Deus nunca teve a intenção de ser adorado pelas pessoas sem que elas utilizassem suas mentes para isso. A verdadeira espiritualidade começa com uma compreensão precisa da verdade. Embora eu veja que muitos cristãos contemporâneos estejam trilhando os caminhos da experiência mística e da fantasia.
Uma ilustração disso é o que li, uma vez, num artigo do jornal Los Angeles Times:
PASADENA, Calif. – Por detrás da bandeira militante da “guerra espiritual”, um grupo crescente de evangélicos e líderes cristãos carismáticos estão preparando um grande ataque ao que eles chamam de poderes cósmicos das trevas. Fascinados com a idéia de que Satanás comanda uma hierarquia de demônios territoriais, algumas organizações missionárias e pastores de grandes igrejas estão planejando estratégias para “derrubar as fortalezas” dos espíritos malignos, que supostamente estão no controle de cidades e países. Alguns propagadores desse movimento inexperiente já alegaram que reuniões de oração com esse foco removeram a maldição do Triângulo das Bermudas; levaram o guru Baghwan Shree Rajneesh à decadência, em 1985, e produziram uma diminuição da criminalidade por um período de duas semanas, bem como do trânsito na rodovia de Los Angeles, durante as Olimpíadas de 1984. O professor do Seminário Fuller, C. Peter Wagner, que escreveu vastamente sobre esse assunto, liderou a então chamada reunião de cúpula sobre a guerra espiritual no nível cósmico… na cidade de Passadena, em Calif. Muitos homens e mulheres participaram dessa reunião, inclusive um casal do Texas, que liderava um grupo denominado “Generais da Intercessão”, e um homem vindo do Oregon, que conduzia “campos de treinamento em guerra espiritual”. Em seu comentário de abertura, Wagner afirmou: “Se você não souber o que está fazendo, e poucos… possuem essa habilidade necessária, Satanás o engolirá no café da manhã”.
Receio que esse tipo de mentalidade seja apenas um exemplo de como a igreja tem se tornado vítima do Movimento da Nova Era, uma forma sutil e disfarçada do misticismo hindu. É a crença em tudo e a crença na nulidade, sem distinção entre a fantasia e a realidade.
Muitas das igrejas cristãs professas estão em perfeita harmonia com o espírito de anti-intelectualismo do Movimento da Nova Era. Por exemplo, a Igreja Católica Romana enfatiza o ritual mecânico – um anti-intelectualismo, no qual a cerimônia mística substitui a adoração com inteligência. E, nesse ponto, as Escrituras passam a ser subservientes à igreja.
Os protestantes liberais tem enfatizado a reforma social – um anti-intelectualismo político produzido pelo desespero de tentar encontrar a verdade, sem que haja submissão à autoridade das Escrituras como o padrão para se governar a igreja.
Os carismáticos têm enfatizado, por um longo período, o subjetivismo – um anti-intelectualismo baseado na experiência, que é o produto de uma teologia deficiente e do manejo negligente das Escrituras.
Essas coisas tendem a contribuir para um cristianismo irracional, místico, que é a antítese do desígnio de Deus para sua igreja.
É por essa razão que estou tão preocupado. Um professor de seminário alega que se não aprendermos algumas técnicas misteriosas sobre guerra espiritual, Satanás nos engolirá no café da manhã! Isso é verdade? O apóstolo Pedro diz: “O diabo, vosso adversário, anda em derredor, como leão que ruge procurando alguém para devorar” (1 Pedro 5:8). Mas o contexto é sobre um chamado à sobriedade e à vigilância, não uma estratégia para uma guerra cósmica mística.
Alguns sugerem que tudo o que precisamos fazer é amarrar Satanás, dizendo: “Satanás, você está amarrado”, e ele será preso. Eles citam Mateus 12.29, em que Jesus diz: “Ou como pode alguém entrar na casa do valente e roubar-lhe os bens sem primeiro amarrá-lo? E, então, lhe saqueará a casa”.
Mas Jesus estava afastando a tola acusação dos fariseus de que Ele fazia sua obra pelo poder de Satanás (vv. 27-28), não estava dando um roteiro sobre como os crentes poderiam “amarrar”a Satanás. Ele usa a ilustração de um ladrão, que planejando roubar a casa do homem valente, no momento em que o valente nela se encontrava, deveria primeiro amarrá-lo ou correria o risco de ser preso e espancado. O ponto principal para Jesus era demonstrar, para os fariseus e para todo Israel, o seu poder sobre Satanás e o reino do maligno. Somente Deus tem o poder e a autoridade para entrar na casa do próprio Satanás e ser bem-sucedido em amarrá-lo e forçá-lo a sair de sua propriedade. Satanás barrou até mesmo o caminho de Paulo (1 Tessalonicences 2:18). Será que podemos assumir que Paulo não conhecia a fórmula certa?
Não existe uma frase mágica ou um mantra que possamos recitar para amarrar a Satanás, mas Deus não nos deixou sem uma estratégia divina para lidar com ele. A estratégia de Deus está centrada na verdade objetiva e não na experiência subjetiva. Começa com a sã doutrina e não com uma técnica cabalística. Apesar de ser uma ironia o fato de que aqueles que mais falam sobre a guerra contra Satanás minimizem a importância da doutrina.
Em Efésios 6:11 Paulo declara: “Revesti-vos de toda a armadura de Deus, para poderdes ficar firmes contra as ciladas do diabo”. Qual é a nossa armadura? Ela consiste no cinto da verdade (não apenas em conhecermos a verdade, mas em sermos comprometidos com ela), a couraça da justiça, os calçados do evangelho da paz (a confiança de que temos paz para com Deus), o escudo da fé, o capacete da salvação (confiança em nossa segurança em Cristo) e a espada do Espírito, que é a Palavra de Deus. Não há alusão alguma a nenhuma daquelas técnicas secretas. Em vez disso, o texto fala de uma compreensão clara da verdade bíblica e de um firme comprometimento com essa verdade e a santidade.
Quando resistimos a Satanás, ficando firmes na armadura da verdade de Deus, Satanás foge. Tiago 4:7 afirma: “Resisti ao diabo, e ele fugirá de vós”. Pedro disse: “Resisti-lhe firmes na fé“(1 Pedro 5:9, ênfase acrescentada); firmes na fé cristã, que é a verdade revelada. O que é a verdade objetiva e não alguma força cósmica que não podemos ver. Visto que Satanás é enganador e mentiroso, podermos resistir-lhe com sucesso somente se conhecermos e obedecermos a verdade.
Paulo disse: “Porque, embora andando na carne, não militamos segundo a carne. Porque as armas da nossa milícia não são carnais, e sim poderosas em Deus, para destruir fortalezas, anulando nós sofismas e toda altivez que se levante contra o conhecimento de Deus, e levando cativo todo pensamento à obediência de Cristo” (2 Coríntios 10:3-5). Reafirmando, não combatemos Satanás com palavras mágicas e poderes imaginários; confiamos no poder da verdade de Deus à medida que ela leva até mesmo os nossos pensamentos cativos ao Senhor. Essa é a vitória genuína e cabal sobre os poderes satânicos.
Não importa como Satanás ataque, a solução é sempre a mesma. Permanecemos na verdade. Não precisamos aprender estratégias misteriosas para lutar contra Satanás. A verdade de Deus é a arma suprema contra o pai das mentiras (cf. João 8:44). Somente quando conhecemos a verdade e nos comprometemos a obedecê-la é que permanecemos fortes.
Traduzido por: Waléria Coicev
Do original em inglês: And Nothing but the Truth, com a permissão do ministério Grace to You.