação à custa de nosso próximo. E, quando todo mundo acredita que tem direito imediato a tudo, ele nos separa como os estranhos e fortes, aqueles que estão dispostos e prontos a esperar. Se o namoro cristão — o processo intencional, altruísta e pleno de oração na busca por casamento — soa como uma escravidão, isso significa que não somos bem-sucedidos. Se a promiscuidade sexual descompromissada soa como liberdade, não somos bem-sucedidos. Talvez Jesus esteja pedindo mais de nós, mas ele faz isso para nos assegurar algo muito melhor.
Artigo adaptado do livro Ainda Não Casei: O plano de Deus para solteiros e namorados, de Marshall Segal, pela Editora Fiel.