quarta-feira, 11 de dezembro
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Jesus Cristo, o Rei conquistador

Jesus é a realidade

“Depois de João ter sido preso, foi Jesus para a Galileia, pregando o evangelho de Deus, dizendo: ‘O tempo está cumprido, e o reino de Deus está próximo; arrependei-vos e crede no evangelho’” (Mc 1.14-15). O ministério de Jesus começou com esse anúncio.

Jesus falou muitas vezes sobre o Reino de Deus. Trata-se de um tema central na sua mensagem. Ele tanto pregou como demonstrou que o Reino de Deus havia irrompido no mundo com sua vinda. Na sua pregação, ele ensinou aos seus discípulos como entrar no Reino e o tipo de estilo de vida a que isso levaria. Através dos seus milagres, ele deu demonstração visual e física do poder restaurador e transformador do Reino.

Cerca de uma semana antes de sua crucificação, Jesus fez algo que deixou claro que ele próprio era o rei no Reino de Deus. Aqui está a descrição do evento por João:

No dia seguinte, a numerosa multidão que viera à festa, tendo ouvido que Jesus estava de caminho para Jerusalém, tomou ramos de palmeiras e saiu ao seu encontro, clamando: Hosana! Bendito o que vem em nome do Senhor e que é Rei de Israel! E Jesus, tendo conseguido um jumentinho, montou-o, segundo está escrito:

“Não temas, filha de Sião, eis que o teu Rei aí vem, montado em um filho de jumenta.”

Seus discípulos a princípio não compreenderam isto; quando, porém, Jesus foi glorificado, então, eles se lembraram de que estas coisas estavam escritas a respeito dele e também de que isso lhe fizeram. Dava, pois, testemunho disto a multidão que estivera com ele, quando chamara a Lázaro do túmulo e o levantara dentre os mortos. Por causa disso, também, a multidão lhe saiu ao encontro, pois ouviu que ele fizera este sinal. De sorte que os fariseus disseram entre si: “Vede que nada aproveitais! Eis aí vai o mundo após ele.”[i]

Essas linhas melódicas na descrição bíblica de Jesus — a semente da mulher, o profeta e o sacerdote — não só percorrem todo o percurso desde Gênesis até Apocalipse, mas também, em certo sentido, se cruzam umas com as outras.

Você pode pensar nesses vários temas em termos de um diagrama de Venn, aqueles círculos interligados que aprendemos em matemática no ensino médio. O ponto onde todos eles se encontram centra-se na pessoa do Senhor Jesus Cristo e na sua obra de salvação e restauração.

Quando éramos meninos na escola dominical, nossos professores nos lembravam constantemente que a Bíblia é um livro sobre Jesus:

• No Antigo Testamento, Jesus é predito.

• Nos Evangelhos, Jesus é revelado.

• Nos Atos dos Apóstolos, Jesus é pregado.

• Nas Cartas, Jesus é explicado.

• No livro de Apocalipse, Jesus é esperado.

Na verdade, esse é um pequeno resumo bastante útil tanto para adultos como para jovens. Pode não ser exaustivo ou sofisticado, mas certamente nos ajuda à medida que avançamos na Bíblia. A verdade é que a Bíblia será um mistério impenetrável em todos os pontos em que desviarmos os olhos de Cristo. Perderemos o rumo da Bíblia quando deixarmos de olhar para Jesus.

A história da entrada de Jesus em Jerusalém no primeiro Domingo de Ramos[ii] é um exemplo disso. O que está acontecendo nessa passagem conhecida?

Às vezes, os versículos mais conhecidos podem ser o motivo para a nossa leitura mais superficial. Essa passagem em particular é lida rotineiramente no Domingo de Ramos. Porém, apesar da nossa familiaridade com a cena da entrada triunfal, podemos não ter compreendido seu significado.

Então, qual é a mensagem? O que isso significa? Por que isso importa?

Alunos lentos para aprender

Se formos honestos sobre a nossa incerteza, não devemos ficar indevidamente desanimados. Estamos em boa companhia: junto com os próprios discípulos de Jesus. João diz: “Seus discípulos a princípio não compreenderam isto.”[iii] Não é nenhum elogio para eles, é?

Aliás, uma das marcas da autenticidade dos Evangelhos é, seguramente, o número de vezes que os autores nos contam o que os discípulos não entendiam. Eles não foram escritos para indicar à Igreja os talentos naturais dos apóstolos.

É útil — e pode ser maravilhosamente encorajador — observar esses pequenos detalhes. Eles nos lembram que estamos em peregrinação e ainda não chegamos ao nosso destino. Jesus está nos transformando, mas nossa vida ainda está sendo construída. Nós também temos muito que aprender. Isso simplesmente ressalta o privilégio que é possuir as Escrituras e viver sob sua tutela.

Os discípulos simplesmente não conseguiam captar a ideia, não é? Nem foi essa a única vez em que João registrou a falta de inteligência espiritual deles.

Mais tarde, no cenáculo, Jesus lhes disse: “Vou preparar lugar para vocês e virei buscá-los, para que estejam sempre comigo”, e acrescentou: “E vocês conhecem o caminho para onde eu vou.” Então, Tomé disse: “Mas não conhecemos! Não o entendemos, Jesus. Não sabemos para onde você vai; então, como podemos conhecer o caminho?” Jesus responde: “Bem, vocês sabem. Eu sou o caminho, e, se vocês realmente me conhecessem, conheceriam o Pai.” E, então, o querido Filipe diz: “Veja, Jesus, por que você simplesmente não nos mostra o Pai, e isso será suficiente para nós.” Ele ainda não entendia que o Pai se revelava em Jesus. “Há tanto tempo estou com vocês”, respondeu o Senhor, “e você ainda não me conhece, Filipe? Quem me viu viu o Pai.”[iv]

Jesus lhes afirma que devem ser encorajados pelo fato de que, quando o Espírito da verdade vier, ele os guiará a toda a verdade. Ele não falará de si mesmo; antes, falará apenas do que ouviu e lhes dirá o que ainda está por vir. Mais “um pouco, e não mais me vereis; outra vez um pouco, e ver-me-eis”.[v] Isso não é particularmente difícil de entender, não é mesmo? “Eu vou embora, e vocês não me verão. E, então, eu

voltarei, e vocês me verão.” Contudo, alguns dos seus discípulos perguntavam uns aos outros: “Que vem a ser isto que nos diz: ‘Um pouco, e não mais me vereis, e outra vez um pouco, e ver-me-eis’?”[vi]

É claro que nos parece perfeitamente óbvio, já que pudemos ler o final da história. Temos as cartas do Novo Testamento para nos explicar tudo. Todavia, ao ouvir os discípulos, não é uma surpresa descobrir que, mais tarde, Jesus clama em oração: “Pai! Pai!”, como se dissesse: “Olha esses indivíduos que tu me deste. Eles estão na escola dominical comigo há três anos, mas ainda estão completamente perdidos. Um por um, eles continuam me fazendo perguntas simples e básicas. Ó Pai, eu os guardei. Tu poderias guardá-los, por favor?”[vii]

Tudo isso sublinha para nós que, quando lemos as Escrituras, precisamos nos proteger de pensar: “Ah, eu sei muito sobre isso; eu sei tudo sobre o significado desta passagem. É a passagem do Domingo de Ramos. Eu conheço essa. Sim, já a lemos. Já estive em vários cultos de Domingo de Ramos. Não pode ter nada para eu aprender agora. Bem, Jesus é um rei, certo?”

Não! Nosso ponto de partida deveria ser: “Senhor, tu sabes, eu realmente não conheço muito sobre isso.” Dessa forma, seria mais provável que pensássemos: “Eu me pergunto o que é empolgante, dramático e interessante aqui; o que posso descobrir de novo nesta manhã com base nesta passagem?”

Use sua imaginação

Se fosse possível voltarmos no tempo e observarmos uma família se preparando para a Páscoa, poderíamos ouvir uma conversa entre um menino e seu pai:

“Papai, mal posso esperar por amanhã. Já estou com meus ramos de palmeira. Estou pronto. Não sei se vou conseguir dormir esta noite, papai. Porque amanhã… é aquele dia maravilhoso, não é?”

“É, sim, filho”, responde o pai.

“Papai, cante uma música para mim antes de eu dormir. Podemos cantar juntos aquela que eu gosto de cantar?”

“Você quer dizer qual?”

“Bem, não é um daqueles Salmos de Romagem?[viii] Aquele que começa: ‘Alegrei-me quando me disseram…’ Aquela música sobre como nossos pés estão em Jerusalém. Podemos cantar essa?”

Você deve conhecer esse salmo na versão de Isaac Watts:

Quão satisfeito e feliz fiquei

Ao ouvir o povo clamar:

“Nosso Deus hoje vamos todos buscar!”

Sim, com um zelo alegre,

Corremos para o monte Sião,

E ali nossos votos e homenagens levados serão.[ix]

É importante termos em mente que o material dos Evangelhos está inserido na trama da vida cotidiana. É verdade que vemos esse menino apenas em nossa imaginação, mas muitos garotos entusiasmados como ele estavam lá com as suas famílias no Domingo de Ramos — como crianças alinhando-se nas ruas para a posse de um presidente ou para a coroação de um monarca britânico. As multidões de Jerusalém, no entanto, reuniram-se para celebrar as intervenções divinas de salvação no passado da sua nação. Eles também aprenderam com o Antigo Testamento sobre uma nova era, um novo dia que surgiria, quando tudo o que havia sido perdido e confiscado seria restaurado, e quando tudo que ansiavam ver seria revelado. Na multidão de espectadores agitando galhos de palmeiras, haveria várias camadas de anseios incorporados à expectativa e alegria daquele dia.


Este artigo é um trecho adaptado do livro Nome acima de todo nome, de Alistair Begg e Sinclair Ferguson, Editora Fiel.

CLIQUE AQUI para ler mais artigos que são trechos deste livro.


[i] João 12.12-19.

[ii] N.T.: Festa cristã celebrada em algumas igrejas, a qual comemora a entrada triunfal de Jesus em Jerusalém, como mencionada em João e nos outros três Evangelhos (Mc 11.1-10; Mt 21.1-11; Lc 19.28-44). É comum distribuírem folhas de palmeira, oliveira ou salgueiro para os fiéis.

[iii] João 12.16

[iv] Veja João 14.1-11

[v] João 16.16

[vi] João 16.17

[vii] Veja João 17.11-15

[viii] Os Salmos 120–134 parecem pertencer a uma espécie de hinário para os peregrinos nas festas de Jerusalém.

[ix] “How Pleased and Blest Was I” (1719), de Isaac Watts, é inspirado no Salmo 122.


Autor: Alistair Begg

Alistair Begg serviu duas igrejas na Escócia, sua terra natal, antes de responder, em 1983, ao chamado para se tornar o pastor principal na Parkside Church, em Cleveland (Ohio). Graduado pela London School of Theology, Begg já escreveu vários livros. Além disso, é ouvido diariamente no programa nacional de rádio Truth for Life. Ele e sua esposa, Susan, se casaram em 1975 e têm três filhos adultos.

Ministério: Editora Fiel

Editora Fiel
A Editora Fiel tem como missão publicar livros comprometidos com a sã doutrina bíblica, visando a edificação da igreja de fala portuguesa ao redor do mundo. Atualmente, o catálogo da Fiel possui títulos de autores clássicos da literatura reformada, como João Calvino, Charles Spurgeon, Martyn Lloyd-Jones, bem como escritores contemporâneos, como John MacArthur, R.C. Sproul e John Piper.

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