sexta-feira, 22 de novembro
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Criando filhos preparados, não amedrontados

Ensinando o que é bom e correto

Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou; não vo-la dou como a dá o mundo. Não se turbe o vosso coração, nem se atemorize. (Jo 14.27)

Embora seja importante reconhecer que nossos filhos enfrentam um perigo genuíno e que os pais são chamados a protegê-los de danos, também devemos lembrar que somos chamados a criar filhos preparados, e não filhos amedrontados. Podemos educar nossos filhos sobre os perigos que existem sem ensiná-los a responder ou viver com medo. Ao pensar em minhas experiências como mãe e conselheira, diria que, quanto mais as crianças forem treinadas e receberem as ferramentas para saber como responder a situações incertas ou perigosas, mais confiantes, competentes e em paz elas estarão.

Crianças amedrontadas

Quando nosso filho completou 5 anos, nós o matriculamos na pré-escola. Nós o deixávamos todos os dias e o buscávamos depois do trabalho. Um dia, quando fomos buscá-lo, sua professora mencionou que ele parecia amedrontado e em alerta máximo durante toda a tarde. Ele não brincou com nenhuma das crianças e ficou sozinho em um canto. Perguntei se algo havia acontecido — uma criança foi rude com ele ou alguém o maltratou? A professora não soube indicar nada que pudesse ter gerado sua ansiedade.

Nos dias seguintes, isso ocorreu com mais frequência. Ele nos pedia para buscá-lo mais cedo ou se agarrava mais a nós pela manhã e hesitava entrar na sala de aula. Conversamos com ele com frequência, perguntando se alguém o havia maltratado, tentando fazê-lo se abrir. Percebemos que, mesmo na igreja, ele hesitava entrar na sala da escola dominical e não queria que o deixássemos.

Seu comportamento nos afligia, e comecei a me preocupar de estarmos ignorando algo importante. Tivemos dificuldades para saber como responder.

À medida que explorávamos o que poderia estar acontecendo, descobrimos que, todas as tardes na pré-escola, duas turmas se juntavam enquanto os professores iam para casa. A turma do nosso filho foi combinada com crianças um ano mais velhas. Por alguma razão, isso o deixava desconfortável, até mesmo ansioso. A mesma coisa às vezes acontecia na igreja também. Fizemos tudo ao nosso alcance para estarmos atentos e fazer boas perguntas, e ao mesmo tempo indicávamos como falar se algo negativo estivesse ocorrendo.

Com o passar do tempo, pareceu-nos que a fonte de estresse do nosso filho era o desconforto de estar com crianças mais velhas, embora não houvesse motivos para crer que alguém o estivesse maltratando. Fizemos tudo ao nosso alcance para garantir que não estávamos colocando-o em uma situação perigosa e trabalhamos para assegurar-lhe que estava seguro, confortando-o e ficando com ele quando necessário. Quando soubemos que ele estava em um ambiente seguro, procuramos ajudá-lo a superar sua ansiedade, ensinando-lhe habilidades para incutir confiança.

Tenho de admitir que fiquei preocupada. Temi que pudesse estar deixando algo passar e que ele pudesse ser ferido de alguma forma. Porém, ele gradualmente contornou essa dificuldade, e fico feliz em relatar que nada de ruim aconteceu.

Contudo, à medida que nosso filho crescia, ele tendia a ter novos medos e inseguranças. Muitas vezes, preocupava-se com coisas ruins acontecendo com ele. Tinha a tendência de se sentir desconfortável com pessoas e ambientes novos. Ele ocasionalmente falava sobre a ideia de ladrões e pessoas más o sequestrando. Não havia experimentado essas coisas, mas estava se conscientizando delas. Conforme ele compartilhava, aprendemos mais sobre as propensões de seu coração ao medo e como precisávamos cuidar dele. Ficou claro que ele desenvolveu preocupações inatas que precisavam ser abordadas. Foi-nos aberta uma janela para o que se passava em seu coração e para as maneiras como ele se sentia vulnerável.

Como pais, devemos saber que a nossa contribuição ajudará ou prejudicará nossos filhos. A forma de lidar com nosso filho geraria mais medo nele ou o ajudaria a diminuí-lo. Poderíamos ter falado de uma forma que menosprezasse seus medos e o fizesse sentir-se desconsiderado, ou poderíamos usar seu medo para aumentar nossas advertências contra tais perigos. Nenhuma dessas respostas seria uma opção útil ou sábia. O que ele precisava era que ouvíssemos seus medos, o protegêssemos do verdadeiro perigo e o preparássemos para ele ter as palavras, as habilidades e a confiança para agir, caso realmente se encontrasse em apuros. Ele também precisava de oportunidades para desenvolver sua confiança em ambientes que considerássemos seguros.

Se eu permitisse que minhas preocupações me dominassem e expressasse a ele meus temores, poderia ter inadvertidamente reforçado sua necessidade de sentir medo. Muitas vezes, a reação dos pais aumentará (ou aliviará) as emoções de uma criança. Uma criança pode aprender a se preocupar observando como os pais lidam com o medo e a ansiedade. Mas ela também pode aprender a relaxar observando a resposta de seus pais às suas preocupações.

Se você tem um filho que sofre com ansiedade, pode ficar tentado a confortá-lo, tranquilizando-o: “Não se preocupe, isso nunca acontecerá” ou “Você está bem; ninguém vai machucá-lo ou sequestrá-lo”. Mesmo que digamos essas coisas com relativa confiança, a realidade é que as coisas que nossos filhos temem acontecem. Crianças são sequestradas, pessoas invadem casas e crianças mais velhas maltratam crianças mais novas.

As crianças estão mais informadas e antenadas com o mundo e os eventos locais do que nunca. Muitas vezes, mesmo com pouca idade, já estão muito conscientes de todos os perigos lá fora. Elas ouvem a respeito nas notícias, nas mídias sociais, em um aparelho de casa conectado à internet ou em smartphones. E, se você de alguma forma as protegeu de tudo isso, elas ouvirão de seus colegas, que não estão protegidos e têm acesso constante.

Não ofereça falsas garantias aos seus filhos. Coisas ruins acontecem. Dizer o contrário às crianças parecerá descaso com elas, ou fará com que elas considerem você irrelevante ou inadequado para ajudá-las. Neste mundo, haverá problemas. Elas serão expostas a eles ou alertadas sobre eles, e devemos ajudá-las a lidar com isso.

Podemos fazê-lo de duas maneiras

Primeiro, somos sempre honestos com elas, de maneiras apropriadas ao seu desenvolvimento. As crianças precisam saber que seus pais serão abertos, honestos e acessíveis quando estiverem procurando a verdade. Nossos filhos precisam que nós os direcionemos a Cristo para obter sentido na vida. Isso começa inculcando uma cosmovisão bíblica conforme eles crescem. Não começa no ensino fundamental ou médio com um curso de apologética; começa aos 2 ou 3 anos de idade, quando começamos a ensiná-los sobre o bem e o mal, como Deus fez o mundo e o seu propósito para famílias, relacionamentos e gênero. Significa mostrarmos que conversamos sobre tudo e incentivamos perguntas. Essa prática continua durante todo o curso da criação deles, discipulando-os em todos os caminhos de Deus.

Nossos filhos devem ter a confiança de que podem contar conosco para ajudá-los a entender suas experiências. Fazemos isso direcionando-os à fonte da verdade, para aquele que dá sentido à vida e às suas experiências. Compartilhamos que, quando nós estamos com medo e indecisos, buscamos o Senhor como nosso refúgio. Damos exemplo de confiança no Senhor. Ele é nossa fonte de sabedoria e esperança. Em última análise, confiamos em sua orientação e proteção, e falamos sobre como o vemos trabalhando em nossa própria vida.

Em segundo lugar, temos a tarefa de preparar nossos filhos para enfrentar as realidades da vida e tudo que eles podem experimentar. Não basta dizer: “Sim, o mundo não é seguro e você deve confiar em Deus.” É verdade, mas está incompleto. Devemos educá-los e prepará-los para saírem e se envolverem com o mundo ao seu redor. Trabalhamos a fim de treinar e preparar as crianças com as ferramentas para lidarem com a vida e tudo o que esta lançará sobre elas.

Deuteronômio 6 nos encoraja a ensinar o que é bom e correto para nossos filhos no curso da vida. Devemos ensiná-los diligentemente — falando com eles assentados, andando, quando nos deitamos e quando nos levantamos (Dt 6.7). Nem sempre podemos evitar que nossos filhos sejam expostos ao mal ou à tentação, mas podemos prepará-los para responder às situações com sabedoria e discernimento.

Este artigo é um trecho adaptado e retirado com permissão do livro: Prepare seus filhos contra os perigos do mundo, de Julie Lowe, Editora Fiel.


Autor: Julie Lowe

Julie Lowe, MA, é membro do corpo docente do CCEF e conselheira profissional licenciada com quase duas décadas de experiência em aconselhamento. Julie também é ludoterapeuta registrada e desenvolveu um consultório nessa área no CCEF para melhor atender famílias, adolescentes e crianças. Julie é autora de vários livros na área de aconselhamento.

Ministério: Editora Fiel

Editora Fiel
A Editora Fiel tem como missão publicar livros comprometidos com a sã doutrina bíblica, visando a edificação da igreja de fala portuguesa ao redor do mundo. Atualmente, o catálogo da Fiel possui títulos de autores clássicos da literatura reformada, como João Calvino, Charles Spurgeon, Martyn Lloyd-Jones, bem como escritores contemporâneos, como John MacArthur, R.C. Sproul e John Piper.

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