Ele era um pastor de meia-idade, de uma igreja de bom tamanho e razoavelmente rica. Era uma igreja com uma teologia conservadora, que possuía uma visão elevada das Escrituras, o que tornava tão tragicamente memorável o comentário que ele havia feito.
Ele me perguntou em que eu estava trabalhando, ao que respondi: “Num caso de disciplina na igreja”. Eu havia sido fortemente convencido de que deveria tomar a palavra de Deus ao pé da letra no que concerne à disciplina da igreja. Minha igreja havia enfrentado uma recente situação difícil e dolorosa, então, compartilhei que não poderíamos nos considerar fiéis se não nos esforçássemos para obedecer a Deus nessa área.
Esta foi a sua resposta: “Você está certo, claro. Mas, sabe, no início do meu ministério, eu decidi o que eu faria e o que não faria, e esse não é um caminho que eu vou seguir”.
Nunca me esqueci de suas palavras. Não é algo insignificante decidir deliberadamente não acatar as instruções de Cristo (Mt 18.15-18), a aplicação da verdade apostólica divina (1 Co 5.1-7,12-13), a instrução congregacional restauradora (2 Cor 2. 6-8), o chamado para “cumprir a lei de Cristo” (Gl 6.1-5), o mandamento apostólico explícito (2 Ts. 3.6-10, Tt 3.9-11), as prescrições claras para nos desviarmos daqueles que desobedecem essas instruções (2 Ts. 3.14), um instrumento de Deus para instruir contra a blasfêmia (1 Tm. 1.19 b-20) e o mandamento, sem ambigüidades, para que “mantenhamos essas regras” (1 Tm . 5.19-21).
Mesmo assim, muitos pastores têm optado por não seguir “esse caminho”. Eles querem estabilidade no emprego. Querem evitar as dificuldades do confronto. Querem claramente se afastar das dinâmicas complexas que inevitavelmente surgem numa igreja quando a disciplina é praticada.
Vale a pena lembrar o que nós, pastores, podemos perder se negligenciarmos a disciplina bíblica na igreja, bem como o que podemos ganhar se seguirmos fielmente a Palavra de Deus.
O QUE PERDEMOS?
1. A bênção e a graça de Deus
Ao negligenciarmos a disciplina na igreja, perdemos a bênção e a graça de Deus. Tomar uma decisão consciente, intencional e deliberada de escrever “Não!” sobre os ensinamentos bíblicos acerca da disciplina eclesiástica é o mesmo que escrever “Icabode!” sobre a igreja. Quando alguém opta por ignorar as instruções de Deus para sua noiva está buscando a bênção de Deus em vão.
2. Nossos membros abatidos
Podemos também perder os membros da igreja que estão abatidos. E aqui está uma triste ironia: os membros abatidos, aos quais não pretendemos “julgar”, “machucar” ou “afastar”; se forem deixados em seus pecados e privados do chamado da igreja para o arrependimento, acabarão se sentindo desprezados e deixarão a igreja, de qualquer maneira. Mesmo que eles não a deixem, a sua distância interior em relação a Deus torna sua presença uma mera fachada, o que significa que os perdemos, do mesmo jeito.
3. Nossos membros fiéis Se falharmos em levar a sério todo o conselho de Deus, corremos o risco de alienar aqueles membros que acatam o conselho de Deus com seriedade. Como é estranho desistir dos membros fiéis por temermos o chamado carinhoso para trazer os membros desobedientes de volta para o Senhor, por meio do ministério da disciplina eclesiástica!
4. O nosso testemunho diante do mundo vigilante
O mundo pode desprezar o evangelho, mas, pelo menos, respeita a coerência. Quando deixamos de falar a verdade para aqueles que naufragaram em sua fé, consentindo com sua rebelião perniciosa, o mundo, que está nos vigiando, afasta-se de nós, com desprezo pela hipocrisia explícita da igreja.
5. Nossa autoridade para falar
Que direito temos de dirigir uma palavra profética à nossa cultura de libertinagem sexual desvairada, se a mesma rebelião corre solta em nossas igrejas? Que direito temos de falar contra a corrupção e a ganância, se falhamos em enfrentar essas coisas em nossa própria igreja? Eliminar as passagens concernentes à disciplina da igreja é o mesmo que eliminar nossa própria língua.
O QUE GANHAMOS?
1. O favor de Deus
Ao praticarmos a disciplina bíblica na igreja, ganhamos o favor de Deus. É conveniente aplicar o “Muito bem servo bom e fiel!” às igrejas locais, além de aplicá-lo aos cristãos individualmente. O favor e a satisfação de Deus deveria ser nossa principal motivação para abraçarmos a disciplina bíblica na igreja.
2. O crescimento de nosso irmão ou irmã
A disciplina também leva ao crescimento. Tenho quase certeza de que a disciplina eclesiástica é um dos caminhos mais negligenciados para o crescimento cristão no corpo de Cristo hoje em dia. No entanto, a disciplina eclesiástica, administrada de forma carinhosa, ajuda os crentes crescerem em obediência a Cristo.
3. Poder no púlpito
Quer saber outro benefício que os pastores muitas vezes perdem por não praticarem a disciplina na igreja? Obedecer a Cristo nas questões difíceis concede autoridade para a nossa pregação. Uma congregação que observa seus ministros aplicarem fielmente a Palavra levará a Palavra de Deus mais a sério e a ouvirá com mais atenção. E à medida que conduzir a congregação na obediência à Palavra de Deus, o pregador crescerá na compreensão e na aplicação da Palavra de Deus em sua pregação, com ousadia.
4. A Unidade da Igreja
Unidade em torno de algo que não seja todo o conselho de Deus não é unidade. É apenas uma colcha de retalhos desbotada, confeccionada com alguns pedacinhos da Palavra de Deus, os quais consideramos aceitáveis. Somente a unidade autêntica, a unidade que abraça toda a Palavra de Deus, pode invocar a bênção de Deus.
5. Contraste Evangelístico
Em dias em que temos visto muitas igrejas reduzirem o seu evangelismo à programações e sua capacidade de expansão à truques publicitários, nós também muitas vezes nos esquecemos de que há um chamado evangelístico inerente ao povo de Deus quando eles são exatamente conforme aquilo para o que foram criados. Isso funciona como o que poderíamos chamar de ministério evangelístico de contraste: à medida que a igreja cresce em santidade, isso aumenta cada vez mais o gritante contraste com a cultura perdida ao redor da igreja. Quando isso acontece, o mundo começa a ver que a igreja apresenta uma verdadeira alternativa contra a cultura; uma alternativa que emana de convicções claramente fundamentadas num padrão muito mais elevado do que o seu.
ESCOLHENDO O MELHOR CAMINHO
Alguns anos após a triste conversa que relatei anteriormente, o meu caminho se cruzou com o de outro ministro, com aproximadamente a mesma idade do primeiro. Ele também era pastor de uma igreja de bom tamanho. Também abraçava uma teologia conservadora e possuía uma visão elevada das Escrituras. Estávamos falando sobre o ministério, sobre a vida e sobre o desafio da disciplina eclesiástica; e ele também disse algo que nunca esquecerei: “Sabe, eu apenas gostaria de pastorear uma igreja do Novo Testamento antes de morrer. Creio que podemos ser uma igreja assim, e eu quero levar o meu povo a ser essa igreja”.
Dois homens. Dois caminhos. Duas alternativas. Estou convencido de que o primeiro irmão pagará um alto preço por buscar a facilidade e o conforto. O último talvez pague, ocasionalmente, um preço temporário pelo desconforto e pelos possíveis conflitos, mas sua recompensa será grande.
Escolha o melhor caminho. Essa escolha não é óbvia?
Traduzido por: Waléria Coicev
Do original em inglês: More Than Worth It: Costs and Benefits of Church Discipline