quinta-feira, 21 de novembro
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Encorajando a criação de filhos proativa

Não espere coisas ruins acontecerem, se antecipe

O trecho abaixo foi extraído com permissão do livro Construindo pontes, de Julie Lowe, Editora Fiel (em breve).


 

Quando uma criança ou adolescente vem ao aconselhamento, geralmente é em resposta a algum tipo de luta, problema ou comportamento na vida dele. Os pais raramente trazem as crianças para o aconselhamento de maneira proativa – ou seja, por terem identificado um padrão significativo na vida da criança antes de decidirem que aquele padrão se tornou urgente para buscar sugestões e encorajamentos externos. Quando isso acontece, a interação pode parecer e ser sentida mais como uma mentoria ou um discipulado.

Com muita frequência os pais respondem de forma reativa em vez de proativa aos filhos. Eles esperam para ter uma conversa difícil até que o filho esteja em apuros. Talvez uma criança tenha uma luta relativamente menor como não escovar os dentes, esconder seus deveres de casa e/ou discutir com seus irmãos. Ou talvez os problemas tenham escalonado para cola na escola, briga no recreio, uso de aplicativos ou websites inapropriados, pornografia, sexting, comportamento sexual e/ou uso de drogas. De qualquer forma, os pais tendem a esperar muito tempo para falar na vida de uma criança. Os pais precisam de ajuda a fim de estarem preparados para oferecer orientação bíblica a seus filhos quando percebem que esses estão em profunda dificuldade ou em um padrão de pecado.

Charles Spurgeon explicou da seguinte maneira a diferença entre a criação de filhos proativa e a criação de filhos reativa:

Ouvi falar de um homem que disse que não gostava de predispor seu filho, portanto ele não lhe dizia nada sobre religião. O diabo, entretanto, estava bastante disposto a predispor o rapaz, portanto, muito cedo na vida, ele aprendeu a falar palavrão, embora seu pai tivesse uma tola objeção a ensiná-lo a orar. Se alguma vez você sentir que não é sua incumbência predispor um pedaço de chão semeando boa semente sobre ele, pode estar certo de que o joio não imitará sua imparcialidade. Onde o arado não vai e a semente não é semeada, as ervas daninhas certamente se multiplicarão. E se os filhos não forem treinados, todo tipo de mal surgirá em seus corações e em suas vidas.[1]

O argumento de Spurgeon mostra que é melhor moldar proativamente a visão de nosso filho sobre um assunto do que tentar desmascarar ou desarraigar uma visão imprecisa. É muito melhor ensinar-lhes o modo de vida de Deus do que esperar para falar até que eles tenham seguido seu próprio caminho (errado). Os filhos precisam de uma visão bíblica da vida e do mundo ao seu redor – uma visão que se estenda a todas as áreas de suas vidas e a todos os assuntos que eles possam enfrentar. Se os pais não compartilharem uma perspectiva bíblica com seus filhos, outra pessoa compartilhará sua visão de mundo e ela pode não se alinhar de forma alguma com a verdade. Quanto mais os pais trouxerem seus filhos proativamente à Palavra de Deus, enquanto se envolvem no mundo deles, mais eles equiparão seus filhos a permanecerem firmes contra as tentações e as pressões que enfrentam.

Quando os adultos permanecem em silêncio, as crianças perceberão esse silêncio como indiferença, inadequação ou ambos. Como conselheiros, precisamos nos comprometer a saber quais são as tentações que as crianças enfrentam na escola, nos grupos de amigos e nas mídias sociais, e então estarmos dispostos não apenas a abordar todas essas questões com elas, mas também a ensinar e incentivar os pais a fazê-lo também.

Trabalhar com os jovens significa também ajudar os pais. Ensinar a criação de filhos proativa significa sempre prestar atenção aos padrões sutis que tendem a se infiltrar na vida das crianças ou no estilo de vida de uma família. As práticas que não parecem problemáticas no início e podem até ser necessárias (como não participar do jantar em família ou permitir que as crianças fiquem ocupadas com eletrônicos) lentamente se tornam hábitos e gradualmente mudam a dinâmica em casa. Esses padrões menos saudáveis acabam por corroer os relacionamentos e a conexão significativa com as crianças.

Como conselheiros, precisamos estar atentos a forma como a criação de filhos passiva tem afetado os lares das famílias que estamos aconselhando. À medida que eu interajo com as famílias, muitas vezes me preocupa que haja cada vez mais passividade entrando na criação de filhos moderna. Embora eu tenha certeza de que esse fenômeno não é inteiramente novo, noto que os pais hoje em dia frequentemente desejam ocupar os filhos em vez de envolvê-los. A maior parte do tempo eles estão tentando manter as crianças ocupadas e envolvidas em um fluxo infinito de atividades, ao mesmo tempo em que mantêm seus próprios horários ocupados. Somado a isso está o uso excessivo de eletrônicos que faz com seja fácil para os filhos ficarem ocupados por grandes períodos de tempo. Alguns pais acham que os dispositivos eletrônicos são babás seguras em casa. Pode parecer que as crianças estão mais seguras; afinal, quando estão usando um dispositivo eletrônico, é possível tê-las em casa, ocupadas e muito próximas dos pais. Os pais podem ver seus filhos, saber o que eles estão fazendo (assim o presumem) e sentir-se bem por seus filhos estarem passando tempo em casa.

Ao aconselharmos os pais, é bom que nos lembremos de que todos eles têm momentos em que precisam apenas de um pouco de paz e sossego – meia hora ou mais, onde as crianças estão envolvidas em um jogo ou assistindo à TV – a fim de que eles possam terminar um projeto ou cozinhar um jantar. Esses não são os momentos com os quais devemos nos preocupar. A verdadeira preocupação está nas intermináveis horas passadas navegando na internet, assistindo a vídeos, vivendo em redes sociais e em uma rotina de voltar para casa da escola e passar a maior parte do “tempo em família” em quartos separados engajados em outro mundo. Mesmo que toda a família esteja em casa, há pouca interação, nenhuma conversa significativa, e todos estão essencialmente vivendo em seu próprio mundo dentro das mesmas paredes.

Os pais são tentados a permitir isso – é mais fácil do que o envolvimento direto e parece benigno – mas essa não é uma atitude proativa dos pais. Em vez de conhecer os filhos, os pais que permitem essa desconexão estão deixando-os à deriva. Em vez de edificarem proativamente os relacionamentos e ensinarem princípios bíblicos que ajudarão seus filhos a viverem com gentileza e sabedoria, os pais que não estão alerta podem acabar permitindo que seus filhos vivam em um mundo próprio onde a maior parte da contribuição direta que recebem vem de seus pares ou de alguma forma de mídia.

As crianças podem vir para o aconselhamento por causa de um problema que se apresentou quando esse não é de fato o problema principal. Estou descobrindo cada vez mais que as crianças têm se debatido com essas coisas como questões secundárias. Por exemplo, um pai traz um filho de quinze anos para o aconselhamento porque suas notas caíram, ele corre o risco de ser expulso de seu time de beisebol e acaba de ser pego enviando mensagens de conteúdo sexual à sua namorada; essas são as principais razões pelas quais ele está no aconselhamento. Entretanto, à medida que você começa a se aprofundar, descobre que ele se sente desligado de sua família, seus colegas estão se tornando sua voz da razão e de sabedoria, e seus pais perderam a capacidade de ter voz/ influência em sua vida. É impossível lidar bem com tais coisas sem que os pais entrem na equação. Os pais podem ou não ser parte do problema, mas eles sempre farão parte da solução.

Como conselheiros, podemos ser de particular bênção e apoio quando convidamos os pais diretamente para o processo de ministrar aos seus filhos. Embora seja possível que estejamos trabalhando principalmente de forma individual com um jovem, precisamos manter fresco em nossas mentes que os pais também precisam de encorajamento e de orientação. A nós tem sido confiada a carga mais preciosa dos pais. Eles levarão seus filhos para casa todos os dias e precisarão de nosso apoio para atravessar águas turbulentas. Não esqueçamos de fazer deles uma parte do processo de ajudar seus filhos.

 

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[1] Charles Spurgeon, “Bringing Sinners to the Savior,” Sermon No. 2731, The Complete Works of C. H. Spurgeon (Harrington, DE: Delmarva Publications, 2013).


Autor: Julie Lowe

Julie Lowe, MA, é membro do corpo docente do CCEF e conselheira profissional licenciada com quase duas décadas de experiência em aconselhamento. Julie também é ludoterapeuta registrada e desenvolveu um consultório nessa área no CCEF para melhor atender famílias, adolescentes e crianças. Julie é autora de vários livros na área de aconselhamento.

Ministério: Editora Fiel

Editora Fiel
A Editora Fiel tem como missão publicar livros comprometidos com a sã doutrina bíblica, visando a edificação da igreja de fala portuguesa ao redor do mundo. Atualmente, o catálogo da Fiel possui títulos de autores clássicos da literatura reformada, como João Calvino, Charles Spurgeon, Martyn Lloyd-Jones, bem como escritores contemporâneos, como John MacArthur, R.C. Sproul e John Piper.

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