Nós cristãos tendemos a falar muito sobre os heróis da fé da Bíblia. Nós olhamos, às vezes superficialmente, para as pessoas cujas histórias são escritas para nós e pensamos: “Eles são tão valentes. Por que eu não posso ser como eles?”. Suas vidas parecem ser tão livres do medo. Eles parecem permanecer fortes diante das circunstâncias difíceis. “O que há de errado comigo?”, pensamos. “Se eu sou uma cristã, por que eu luto contra a ansiedade? Por que eu não sou como esses grandes heróis?”.
É verdade que Deus tem trabalhado poderosamente na vida de pessoas através dos tempos. O capítulo 11 de Hebreus, o qual veremos mais de perto posteriormente, fala sobre a fé corajosa de homens como Moisés e mulheres como Sara. No entanto, se olharmos com mais cuidado, notaremos que muitos desses heróis passaram por grandes lutas contra o medo em algum momento.
Na verdade, foram essas lutas que os fizeram mais fortes ao longo da vida. O Senhor Jesus Cristo é o único que nunca sucumbiu ao temor pecaminoso, mesmo tendo sido tentado a fazê-lo da mesma maneira que nós somos hoje. Então, se quisermos procurar heróis da fé, nós teremos bastante dificuldade em encontrar mais do que um… mas esse ‘um’ é suficiente.
Exemplos de medo na Bíblia
Neste capítulo, tomaremos algum tempo para nos aprofundarmos um pouco na história do medo, ou melhor, do temor pecaminoso, na Bíblia. Eu acho que você ficará surpreendida e confortada ao saber que muitos dos heróis com os quais você está familiarizada na Bíblia eram pessoas como você: eles lutaram contra o medo. Neste capítulo, não apenas veremos alguns desses indivíduos, mas também tentaremos discernir o que os motivou a agirem da maneira como agiram. Vamos começar pelo primeiro livro, Gênesis.
O medo original – Adão e Eva
Como aprendemos anteriormente, o medo foi introduzido pela primeira vez à experiência humana no Jardim. Adão e Eva haviam desfrutado de doce e confiante comunhão um com o outro e com o seu Criador. Então, eles pecaram. Foi por causa do pecado que cometeram – o relacionamento quebrado com Deus e entre si – que eles sentiram pela primeira vez as consequências do medo: mais medo, relacionamentos quebrados e vergonha.
Quando eles ouviram o Senhor vindo visitá-los no Jardim, eles se esconderam. Adão estava com medo de que Deus o visse como ele estava: exposto, vulnerável e pecador. O medo que Adão sentiu de Deus gerou mais e mais pensamentos ímpios a respeito de seu Criador em seu coração.
Mas, mesmo antes de Adão e Eva se esconderem de Deus, o medo já desempenhava o seu papel. O que levou Eva a desobedecer ao seu Senhor dessa forma? Nós não sabemos. Podemos supor que ela temia poder estar perdendo algo que seria benéfico para si. Ela pode ter duvidado da sabedoria e do amor de Deus. Ou ter ficado com medo de que precisasse de alguma coisa que Deus não lhe havia dado. É difícil entender por que ela se sentiu assim, mas a Bíblia diz, com certeza, que ela foi enganada (2 Coríntios 11.3).
Após pronunciar o juízo que Adão e Eva mereciam, Deus, misericordiosamente, os cobriu com peles de animais. Em seguida, ele os expulsou do Jardim. Nunca mais o homem conheceria o tipo de vida que havia conhecido; nunca mais ele seria completamente livre da vergonha, constrangimento, autoconsciência e medo.
Mas, graças a Deus, esse não é o fim da história. Como cristãos, Deus está nos restaurando para o mesmo tipo de comunhão e liberdade que Adão e Eva conheceram, primeiramente com ele e, depois, um com o outro. A morte de Jesus é o meio que Deus usou para quebrar os muros que nos separavam (Romanos 5.1). Embora nós nunca tenhamos o que eles tiveram, porque lutaremos sempre contra o nosso pecado, ainda podemos conhecer uma enorme alegria e paz.
Com medo do perigo – Abraão
Anteriormente, mencionei que até mesmo os grandes heróis da Bíblia experimentaram o medo e suas consequências. Alguns capítulos depois de Adão e Eva, encontramos Abraão, um homem frequentemente tomado como um exemplo de alguém com grande fé. Em certos momentos, vemos Abraão muito bem: abandonando a sua terra de bom grado e obedientemente viajando para uma terra desconhecida; levantando sacrificialmente a faca que tiraria a vida de seu filho prometido, Isaque. Sim, realmente há vitórias significativas na vida de Abraão, não é mesmo?
Mas depois vemos um outro lado dele. Talvez esse seja o lado de Abraão com o qual você mais se identifique. Em duas ocasiões durante suas viagens, uma vez para o Egito e outra vez para uma terra chamada Gerar, Abraão mentiu para homens poderosos sobre Sara, sua bela esposa. Ele disse a esses homens que ela era sua irmã. Por quê? Porque ele achava que, se os reis dessas terras a vissem e soubessem que ela era sua esposa, eles o matariam para que pudessem tomá-la para si. Para ser franca, ele queria salvar a própria pele.
Abraão sabia que Sara seria a mãe do povo escolhido de Deus, mas ele ignorou os planos de Deus e a colocou em perigo. Foi apenas devido à graça restritiva de Deus que ela não acabou em um harém. Por causa de seu medo, ele pecou contra a sua esposa, enganou governantes, foi uma fonte de problemas para eles e, acima de tudo, desonrou a Deus. O medo de Abraão era lógico? Sim, provavelmente. Era pecaminoso? Sim, sem dúvida. Deus ainda foi capaz de usá-lo e transformá-lo em um homem de fé? Sim, e ele pode fazer o mesmo com qualquer uma de nós.
Medo causado pela dúvida – Sara
Em 1 Pedro, as mulheres são orientadas a seguirem os passos da esposa de Abraão, Sara. De certa forma, ela era um modelo para mulheres piedosas: ela seguiu seu marido, deixou sua casa e partiu para uma terra de promessas – uma terra que ela nunca havia visto.
Mas Sara lutou contra os seus próprios medos. Seu marido lhe contara a respeito da promessa de Deus de que teriam um filho e, à medida que os anos se passavam e ela permanecia estéril, ela se tornava mais e mais temerosa. Seu relógio biológico não estava apenas avançado; ele já havia parado. A Bíblia diz que o seu ventre “estava morto”. E assim, por medo, ela decidiu resolver o problema por si mesma. Abraão precisava de um herdeiro; ela ansiava por um filho, então ela armou um esquema: deu sua serva Agar ao seu marido para que ele pudesse engravidá-la e cumprir a promessa. Que turbilhão de problemas suas ações geraram! Na verdade, o problema entre os filhos de Israel e os filhos de Agar, que começou com o nascimento de Ismael, permaneceu durante séculos.
Depois, o Senhor foi visitar Abraão. “Dentro de um ano, eu visitarei você, e sua esposa terá um filho”, disse ele. Sara, que estava bisbilhotando por trás de uma cortina da tenda, riu-se no seu íntimo. Esse não era um riso de alegria ou júbilo, era um riso de descrença e cinismo. O Senhor confrontou o seu riso de incredulidade e disse: “Acaso, para o Senhor há coisa demasiadamente difícil?”. Mas Sara negou que havia rido, dizendo: “Eu não ri”. Por quê? Por- que ela tinha medo (Gênesis 18.10-15).
Abraão e Sara são apontados na Escritura como exemplos de pessoas de fé. Você consegue perceber como em si mesmos, em seu próprio poder, eles não eram realmente tão excelentes exemplos assim? O que, então, os torna exemplos de fé? A graça de Deus. Graça é o favor imerecido de Deus sobre os seus filhos apesar de seus defeitos. Nós analisaremos mais profundamente o papel da graça na superação dos medos no capítulo 11, mas, por agora, eu apenas quero que você tenha uma ideia de quão forte e amoroso Deus é. Ele trabalhou de forma poderosa por meio de Abraão e Sara, a despeito de suas fraquezas, e ele pode fazer o mesmo através de você e de mim.
“Eu não sou bom o suficiente” – Moisés
A história de Moisés é uma história bem conhecida para a maioria das pessoas. Ele foi salvo pela filha de Faraó de afogar-se e foi criado por ela no palácio como seu filho. Mas, quando Deus começou a falar-lhe sobre a libertação de seu povo, Moisés resolveu o assunto com as próprias mãos e matou um egípcio que estava oprimindo um de seus irmãos israelitas.
Moisés, então, teve que fugir para o deserto a fim de proteger a própria vida. Anos se passaram, e, com o tempo, os sonhos de Moisés de ser um libertador desapareceram. Então, ele teve um encontro com uma sarça ardente. À medida que Deus traçava seu plano para a libertação de seu povo, Moisés tornou-se cada vez mais temeroso. Certamente a ideia de voltar à nação mais poderosa do mundo, exigindo a libertação de escravos seria intimidadora. À medida que Moisés considerava o chamado de Deus, sua mente se enchia de medos –principalmente medo de que fosse malsucedido ou de que não fosse capaz de completar a tarefa. Reflita sobre o que ele disse a Deus e veja se as preocupações dele ecoam em seu coração.
• “Então, disse Moisés a Deus: Quem sou eu para ir a Faraó e tirar do Egito os filhos de Israel?” (Êxodo 3.11)
• “Respondeu Moisés: Mas eis que não crerão, nem acudirão à minha voz, pois dirão: O Senhor não te apareceu” (Êxodo 4.1).
• “Então, disse Moisés ao Senhor: Ah! Senhor! Eu nunca fui eloquente, nem outrora, nem depois que falaste a teu servo; pois sou pesado de boca e pesado de língua” (Êxodo 4.10).
• “Ele, porém, respondeu: Ah! Senhor! Envia aquele que hás de enviar, menos a mim” (Êxodo 4.13).
Parte 1/2 de Heróis bíblicos que lutaram contra o medo
Este artigo é um trecho adaptado com permissão do livro Vencendo medos e ansiedades, de Elyse Fitzpatrick, Editora Fiel.
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