quinta-feira, 12 de dezembro
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Os meios comuns de crescimento da igreja

Vivemos em uma época confusa e desconcertante para os cristãos confessionais (aqueles que são firmados por um compromisso teológico público e coletivo de serem fiéis ao ensino da Bíblia quanto à fé e à prática, conforme exposto nas grandes confissões de fé da Reforma Protestante). Estamos presenciando o fim do liberalismo teológico, a ascendência do pentecostalismo, o começo do movimento da Igreja Emergente, o colapso do evangelicalismo e uma perturbação total a respeito de como a igreja deve conduzir sua vida e ministério em uma cultura pós-cristã. Ao nosso redor, em nome de ganhar a cultura com o evangelho, temos visto igrejas evangélicas se comprometerem (em geral, com boas intenções) tanto na mensagem como nos métodos.

É comum ouvirmos certos clichês ou expressões que tencionam cativar a mente e expressar novas maneiras de lidar com o ministério: “igreja com propósito”, “igreja missional”, “contextualização”, “palavras e obras”, “passado-futuro”, “emergente”, “paz e justiça”. Ora, envolvidos nesses termos e conceitos há questões, diagnósticos e ênfases que são proveitosos, verdadeiros e oportunos. Infelizmente, as filosofias de ministério freqüentemente associadas a esse glossário opõem-se ao ponto de vista cristão histórico a respeito de como a igreja vive e ministra. Esse ponto de vista é comumente chamado de “meios comuns de graça”.

A premissa fundamental que está por trás dessas novas abordagens é que “tudo mudou!”; por isso, nossos métodos têm de mudar. Pretendo discutir ambas as partes dessa equação. Não importando quais sejam as implicações de nosso momento cultural, a natureza que constitui o ser humano não mudou. Portanto, o problema essencial do homem não mudou, assim como não mudou a solução do evangelho para esse problema. Também não mudou a eficácia dos meios divinos expostos no evangelho. Além disso, a confiança na Palavra de Deus tanto no que diz respeito à mensagem como aos meios prescritos no evangelho sempre caracterizou um ministério cristão fiel e eficaz, em cada época e lugar do mundo.

Em resumo, há basicamente três pontos de vista quanto ao ministério do evangelho. Existem aqueles que acham que um envolvimento cultural eficiente exige uma atualização da mensagem. Há aqueles que pensam que um ministério eficaz demanda uma atualização dos métodos. E existem aqueles que acham que um ministério eficiente começa com um comprometimento com a mensagem e os métodos de Deus, expostos em sua Palavra.

Assim, o liberalismo diz que o evangelho não produz resultados, se não mudamos a mensagem. O evangelicalismo moderno (não somente em suas permutações pós-moderna e “sensível ao interessado”) tem dito com freqüência que o evangelho não produz resultados, se não mudamos nossosmétodos. Contudo, aqueles que estão comprometidos com uma abordagem de ministério e a vida cristã que emprega os “meios comuns de graça” asseveram que o evangelho produz resultados, e Deus nos tem dado o método e amensagem. Isso é sobremodo importante em uma época em que a história das igrejas tem sido caracterizada por métodos que alteram, de modo inconsciente, prejudicial e não-bíblico, a mensagem e o ministério.

O ministério fundamentado nos meios comuns de graça é um ministério que se focaliza em fazer as coisas que Deus afirma, nas Escrituras, são centrais aos crescimento e saúde espiritual de seu povo; e o alvo desse ministério é cuidar que as virtudes e as prioridades da igreja reflitam as normas bíblicas. Por conseguinte, o ministério fundamentado no meios de comuns de graça está comprometido com a orientação bíblica quanto às prioridades do ministério. Acredita que Deus nos revelou as coisas mais importantes, não somente a respeito da verdade que temos de proclamar, mas também a respeito da maneira como devemos viver e ministrar — em todos os contextos. Em sua Palavra, Deus nos tem dado tanto a mensagem de salvação como os meios de congregar e edificar a igreja. Contudo, embora seja importante entender o nosso contexto; embora seja importante entender a época (e essas coisas são, de fato, relevantes); embora seja importante apreciar as diferenças culturais nos lugares e épocas em que servimos, a abordagem de ministério fundamentada nos meios comuns de graça se preocupa, antes e acima de tudo, com a fidelidade à Bíblia; porque fidelidade é relevância. O evangelho é a mensagem, e a igreja local, o plano. Deus outorgou à sua igreja armas espirituais para a destruição de fortalezas. Esses meios ordinários de graça são a Palavra, as ordenanças e a oração.

Talvez parecem fracos os olhos dos fortes do mundo. Talvez pareçam loucura, na estimativa dos sábios do mundo. Todavia, a mensagem do evangelho é o poder de Deus para a salvação, e os meios de graça do evangelho são eficazes para a salvação. São os instrumentos espirituais, dados por Deus, por meio dos quais a vida espiritual e congregacional é nutrida; são os instrumentos de graça e crescimento espiritual designados por Deus, nas Escrituras.

Portanto, quando falamos sobre o ministério fundamentado nos meios comuns de graça, nos referimos a um compromisso radical de seguir a orientação da Palavra de Deus tanto no que diz respeito à mensagem como aos meios de congregar e aperfeiçoar os santos. Esse tipo de ministério possui uma opinião elevada sobre a Bíblia, a pregação, a igreja, as ordenanças e a oração. O ministério fundamentado nos meios comuns de graça acredita que as principais coisas que uma igreja pode fazer para ajudar as pessoas a conhecerem a Deus e crescerem em seu conhecimento dEle são: primeira, enfatizar a leitura e a pregação pública das Escrituras; segunda, assegurar a eficácia confirmatória, santificadora e fortalecedora das ordenanças, ministradas publicamente; terceira, enfatizar uma vida de oração, demonstrada especialmente na vida corporativa da igreja. Essas coisas são centrais e vitais, mas, infelizmente, são muitas vezes menosprezadas, pouco enfatizadas e desestimuladas.

O ministério fundamentado nos meios de graça crê na importância do que Deus diz, em sua Palavra, a respeito do valor crucial desses instrumentos públicos e exteriores para a vida e o crescimento espiritual. De modo bastante evidente, Deus instrui os pastores e as igrejas a fazerem estas coisas: “Aplica-te à leitura, à exortação, ao ensino” (1 Tm 4.13); “Prega a palavra, insta, quer seja oportuno, quer não, corrige, repreende, exorta com toda a longanimidade e doutrina” (2 Tm 4.2); “Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo” (Mt 28.19); “Tomai, comei; isto é o meu corpo… Bebei dele todos; porque isto é o meu sangue, o sangue da nova aliança, derramado em favor de muitos, para remissão de pecados… fazei isto, todas as vezes que o beberdes, em memória de mim. Porque, todas as vezes que comerdes este pão e beberdes o cálice, anunciais a morte do Senhor, até que ele venha” (Mt 26.26-28; 1 Co 11.25-26); “Antes de tudo, pois, exorto que se use a prática de súplicas, orações, intercessões, ações de graças… Quero, portanto, que os varões orem em todo lugar, levantando mãos santas” (1 Tm 2.1, 8).

Essas são as principais maneiras pelas quais o povo de Deus cresce. Somos salvos (somente) pela graça, (somente) por meio da fé, (somente) em Cristo. Contudo, os meios, os instrumentos que Deus usa para trazer-nos à fé e levar-nos ao crescimento na graça são a Palavra, a oração e as ordenanças. No programa de ministério da igreja, não devemos fazer nada que impeça essas instrumentos cruciais de graça e fazer tudo que os promova e se harmonize com eles.

Isso significa, entre outras coisas, que o ministério não é um empreendimento que exige grande inteligência e habilidade técnica. A fidelidade ao evangelho não demanda que o pastor seja um sociólogo. O ministério não é determinado (primariamente) por entendermos a cultura, e sim a Palavra de Deus. O pastor centrado nos meios comuns de graça quer conectar-se com a cultura, mas, no que diz respeito a determinar o método e as prioridades, ele parte do texto bíblico para o ministério, e não da cultura para o ministério. Tampouco muda sua mensagem ou seus métodos baseando-se na opinião do grupo de discussão mais recente (embora se empenhe por inteirar-se dos obstáculos e das oportunidades com os quais se deparam a sua mensagem e métodos bíblicos, em seu contexto cultural). Entende plenamente que não há tal coisa como um ministério bíblico sem um lugar específico ou um ministério sem contexto cultural (por isso, se mostra cuidadoso em não universalizar seu momento cultural específico e não confundi-lo com normas bíblicas universais). Reconhece que igrejas têm adotado, prejudicialmente, normas e métodos culturais do passado, sem compreenderem aquela influência cultural perniciosa. Mas também sabe que muitas igrejas, tentando contextualizar o evangelho e o ministério, comprometeram-nos.

Por isso, ele está constantemente meditando e questionando: quais são as minhas ordens para que avance? E, quando as recorda, percebe que não exigem um Ph.D. para serem interpretadas, pois são: pregue a Palavra, ame as pessoas, ore a Deus, instrua os presbíteros, promova o cristianismo no lar, viva de modo piedoso. E as ordens para a igreja são: deleitem-se no Dia do Senhor, congreguem-se com os santos, para alimentarem-se do puro leite da Palavra, na manhã e entardecer de cada domingo; orem juntos como igreja uma vez por semana; adorem e catequizem suas famílias; amem uns aos outros e a todos os homens.

Como será uma igreja comprometida com os meios comuns de graça? Será caracterizada por amor à pregação bíblica expositiva, paixão pelo culto, deleite na verdade, aceitação do evangelho, a obra do Espírito na conversão de pessoas, um vida de piedade, cristianismo familiar robusto, evangelismo bíblico, discipulado bíblico, membresia eclesiástica bíblica, responsabilidade mútua na igreja, liderança eclesiástica bíblica e um desejo de ser uma bênção para as nações. Além disso, haverá uma simples, humilde e alegre celebração da soberania do Deus único, verdadeiro e trino, na salvação e em todas as coisas.

 

Traduzido por: Wellington Ferreira

Do original em inglês:The ordinary means of Growth& – Publicado originalmente no volume 31 nº 10 &da revista Tabletalk do ministério Ligonier.


Autor: Ligon Duncan

Duncan é nativo de Greenville, Carolina do Sul . Seu pai era um ancião da oitava geração presbiteriana do sul. Duncan se formou em Greenville Senior High School em 1979 e Furman University em 1983 (BA, History). Ele continuou seus estudos no Seminário Teológico Covenant com um MDiv em 1986 e um mestrado em teologia histórica em 1987. Ele completou doutorado em teologia na Universidade de Edimburgo , New College em 1995. Ele serviu na equipe da Covenant Presbyterian Church, St. Louis, (1984-1987). Ele foi licenciado para pregar em 1985 pelo Presbitério do Calvário (PCA) na Carolina do Sul e ordenado em 1990. [1]

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