sexta-feira, 22 de novembro
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A graça de Deus está à solta

O trecho abaixo foi retirado com permissão do livro Hábitos Espirituais, de David Mathis, Editora Fiel

Graça indomada invadindo nossas vidas

A graça de Deus está à solta. Contrariando nossas expectativas, invertendo nossas suposições, frustrando nosso senso de juízo e zombando de nosso desejo de controle, a graça de Deus está virando o mundo de cabeça para baixo. Deus está derramando sem acanhamento o seu exuberante favor sobre pecadores indignos de todos os matizes e removendo completamente a nossa autossuficiência.

Antes de voltarmos nosso foco para “os meios de graça” e as práticas (“hábitos”) que nos dispõem para seguir recebendo a graça de Deus em nossas vidas, isto deve ficar claro desde o início: A graça de Deus está gloriosamente além de nossa habilidade e técnica. Os meios de graça não têm a ver com ganhar o favor de Deus, constrangê-lo ou controlar sua bênção, mas com preparar-nos para nos saturarmos de forma consistente no fluxo de sua maré.

A graça se move desde antes da criação, vagando livre e desimpedida. Mesmo antes da fundação do mundo, foi a graça indomada de Deus que ultrapassou os limites do tempo e do espaço e considerou um povo ainda a ser criado em conexão com seu Filho, e nos escolheu nele (Ef 1.4). Foi por amor — para louvor de sua gloriosa graça — que “nos predestinou para ele, para a adoção de filhos, por meio de Jesus Cristo” (Ef 1.5).

Essa escolha divina não foi baseada em nenhuma presciência de que haveria algo de bom em nós. Ele nos escolheu pela graça — “E, se é pela graça, já não é pelas obras; do contrário, a graça já não é graça” (Rm 11.6). “Não segundo as nossas obras, mas conforme a sua própria determinação e graça que nos foi dada em Cristo Jesus, antes dos tempos eternos” (2Tm 1.9).

Com paciência, então — por meio da criação, queda e dilúvio, por meio de Adão, Noé, Abraão e o rei Davi — Deus preparou o caminho. A humanidade esperou e gemeu, juntando as migalhas de sua compaixão como um antegozo de algum banquete por vir. Os profetas “profetizaram acerca da graça a vós outros destinada” (1Pe 1.10). E na plenitude do tempo, ela veio. Ele veio.

Invadindo nosso espaço

Agora, “a graça de Deus se manifestou” (Tt 2.11). A graça não pôde ser impedida de se tornar carne e habitar entre nós no homem-Deus, cheio de graça e verdade (Jo 1.14). De sua plenitude, todos nós recebemos graça sobre graça (Jo 1.16). A lei foi dada por meio de Moisés, mas a graça e a verdade estão nele (Jo 1.17). A graça tem um rosto.

Mas a graça não seria restringida nem mesmo aqui, mesmo nesse homem. A graça não seria apenas encarnada, mas quebraria as correntes para vagar pelo globo sem restrições. Foi a pura graça que por meio da fé nos uniu a Jesus, a Graça Encarnada, e nos abençoou nele “com toda sorte de bênção espiritual nas regiões celestiais” (Ef 1.3). Na graça fomos chamados eficazmente (Gl 1.6) e recebemos novo nascimento em nossas almas. Por causa da imensurável, ilimitada e livre graça, agora nossos corações antes mortos batem e nossos pulmões sem vida respiram. Somente pela graça cremos (At 18.27) e somente na graça recebemos “arrependimento” para conhecermos “plenamente a verdade” (2Tm 2.25).

Mas essa graça indomada continua. Recebemos o Espírito da graça, experimentamos nossa adoção há muito planejada e podemos clamar “Aba, Pai” (Rm 8.15). Recebemos “a remissão dos pecados, segundo a riqueza da sua graça” (Ef 1.7).

A graça continua rompendo barreiras e destruindo restrições. A graça justifica. Uma justiça perfeita, irrevogável, divinamente aprovada e humanamente aplicada é nossa nessa união com Jesus. Somos justificados por sua graça como um dom (Rm 3.24; Tt 3.7). Por meio desse único homem, Jesus, somos contados entre “os que recebem a abundância da graça e o dom da justiça” (Rm 5.17). E assim dizemos alegremente com Paulo: “Não anulo a graça de Deus; pois, se a justiça é mediante a lei, segue-se que morreu Cristo em vão” (Gl 2.21).[i]

Invadindo nossas vidas

E quando pensamos que já fomos levados longe o bastante, que Deus fez por nós tudo o que podíamos imaginar e muito mais, a graça surpreende novamente. A graça santifica. Ela é indômita demais para permitir que continuemos amando a injustiça. Livre demais para nos deixar na escravidão do pecado. Indomável demais para deixar nossa lascívia invicta. O poder da graça é efusivo demais para não nos libertar para a felicidade da verdadeira santidade.

É assim que crescemos na graça e no conhecimento de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo” (2Pe 3.18) e vivemos não debaixo da lei, mas debaixo da graça (Rm 6.14). A graça abunda não por continuarmos no pecado, mas por meio de nossa libertação contínua, capacitada pelo Espírito (Rm 6.1). A graça é muito forte para nos deixar passivos, muito potente para nos deixar chafurdar na lama de nossos pecados e fraquezas. “A minha graça te basta”, diz Jesus, “porque o poder se aperfeiçoa na fraqueza” (2Co 12.9). É a graça de Deus que nos dá seus “meios de graça” para nossa contínua perseverança, crescimento e alegria neste lado da nova criação que está por vir. E a graça de Deus inspira e capacita os vários hábitos e práticas pelas quais nos valemos dos meios providos por Deus.

Inundando o futuro

Justamente quando temos certeza de que já é o bastante e de que alguma ordem deve ser restaurada e alguns limites estabelecidos, a graça de Deus não apenas inunda nosso futuro nesta vida, mas também cruza a fronteira com a próxima, e se derrama nas planícies de nossa eternidade. A graça glorifica.

Se as Escrituras não fossem tão claras sobre essa história da nossa glória, ficaríamos com medo até de sonhar com tal graça. Não apenas Jesus será glorificado em nós, mas nós seremos glorificados nele, “segundo a graça do nosso Deus e do Senhor Jesus Cristo” (2Ts 1.12). Ele é “o Deus de toda a graça, que em Cristo vos chamou à sua eterna glória” (1Pe 5.10).

Portanto, Pedro nos diz: “esperai inteiramente na graça que vos está sendo trazida na revelação de Jesus Cristo” (1Pe 1.13). Será indescritivelmente impressionante nos séculos vindouros, quando ele mostrar “a suprema riqueza da sua graça, em bondade para conosco, em Cristo Jesus” (Ef 2.7). Mesmo os mais maduros de nós apenas começaram a provar a graça de Deus.

Escolhidos antes do tempo. Chamados eficazmente. Unidos a Jesus em fé e arrependimento. Adotados e perdoados. Justificados. Santificados. Glorificados. E satisfeitos para sempre. Esta é a graça que se tornou maravilhosamente indomada. Este é o dilúvio do favor de Deus, no qual descobrimos o poder e a prática dos meios de graça.

[i]Para mais informações sobre a justificação pela fé somente e, em particular, como ela se relaciona com a santificação e a busca do cristão por crescimento e santidade na vida cristã, consulte “The Search for Sanctification’s Holy Grail” em John Piper e David Mathis (org.), Acting the miracle: God’s work and ours in the mystery of sanctification (Wheaton, IL: Crossway, 2013), p. 13–27 [edição em português: O mistério da santificação (São Paulo: Cultura Cristã, 2015].

 

Por: David Mathis. © Ministério Fiel. Website: ministeriofiel.com.br. Todos os direitos reservados. Editor e Revisor: Renata Gandolfo.


Autor: David Mathis

David Mathis é pastor assistente do Pastor John Piper na Bethlehem Baptist Church e do ministério Desiring God em Minneapolis, Minnesota, EUA.

Ministério: Editora Fiel

Editora Fiel
A Editora Fiel tem como missão publicar livros comprometidos com a sã doutrina bíblica, visando a edificação da igreja de fala portuguesa ao redor do mundo. Atualmente, o catálogo da Fiel possui títulos de autores clássicos da literatura reformada, como João Calvino, Charles Spurgeon, Martyn Lloyd-Jones, bem como escritores contemporâneos, como John MacArthur, R.C. Sproul e John Piper.

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