quarta-feira, 11 de dezembro
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O desafio – introdução do livro “O Evangelho no Trabalho”

Se você é como a maioria das pessoas, você gasta uma parte significativa de cada semana de sua vida em seu emprego. Você também gasta muito tempo pensando a respeito de seu emprego. O que preciso fazer em seguida? Como maximizo os lucros ou resolvo aquele problema, ou comunico esta necessidade?

Pode bem ser que pelo menos alguns de seus pensamentos a respeito de seu trabalho não sejam apenas acerca de transações, mas, sim, a respeito do sentido disso tudo. Por que estou fazendo isto? Qual é o propósito disto e, eu quero continuar fazendo isto? Como este emprego está me afetando como um ser humano? Está tornando minha vida melhor ou pior? Tudo isso vale a pena, e por quê?

É lógico que essas são boas perguntas. Mas se você for crente, há outra série de perguntas que são ainda mais importantes — perguntas que têm a ver com o fato de como o trabalho se enquadra nas intenções de Deus para sua vida. O meu trabalho está moldando o meu caráter numa direção piedosa? Como posso fazer meu trabalho, não apenas como uma forma de pôr comida na mesa, mas como um discípulo rendido a Jesus? Afinal, qual é o objetivo do trabalho na vida de um crente? Existe algum sentido nele além de providenciar bens e serviços, ganhar dinheiro e prover um meio de vida para minha família e eu? E por que, aliás, Deus nos permite gastar tanto tempo de nossa vida fazendo essa coisa específica?

À medida que conversamos com crentes de nossas próprias igrejas e círculos de amizade, essa preocupação a respeito do sentido ou do propósito do trabalho aparece vez após vez nos pensamentos que as pessoas têm em relação aos seus empregos. Elas querem saber como aquilo que elas fazem por quarenta e poucas horas por semana se encaixa nos planos de Deus. Querem saber que propósito isso desempenha, não apenas em suas próprias vidas, mas nas intenções mais excelentes de Deus para o mundo. Elas perguntam: “Este trabalho que ocupa tantas horas da minha vida e tanto do meu espaço mental, que às vezes me frustra sem nenhum objetivo e me dá grande alegria em outros momentos — enfim o que tudo isso significa?”. Essas são perguntas importantes, e elas brotam do senso bom e justo de que nada em nossa vida, incluindo o nosso trabalho, está lá simplesmente como uma “decoração de vitrine”. Tudo isso se encaixa na grandiosa história da criação, do pecado e da redenção. Deus tem um propósito para tudo isso.

Como o nosso trabalho se encaixa na história?

Desde o princípio, a intenção de Deus era que os seres humanos trabalhassem. O trabalho não é uma consequência do pecado — embora nós experimentemos dias terríveis que nos tentam a pensar que ele é! A partir do momento que Deus criou Adão e Eva, ele lhes deu trabalho para fazer. Ele fez um jardim e lhes disse: “Trabalhem e tomem conta disso” (Gênesis 2.15). O trabalho que Adão e Eva deveriam fazer era perfeitamente prazeroso, um trabalho perfeitamente gratificante. Não havia qualquer fadiga entediante, nenhuma competição impiedosa, nenhum senso de futilidade. Eles faziam tudo como um serviço para o próprio Senhor, em um relacionamento perfeito com ele. O trabalho deles era só uma questão de colher as superabundantes bênçãos de Deus para eles!

O pecado de Adão e Eva, obviamente, mudou isso. Quando eles desobedeceram ao mandamento de Deus e se rebelaram contra ele, o trabalho deixou de ser simplesmente uma colheita da abundância de Deus. O pecado de Adão e a maldição de Deus contra o pecado afetou até o próprio solo. O trabalho se tornou doloroso e necessário para a própria sobrevivência de Adão e Eva. O lugar onde antes a terra produzia vigorosamente seus frutos — quase como se estivesse segurando-os com mãos zelosas e implorando para que Adão e Eva os colhessem — agora se tornara mesquinho. A terra reteve suas riquezas, e os humanos foram forçados a trabalhar de forma dura e penosa para obtê-las. A vida no oriente do Éden era completamente diferente da vida dentro dele.

Compreender essa parte da história bíblica e o lugar do trabalho nela é, na verdade, crucial para nós como cristãos, pois ela ajuda a explicar porque o nosso trabalho sempre será, em um grau ou em outro, marcado pela frustração. O trabalho é difícil porque nós e o mundo ao nosso redor temos sido afetados pelo nosso afastamento de Deus. Por causa disso, não deveríamos nos surpreender com o fato de o trabalho ser às vezes difícil e doloroso. O trabalho tem a tendência de nos desgastar e esgotar. Ele pode ser uma fonte de grande frustração em nossa vida. Por outro lado, não deveríamos nos surpreender com o fato de que quando realmente apreciamos o nosso trabalho, há um perigo sempre presente de que o nosso trabalho nos consuma completamente — a ponto de nosso coração ser definido pelos interesses do trabalho e sermos reduzidos a meros trabalhadores.

O trabalho é necessário, o trabalho é difícil e até mesmo perigoso. Apesar de tudo isso, ainda assim está claro que Deus se preocupa profundamente com o que pensamos acerca de nosso trabalho e com a forma como nos relacionamos com ele. O que fazemos e o modo como o fazemos não estão fora do interesse de Deus. Quando Jesus morreu na cruz e ressuscitou dentre os mortos para redimir um povo para si mesmo, ele também se comprometeu a conformá-lo exatamente a ele, cada vez mais, pelo poder do Espírito Santo. A Bíblia nos diz que ele faz isso por meio de todas as circunstâncias de nossa vida — incluindo o nosso trabalho. O nosso trabalho é um dos principais meios que Deus pretende usar para nos tornar mais semelhantes a Jesus. Ele usa o nosso trabalho para nos santificar, desenvolver nosso caráter cristão e nos ensinar a amá-lo mais e a servi-lo melhor, até que nos unamos a ele no dia final, no descanso de nossos trabalhos.

Na verdade, o Novo Testamento considera bem importante a forma como devemos pensar a respeito do nosso trabalho. As seguintes passagens das Escrituras são cruciais, se quisermos ter uma compreensão bíblica sobre o nosso trabalho e o propósito dele no plano de Deus na redenção.

Em Efésios 6.5, 7, o apóstolo Paulo nos diz para realizar o trabalho “na sinceridade do vosso coração, como a Cristo… servindo de boa vontade, como ao Senhor e não como a homens”. Em Colossenses 3.22-24, ele nos diz que devemos fazê-lo “em singeleza de coração, temendo ao Senhor”. “Tudo quanto fizerdes” — Paulo continua escrevendo — “fazei-o de todo o coração, como para o Senhor e não para homens… A Cristo, o Senhor, é que estais servindo”.

Que declarações maravilhosas são essas! Olhe mais de perto para o que a Bíblia diz acerca de seu trabalho: Tudo quanto você fizer, você deve fazê-lo “como ao Senhor e não como a homens”. Você deve trabalhar “de todo o coração, como para o Senhor e não para homens”. Você percebe a incrível importância dessas expressões? O trabalho não é apenas uma forma de passar o tempo e ganhar dinheiro. O seu trabalho é na verdade um serviço que você presta ao próprio Senhor!

Você pensa dessa maneira em relação ao seu emprego? Você percebe que não importa qual seja a sua profissão; não importa o que quer que seja que você faça nela; não importa quem seja o seu chefe ou o chefe do seu chefe; o que você faz em sua profissão é feito, na verdade, como um serviço para o Rei Jesus! Ele é quem o colocou lá neste momento de sua vida, e é para ele que você trabalha basicamente.

Nós trabalhamos para o Rei, e isso muda… Tudo!

Realmente, essa é a ideia principal deste livro. Não importa o que façamos, o nosso trabalho tem propósito e sentido inerentes porque o estamos realizando basicamente para o Rei. A pessoa para quem trabalhamos é mais importante do que aquilo que fazemos. O mundo nos dirá o contrário. O mundo nos dirá que a vida encontra o seu sentido no sucesso no trabalho ou que o trabalho é apenas um mal necessário para o caminho do lazer. Todas essas formas de pensamento são mentirosas. Nós realmente trabalhamos para alguém superior ao nosso chefe. Trabalhamos para Jesus. Isso é a coisa mais importante que podemos saber e lembrar a respeito do nosso trabalho. Isso é muito mais importante do que a profissão em si, independentemente de a pessoa ser uma dona de casa, um banqueiro, um funcionário político, um trabalhador da construção, um barista ou um executivo de uma corporação. Não importa o que estejamos fazendo, nós o estamos fazendo para glorificar a Jesus.

Se mantivermos essa ideia principal em mente, isso mudará a forma como pensamos a respeito do nosso trabalho e nos empenhamos nele. Por quê? Porque quando glorificar a Jesus é a nossa motivação primordial, o nosso trabalho — independentemente do que esse trabalho seja em suas particularidades — passa a ser um ato de adoração. Ficamos completamente livres do pensamento de que o nosso trabalho é sem sentido e propósito, e somos igualmente libertos do pensamento de que o nosso trabalho possui algum significado supremo. Ainda mais, descobrimos, de uma nova forma, a ligação entre o nosso trabalho e a nossa principal identidade como discípulos de Jesus. Deixamos de nos desvencilhar de nosso papel de discípulos a cada dia de trabalho. Pelo contrário, o nosso compromisso com o nosso trabalho se torna uma das principais maneiras pela qual expressamos o nosso discipulado ao nosso Senhor e o nosso amor por ele.

O trabalho é importante. Isso ninguém discute. Mas trabalhar para o Rei é mais importante. Conforme veremos ao longo deste livro, essa compreensão fornece tanto a motivação diária para o nosso trabalho quanto as respostas práticas para algumas situações difíceis com as quais nos deparamos no mercado de trabalho. E mais do que isso, ela coloca o trabalho em seu devido lugar — cheio de significado e propósito, mas não em competição com aquele para quem o trabalho é feito em primeiro lugar. Nós trabalhamos, e isso é importante. Mas, acima de tudo, isso é importante porque é feito para o Rei Jesus.

Indolência e idolatria: as formas erradas de pensar a respeito do trabalho.

Lembrar de que trabalhamos para o Rei e exercer as nossas profissões a cada dia à luz dessa realidade não é fácil. É bem mais fácil cair no pensamento errôneo em relação ao nosso emprego do que manter uma perspectiva piedosa acerca dele. E há muitas maneiras de fazer isso da forma errada, não é mesmo? Nós nos pegamos murmurando em relação ao nosso emprego ou sendo preguiçosos no trabalho. Nós fazemos apenas o suficiente para nos manter longe dos problemas. Ou, por outro lado, encontramo-nos dando a nossa vida aos nossos empregos e negligenciando nossa família, nossa igreja e até mesmo a nossa própria saúde espiritual. Tudo isso parece muito complicado.

Mas será que é tão complicado assim? Quando consideramos essa questão seriamente, parece que a maioria dos pecados que enfrentamos quando se trata de nosso trabalho podem ser resumidos a algumas armadilhas. Por um lado, não podemos deixar que o nosso trabalho se torne um ídolo. O trabalho pode se tornar o objeto principal de nossa paixão, da nossa energia e do nosso amor. Acabamos adorando o trabalho. Por outro lado, podemos cair na indolência em nosso trabalho. Quando falhamos em perceber os propósitos de Deus para o trabalho, não nos importamos muito com ele. Falhamos em dar qualquer atenção a ele ou o desprezamos e, de forma geral, negligenciamos nossa responsabilidade de servir como se estivéssemos servindo ao Senhor. Infelizmente, tanto a indolência no trabalho quanto a idolatria do trabalho são celebradas em nossa sociedade. Temos a tendência de louvar aqueles que fazem do trabalho o centro de suas vidas, bem como aqueles que o lançaram totalmente para fora de suas vidas. Ambas as coisas são armadilhas — indolência e idolatria — embora haja uma má interpretação fatal a respeito de como Deus quer que pensemos acerca de nosso trabalho.

Exploraremos tanto a idolatria quanto a indolência de forma mais detalhada adiante. Por agora, basta reconhecer que nenhuma delas se encaixa na ideia bíblica de que nós trabalhamos para o Rei Jesus. Como podemos ser indolentes — trabalhar sem propósito e sentido — se o próprio Rei designou nosso trabalho para nós e se o fazemos como um serviço para ele? Como podemos estar contentes sendo relapsos em nosso trabalho e exercê-lo sem entusiasmo, quando, na realidade, fazemos o que fazemos para ele? Quando trabalhamos para o Rei, a indolência em nosso trabalho não é simplesmente uma opção. A idolatria também não é. Se o nosso trabalho é um meio de prestar serviço ao Rei e de adorá-lo, devemos combater a tentação de fazer do nosso trabalho o centro de nossas vidas. Jesus, e não o nosso trabalho, merece ser o objeto central da devoção do nosso coração.

Um olhar adiante

Nós dois temos servido tanto no mercado de trabalho quanto no ministério. Sebastian (Seb) tem sido um empregado, chefe, proprietário, empresário, bem como, marido, pai, membro da igreja e um líder leigo em sua igreja. Greg tem feito muitas dessas coisas também, e ele também serve como pastor em uma igreja. Juntos, temos lutado com as perguntas que temos levantado, e nos voltamos para a Palavra de Deus para entender melhor o que significa para os cristãos serem trabalhadores fiéis, servindo ao Rei Jesus no mundo. Somos apenas um homem de negócios e um pastor que têm refletido sobre essas questões e esperamos compartilhar alguns pensamentos úteis com você. Escrevemos este livro porque nós precisamos ser lembrados regularmente sobre como aplicar o evangelho em nosso trabalho.

Este livro não é uma teologia sobre o trabalho. Ele não tem a intenção de expor tudo o que a Bíblia ensina a respeito do trabalho ou de responder a todas as perguntas que os crentes possam ter acerca do trabalho. Existem algumas questões teológicas espinhosas que não apoiaremos e das quais não trataremos. Esperamos que você não fique desapontado. A nossa esperança é que este livro possa ajudar alguns cristãos a perceberem com mais clareza porque Deus lhes deu trabalho para fazer e como eles podem estar pensando de maneira pecaminosa a respeito do trabalho. Esperamos que este livro ajude alguns crentes a abandonarem tanto a idolatria quanto a indolência em prol de um modo de pensar mais bíblico acerca do trabalho: como um serviço para o Rei Jesus.

Nos primeiros quatro capítulos do livro, olharemos de perto a idolatria do trabalho e também a indolência, e depois consideraremos como uma compreensão bíblica de que nós trabalhamos para Jesus desafia e desarma esses dois pecados. Nos capítulos de cinco a onze, tentaremos aplicar essa perspectiva a um grande número de perguntas práticas. Uma nota final: pretendemos que este livro, em sua totalidade, “fale” por nós dois. Ocasionalmente, no entanto, você encontrará uma história escrita utilizando “eu” em vez de “nós”. Quando isso acontecer, tentaremos indicar qual de nós está contando a história.

Não sabemos por que você pegou este livro. Talvez, enquanto você lia esta introdução, você já tenha admitido para si mesmo: “É mesmo, eu tenho idolatrado o meu trabalho” ou “Esse sou eu. Eu tenho caído na indolência em meu trabalho. Eu simplesmente não percebo o desígnio de Deus em tudo isso”. Talvez você seja um crente novo e esteja se perguntando como essa nova vida que você tem em Jesus funciona em seu dia de trabalho. Ou talvez seja por algum motivo completamente diferente. O nosso desejo é que não importa que tipo de confusão você tenha nutrido acerca do que significa trabalhar como um cristão em um mundo ímpio, essa ideia central da qual temos falado começará a libertá-lo para você experimentar propósito e sentido em seu trabalho. Se sua tendência for na direção da indolência — na direção da falsa ideia de que Deus não se importa com o seu trabalho — então, esperamos que este livro lhe recorde que você trabalha para o Rei Jesus, e que seu trabalho tem muita importância. Por outro lado, se sua tendência for na direção da idolatria — na direção da falsa ideia de que o trabalho é mais importante do que tudo e que é a chave para a satisfação suprema — então, oramos para que este livro transforme o seu trabalho de um objeto de adoração para um meio de adorar ao único Deus verdadeiro.

Mais do que tudo, esperamos que você seja encorajado a crescer em seu amor e conhecimento do Senhor Jesus Cristo à medida que você buscar os propósitos dele para você no mercado de trabalho.

 

Nota: se você estiver lendo este livro com outras pessoas — ao final de cada capítulo, fornecemos várias perguntas e passagens das Escrituras para estudo, que o ajudarão a refletir um pouco mais e a pensar sobre as ideias do capítulo. As perguntas foram designadas para serem usadas à medida que você ler o livro com um amigo ou um grupo pequeno. Considere quem poderá acompanhá-las com você. É importante ter outras pessoas com quem você possa ser sincero e que possam ser sinceras com você. Em Provérbios 16.13, lemos: “Os lábios justos são o contentamento do rei, e ele ama o que fala coisas retas”, e Provérbios 27.6 declara: “Leais são as feridas feitas pelo que ama”. Encontre pessoas que possam falar a verdade e feri-lo em amor.


Autor: Greg Gilbert

Greg Gilbert é o pastor principal da ­Third Avenue Baptist Church, em Louisville (Kentucky). É formado pela universidade de Yale e obteve seu mestrado em teologia pelo Southern Theological Seminary. É preletor de conferências teológicas e escreve frequentemente para o Ministério 9 Marcas.

Ministério: Editora Fiel

Editora Fiel
A Editora Fiel tem como missão publicar livros comprometidos com a sã doutrina bíblica, visando a edificação da igreja de fala portuguesa ao redor do mundo. Atualmente, o catálogo da Fiel possui títulos de autores clássicos da literatura reformada, como João Calvino, Charles Spurgeon, Martyn Lloyd-Jones, bem como escritores contemporâneos, como John MacArthur, R.C. Sproul e John Piper.

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