domingo, 15 de dezembro
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O casal Denham no Brasil e o ministério da Editora Fiel

Nesta geração, há uma significativa parcela de pastores evangélicos no mundo de língua portuguesa que tem um imenso sentimento de gratidão a Deus pelo ministério da Editora Fiel, o qual foi estabelecido através da instrumentalidade do casal Denham. Talvez eu possa tomar a liberdade de narrar a minha experiência pessoal como ilustração do impacto deste ministério na vida de muita gente.

O meu primeiro contato com a literatura da Editora Fiel deu-se em 22 e 23 de março de 1980, quando um casal de missionários norte-americanos da Missão Novas Tribos do Brasil, a saber, Carlos e Cora Taylor, esteve ministrando em nossa igreja em Campos dos Goytacazes, no Estado do Rio de Janeiro. Ela ministrou às crianças, e ele, além de ter sido o conferencista, transportava em uma perua Chevrolet Caravan uma quantidade razoável de caixas com livros da Editora Fiel, entre outros materiais. À ocasião, o casal Taylor já contava com mais de trinta anos no Brasil.

Por alguma razão que desconheço, o nosso pastor me indicou para ficar responsável pela venda dos tais livros. E naquele dia tive uma indelével explicação e exemplo por parte do missionário acerca do valor da boa literatura. Fiquei expondo os livros na banca. Eu pouco sabia acerca do conteúdo dos livros, mas meu argumento para vender, além da impressão causada pela capa, era: “O missionário disse que este livro é muito bom!” Assim, com quatorze anos eu fui vendedor de livros da Fiel. E penso que me saí razoavelmente, pois fui presenteado ao final com um elogio junto ao nosso pastor, e recebi como doação alguns livros para vender. O missionário também me presenteou, inclusive com uma dedicatória, o livro Onde irei daqui, ó Deus?, de Zac Poonen, publicado em 1973.

Ainda que não guarde muitos detalhes da leitura daqueles primeiros livros da Fiel, aquele episódio me marcou profundamente. À ocasião eu já possuía cadastro regular na biblioteca do SESC da cidade, mas este episódio me fortaleceu no amor aos livros cristãos. Aos dezesseis anos recebi minha carteira de colportor, vendendo livros em nossa igreja. Antes mesmo de ir ao seminário, Deus concedeu-me o privilégio de ler bons livros de diversas editora evangélicas, desfrutando da expansão da literatura evangélica verificada na década de setenta. Meu início de biblioteca pessoal é daquele tempo.

Meus laços com a Editora Fiel intensificaram-se a partir de 1985, quando um docente do seminário em que estudava participou da primeira conferência Fiel. O professor fazia entusiasticamente (e, diga-se de passagem, de uma forma um pouco demasiada e irreal) a propaganda da Fiel junto aos alunos. E, de fato, foi nos tempos do seminário, debaixo de persistente estudo, que fui persuadido da biblicidade das doutrinas da soberania de Deus, e convenci-me da plena e manifesta historicidade das doutrinas da graça na vida batista. E os livros da Fiel foram decisivos neste ponto. Ainda por diversos anos eu me debateria por compreender como aplicar os princípios da fé reformada no contexto do ministério pastoral, e na realidade local de uma igreja batista, fato que perdura até hoje. E foi motivado por isso que eu, já pastor e professor no seminário, em 1990, participei com minha esposa, pela primeira vez, da Conferência Fiel para Pastores e Líderes. Aquele foi um momento muito rico, e pude aprender muito com os dois pastores batistas que foram preletores.

Dois dos ministérios da Fiel exerciam, assim, grande influência em minha vida: primeiro os livros e, agora, também as conferências. E além dos livros que, em sua grande maioria adquiri, usufruí também de um terceiro ministério da Fiel, isto é, dos livros que me foram doados através do projeto Biblioteca do Pastor. Igualmente, em algumas ocasiões, recebi da Editora Fiel graciosos e significativos incentivos, como também descontos financeiros, a fim de que pudesse participar das conferências anuais.

Neste processo firmou-se para mim, como uma pérola de inestimável preço, a doutrina da aliança da graça, isto é, a aliança que, graciosa e soberanamente, foi firmada na eternidade pelo Deus triúno, em favor da salvação de pecadores. Esta foi, de fato, uma das principais doutrinas que me atraíram para o contexto da Editora Fiel, e que, ao meu juízo, tem sido um dos matizes predominantes em seu ministério. E devo acrescentar que, para tanto, Deus teve de convencer-me, constrangendo-me e transformando minha relutância e obstinação num espírito voluntário.

É, portanto, propositalmente que começo este artigo tomando a liberdade de narrar, como um recurso ilustrativo, a minha experiência pessoal. Sei que muitos jovens pastores e líderes evangélicos brasileiros, assim como eu àquela época, e outros nem tão jovens assim, podem igualmente testemunhar o impacto que o ministério da Editora Fiel tem produzido em suas vidas e ministérios.

O Casal Denham

James Richard Denham Junior, carinhosamente conhecido como “senhor Ricardo”, filho de um casal muito temente a Deus, nasceu em Daytona Beach, Flórida, em 29 de maio de 1927, tendo sido criado, entretanto, no Estado de Oregon, nos Estados Unidos. Seu pai converteu-se aos vinte e nove anos, e, conquanto de origem muito simples, tornou-se um pastor batista muito capacitado. Teve ele uma posição elevada no Westmount College, em Santa Bárbara, Califórnia, tendo sido instrumento para encontrar e adquirir a propriedade para o campus da atual universidade. Pregava nas igrejas representando a universidade. Juntamente com sua esposa, Aletha, foi missionário na China pela Hebron Mission, onde realizou profícuo ministério entre as igrejas e os missionários. Este casal também visitou a América Latina, inclusive o Brasil, tendo conhecido a região do Rio Amazonas. James Richard e Aletha Denham tiveram apenas um casal de filhos, sendo Ricardo o mais novo, e a primogênita Dickalon, que serviu fielmente ao Senhor, falecendo em 2001. O pastor James Richard faleceu aos cinquenta e quatro anos, e está sepultado no cemitério ao lado da Igreja Batista em Palo Verde, Arizona. Dona Aletha Denham foi sepultada aos noventa e nove anos, em 24 de julho de 2005, em São José dos Campos, São Paulo, onde viveu os últimos dias e congregava entre nós.

O senhor Ricardo converteu-se e foi batizado aos onze anos pelo Pr. Loyd Cox, tornando-se membro de uma igreja batista em Glide, Oregon. Ele conta que antes vivia se comparando à sua irmã, apontando falhas e considerando-se superior a ela. Porém, quando a igreja em Glide recebeu a visita do evangelista Henry Hendrick, ele, confrontado pela pregação, convenceu-se de que era um pecador diante de Cristo e perdeu aquele senso irreal de justiça própria. Pediu o batismo à igreja, e como era inverno, a igreja não realizou, como de costume, os batismos no rio, mas recorreu ao batistério de uma igreja numa cidade vizinha. O senhor Denham diz que apreciou essa prudente iniciativa da igreja!

O senhor Denham concluiu o bacharelado em inglês no Westmount College, no Estado da Califórnia. Residindo no Estado do Oregon, cursou a especialização em inglês (Major) e história (Minor) na Universidade daquele estado. Durante o tempo em que cursava a pós-graduação em Oregon, o senhor Ricardo mantinha contato com os pastores das igrejas batistas conservadoras (Conservative Baptist Fellowhip), sendo convidado para pregar nas igrejas quando da ausência dos pastores. Certa ocasião, um secretário geral da comunhão o encaminhou para pregar na igreja em Condon, Oregon. Os irmãos apreciaram bastante o seu ministério, e pediram para que ele voltasse. Isto culminou em um convite para que ele pudesse pastoreá-los. O senhor Denham solicitou então o apoio da igreja em Santa Bárbara, Califórnia, onde foi membro quando cursou o College, tendo recebido daquela igreja o apoio e o encargo para exercer o ministério pastoral em Condon. Àquela altura o senhor Denham ainda era solteiro, conquanto já estivesse namorando dona Pérola.

Pearl Armen Denham, mais conhecida entre nós como “dona Pérola”, nasceu em Pasadena, Califórnia, em 9 de setembro de 1927. Foi criada, entretanto, entre as vinhas de Dinuba, Califórnia. Sua mãe, Sarah, descendia de fervorosa família evangélica na Armênia. O Rev. Asadoor Zacharia Yeghoyan (1867-1937), avô materno de dona Pérola, é considerado “um Moody para o povo armênio”. Foi notável evangelista, escritor, fundador de seminário, e enviou vários missionários para a Rússia. Em virtude do genocídio praticado contra os armênios na segunda década do século XX, a família imigrou para os Estados Unidos, passando antes por Cuba. O senhor Yeghoyan passou a residir em Pasadena, Califórnia, onde pastoreou uma igreja armênia, havendo fundado e dirigido uma escola. Asadoor Yeghoyan foi sepultado em Fresno, Califórnia. Deus abençoou ricamente a descendência deste homem, com pastores e missionários em diversos lugares. A mãe de dona Pérola foi uma universitária muito culta e capaz, e professora de idiomas para imigrantes em uma escola batista em Cuba, quando a família Yeghoyan passou por lá. O pai da senhora Denham, Arthur Taylor, converteu-se na velhice; foi alfaiate, dono de tinturaria, e tornou-se próspero. Dona Pérola é a única filha entre dois irmãos, ambos falecidos, os quais também se tornaram servos do Senhor. O mais velho foi músico renomado, evangelista e pregador. Apesar de criada sob uma saudável influência cristã, dona Pérola não tinha paz e segurança, até o momento em que se dedicou a Cristo e consagrou-se à obra missionária. Foi uma experiência muito marcante! Passou a experimentar um sensível zelo e amor por Cristo, fato amplamente testemunhado, inclusive por amigas na escola. Peróla Denham foi batizada aos quinze anos numa igreja batista em Fresno. Na Bob Jones University dona Pérola obteve o bacharelado em Música Clássica, especializando-se em piano clássico.

Os jovens Ricardo e Pérola conheceram-se nos seus dezoito anos de idade, quando ambos cursavam o Westmount College, na Califórnia. O casamento aconteceu no dia 7 de outubro de 1950, em Fresno, e foi celebrado pelo pai de senhor Ricardo. Nesta época o senhor Denham era pastor da Igreja Batista Conservadora em Condon, Oregon. Foi então que Deus os chamou para vir ao Amazonas, como missionários. Os pais dele haviam visitado a região do rio Madeira e relataram que ela muito carecia de uma obra missionária.

O senhor Ricardo Denham recebeu a influência de três grandes forças evangélicas que moldaram fortemente sua vida e ministério. Desde a infância recebeu o impacto indelével do movimento moderno de missões, especialmente por parte das chamadas “Missões de Fé”, tais como as que caracterizaram a obra missionária de Hudson Taylor, Charles Studd e outros. Também o fundamentalismo evangélico norte-americano marcou grandemente a vida e visão de senhor Denham, tendo sido criado num ambiente familiar e eclesiástico que repercutiam os Fundamentos. [1] Uma última grande influência, mais tardia em sua história pessoal, foi o movimento que marcou um renascimento da fé reformada no século XX. Estas três grandes forças, associadas à criação num lar piedoso e à infância e juventude vividas na Grande Depressão econômica e período entre guerras, moldaram uma personalidade bastante dinâmica e determinada.

A Família Denham Na Amazônia

Os Denham propuseram-se a vir para o Brasil, mas não tinham fonte de sustento, pois vieram como missionários “independentes”, isto é, sem o suporte formal de qualquer junta missionária ou organização. Movido por fé, o casal vendeu o que possuía, inclusive mobílias e louças, e com bem pouco sustento deixou seu país rumo a uma região desconhecida. Dona Pérola vendeu o seu piano de cauda, a fim de que as passagens aéreas fossem adquiridas. Antes de partirem, um médico lhes constatou por exames que talvez nunca poderiam ter filhos.

Era uma noite fria de novembro de 1952, quando embarcaram em um velho avião, movido a hélices, no aeroporto de Nova York, com destino ao Brasil. Os pais de senhor Ricardo acompanharam-lhes nesta primeira viagem. Embora estivessem sentindo diferentes emoções, tais como alegria, temor, fé e confiança, sabiam que Deus os havia preparado desde a sua adolescência para aquela ocasião. Recordaram-se das pessoas queridas, dos amigos e dos confortos que tinham deixado para trás, em troca de uma vida nova e diferente.

O casal descreve a sua chegada ao Brasil:

Quando desembarcamos do avião, em Belém, e começamos a respirar o ar tropical, quase ficamos sufocados, mesmo às seis horas da manhã. Depois de chegarmos a Manaus, achando o ar ainda mais quente, tivemos de confiar no Senhor para nos ajudar a enfrentar a umidade e o calor. Estávamos preparados para, tanto quanto pudéssemos, vivermos de maneira semelhante ao povo de Manaus.

Nossa primeira casa tinha as coisas essenciais: telhado para nos proteger, um pequeno banheiro para tomarmos banho com um balde de água, trazida de uma torneira comunitária que havia na rua onde morávamos. Uma tábua grande colocada na janela aberta da cozinha servia como uma pia para lavar a louça. A água escorria para o chão. Nossa cama era feita de tábuas e estava forrada com um colchão de cascas de arroz; também tínhamos um mosquiteiro para nos proteger dos insetos – isto era uma grande bênção! Começamos a utilizar repelente de mosquitos em todas as noites a partir das dezessete horas. Logo aprendemos a viver sem um refrigerador e luz elétrica. O melhor de tudo era contar com a ajuda de missionários amigos que nos orientavam nas compras das coisas que necessitávamos.

Quando caminhávamos nas calçadas da cidade, as pessoas cochichavam: ‘americanos’… E nos ofereciam um amável sorriso. Tentamos vestir roupas que nos fizessem parecer com os brasileiros, mas eles ainda pareciam saber que éramos estrangeiros. Logo percebemos que este novo e amável país seria um lar para nós.

Fomos recebidos calorosamente pela igreja em Manaus. A singularidade do amor do Senhor estava presente ali, e fomos muito abençoados e encorajados na comunhão com a igreja. Após orar e esperar para ver o que Deus queria, o Senhor providenciou-nos uma lancha que serviria para nossa locomoção no Amazonas. Nos mudamos para um barco de dez metros de comprimento. Estudávamos a língua portuguesa e viajávamos com o nosso professor, que também era nosso intérprete. O rio Amazonas e seus tributários são verdadeiramente misteriosos, lindos e admiráveis. No entanto, ficamos chocados ao ver a extrema pobreza, a fome, as precárias condições de saúde, as doenças e as febres que aquelas pessoas queridas sofriam. Procuramos ajudá-las, mas as suas necessidades eram imensas. Trouxemos sementes, para que as pessoas plantassem, e amendoim para que elas tivessem mais proteínas em sua dieta. Muitas delas tinham medo de tomar remédios e não vinham às consultas com os médicos que o governo lhes enviava. Todavia, a grande necessidade daquelas pessoas era a Palavra de Deus. Algumas receberam o Senhor Jesus quando pregamos o evangelho por meio do intérprete. ‘A revelação das tuas palavras esclarece e dá entendimento’ (Sl 119.130). Muitas estavam aprendendo a ler…

O casal Denham desenvolveu seu ministério em Manicoré, uma região bastante pobre do vale do rio Madeira, Amazonas. No tempo em que viveram naquele Estado, os Denham adotaram duas meninas irmãs, muito carentes, Delza e Mary Ann. Ambas tornaram-se servas de Cristo, casaram-se e, atualmente, residem nos Estados Unidos. Somente depois de nove anos de casamento, numa ação perceptível do poder de Deus, nasceu a primeira filha do casal. Em 1958, em viagem para o interior do Amazonas, e sob os efeitos de uma crise de saúde, o senhor Denham relembrou as palavras médicas de que muito dificilmente poderia ter filhos. Ele já resolvera deixar este assunto com Deus, e nesta ocasião escreveu na página de rosto de sua Bíblia: “Buscando a Deus por um filho, para consagrá-lo ao serviço dEle – de acordo com a promessa de sua santa Palavra” (Sl 84.11; 127.1-5; 128.1-6; Mt 7.11; 1Jo 3.20-22; 5.14-15). Um ano depois nascia a sua primeira filha. Nasceram-lhes ao todo, no Brasil, três filhas e dois filhos: Rachel Down (dois filhos); Faith Elizabeth (dois filhos); Saralee (três filhos); Rick (dois filhos) e Mark. Os filhos cresceram com pouquíssima interação com outros familiares, com praticamente nenhum contato com os primos, e sofreram bastante com isto. O casal Denham tem atualmente nove netos.

Os Primeiros Anos No Brasil

Deus operou com sabedoria e graça em diversas circunstâncias: proporcionando ocasião favorável ao casamento, depois de um reencontro que parecia impossível; dando filhos ao casal, o que para a medicina era quase impossível; sustentando-os na obra missionária, sem contarem com o suporte de uma missão denominacional. O fato é que Deus sempre cuidou da família e providenciou o necessário para que os Denham realizassem sua vontade.

Na vila de Manicoré, o casal Denham experimentou grande oposição e sofrimentos, inclusive risco de morte em diversos momentos. Um episódio aconteceu na sexta-feira de Páscoa, do ano de 1953. Dois sacerdotes romanos, que não apreciaram a presença do casal, conduziram procissões contra os missionários evangélicos. Foram construídos dois bonecos: uma mulher tocando acordeom e um homem com um livro na mão, representando os missionários recém chegados. Os bonecos foram pendurados pelo pescoço e, às dezesseis horas, foram queimados em logradouro público. A procissão dirigiu-se à praça da cidade, em frente da igreja, repetindo: “Nossa Senhora de Fátima, livrai-nos das heresias dos protestantes!”. Na praça, os padres exclamavam: “Morte aos protestantes e vida aos católicos!” Tal reação foi um choque para o casal. A providencial amizade que o senhor Denham havia estabelecido com um delegado e com o prefeito resultou em alguma segurança para o casal, tendo sido destacados dois policiais para protegê-los, visto que o padre os ameaçara de morte, a eles e ao grupo que se reunia. Os cultos quase pararam, e a maioria se dispersou. Somente os convertidos fiéis permaneceram. Aquele foi um tempo de provação, mas também oportunidade em que a graça do Senhor era abundante. O delegado que os protegeu veio a ser convertido anos mais tarde, tendo inclusive trabalhado na área de literatura, como um dos revisores de um dicionário bíblico.

Muitas outras experiências manifestaram a profusa graça do Senhor e seus ternos cuidados. Em uma ocasião, o casal esteve à beira da morte, quando a sua lancha quase afundou. Em muitas ocasiões tiveram que enfrentar a fúria dos sacerdotes católicos, que aumentavam a perseguição. Porém, o Senhor era com eles, dando-lhes proteção e ensinando-lhes muitas lições, das quais uma das maiores era esta: “A graça de Deus é suficiente em qualquer circunstância; e, quando precisamos de sua graça, Deus no-la dá, assim como a sua paz e tranquilidade”. Em meio a grandes dificuldades, puderam ver claramente a mão de Deus os livrando e salvando a muitos, nos dez anos que estiveram no Amazonas. Até os dias de hoje, de tudo quanto fez o senhor Denham, suas memórias mais saudosas são do tempo em Manicoré. Os comoventes relatos de conversão do senhor Jovelino Carvalho, major da Polícia Militar, e de “Dona Sinhá”, líder católica membro das “Filhas de Maria” e opositora renhida, estão entre as muitas histórias que ele sempre traz consigo. O senhor Ricardo conta ainda sobre um irmão que muito o impactou e influenciou: o boliviano Arturo Arana. Relata ele que, tendo que passar uma temporada em Cochabamba, na Bolívia, a fim de tratar da saúde, conheceu o senhor Arturo em La Paz. Soube que este tinha uma fábrica de imagens de santos e que, certa ocasião, defrontou-se numa loja com uma Bíblia aberta no texto de Êxodo 20. Examinando o texto, atentou para a advertência divina contra a confecção de imagens. Entrou na loja, conversou com o dono e lhe apresentou o evangelho. O senhor Arana converteuse a Cristo e destruiu com um martelo todos os seus “santos”. O senhor Ricardo conta ainda que ficou bastante impressionado com a firmeza doutrinária deste homem, que se recusou associar-se a projetos ecumênicos liberais, na medida em que percebeu o comprometimento da verdade do evangelho.

Tendo travado amizade com William “Bill” Barkley e Jack Walkey, missionários britânicos e membros da Capela de Westminster em Londres, pastoreada por D. Martyn Lloyd-Jones, e através da literatura produzida pela editora The Banner of Truth, que lhe foi apresentada por aqueles, no fim dos anos cinquenta e início da década de sessenta, o senhor Denham teve seu contato com as doutrinas da graça. A revista The Banner of Truth, apresentada a ele pelo senhor Bill Barkley, cumpriu um papel muito importante neste sentido e fortaleceu a convicção do senhor Denham acerca da importância de uma publicação como aquela. No início da década de sessenta, os Denham sentiam ser o tempo de traduzir e publicar o evangelho da graça de Deus para os líderes evangélicos brasileiros. Em dezembro de 1960, abriram a Livraria Evangélica do Lar Cristão, que em março de 1962 foi nomeada representante da Sociedade Bíblica do Brasil, na “categoria de agente distribuidor, no Estado do Amazonas e nos territórios de Rio Branco, Acre e Rondônia”.

Em Manaus, os Denham mantiveram, com grande esforço, o programa de rádio “A Hora da Decisão”, com largo alcance em toda aquela vasta região.

O pastor presbiteriano Franklin D’Ávila, atualmente servindo em Aracaju, em Sergipe, escreve:

Recordo-me quando adolescente acompanhava meu pai em visitas à Livraria Lar Cristão, que funcionava numa das dependências do Hotel Amazonas, próximo ao porto de Manaus. Não esqueço que o primeiro disco que meu Pai comprou continha o hino ‘Desperta Brasil’. Naquela época eu era menino… Alegro-me pelas bênçãos de Deus… Tudo começou com uma pequenina livraria numa igualmente pequena sala.

No mister de ampliar o ministério com literatura, a família Denham mudou-se para a cidade de São Paulo em 1964. A livraria em Manaus foi adquirida pelo senhor Bill Barkley, que mais tarde fundou a Editora Publicações Evangélicas Selecionadas (PES).

A primeira impressão que o casal Denham teve de São Paulo foi a de que “ela era a maior e mais moderna cidade deste continente”. Que contraste! Diz o casal: “Em São Paulo desfrutamos da preciosa comunhão do corpo de Cristo. Logo nos vimos amando e trabalhando com os queridos irmãos e irmãs em Cristo”. Ainda em 1964 o senhor Denham abriu outra livraria na Praça da República, em São Paulo – a Livraria “O Leitor Cristão”. Carmem da Mota, ex-freira católica, tendo chegado ainda jovem e recém-convertida a São Paulo, foi encaminhada pela família de Dr. Russell Shedd à livraria, onde recebeu trabalho e tornou-se a principal vendedora. Em seu testemunho, ela escreve acerca de senhor Denham:

Este servo de Deus acolheu-me, ensinou-me a fazer o trabalho e ofereceu-me muito apoio. Uma das coisas que muito me impressionou na vida do pastor Ricardo foi a sua maneira de evangelizar. Ele tinha um sorriso nos lábios e tratava as pessoas com misericórdia e respeito. Isso muito me impressionou.

Assim como Dona Carmem, muitos outros jovens tiveram suas vidas grandemente influenciadas pelo casal Denham. Vários destes jovens privaram de sua convivência, hospitalidade e testemunho. Alguns deles tiveram ainda o privilégio de residir longo tempo com eles, o que se pôde verificar até bem recentemente.

Em São Paulo, o senhor Denham teve participação ativa na liderança da Escola Americana, Pan American Christian Academy (PACA), assim como na fundação da Imprensa da Fé na década de sessenta, e em outros ministérios. Alguns anos mais tarde, o senhor Denham recebeu um contato do ministério Overseas Crusades, que o sondava para assumir a coordenação da vinda de Billy Graham ao Rio de Janeiro no ano de 1974, mas entendeu que deveria declinar do convite. Quanto a Dona Pérola, sempre esteve envolvida com música, inclusive como instrumentista em gravações de conhecidos cantores evangélicos brasileiros. As filhas do casal Denham cantaram numa gravação muito conhecida à época: “Sou um infantil”.

A Editora Fiel

No terceiro trimestre de 1966, o senhor Denham publicou o primeiro número da revista O Leitor Cristão. Ainda que anteriormente tenham publicado alguns pequenos folhetos, têm-se esta data como a do início de seu trabalho de publicação. A revista exerceu considerável influência, e até recentemente chegavam algumas respostas de seus leitores. Ao apresentar a revista, o senhor Denham escreveu:

A necessidade de uma revista como esta foi por nós sentida, pela primeira vez, quando visitamos muitas das vilas do interior distante na região Amazônica. Ali encontramos pessoas recém-alfabetizadas à procura de algo para ler. Como primeiro passo, organizamos em Manaus a Livraria do Lar Cristão, uma obra interdenominacional. Isto foi há cinco anos.

É triste ver que milhares, no Amazonas, bem como em outras partes do Brasil, ainda não têm como obter literatura evangélica. Não podemos abrir uma livraria em cada lugar, mas estamos oferecendo uma revista que, com sua ajuda e a bênção de Deus, pode alcançar os perdidos, animar os crentes e servir como catálogo para por muitos livros à disposição de leitores distantes.

E em seu primeiro editorial, escreveu o senhor Denham:

Por que são tão poucos aqueles que sentem o desafio de participar de produção e distribuição de literatura evangélica nesta grande terra brasileira tão cheia de oportunidades? Por que esta falta de incentivo em face às oportunidades manifestas de desempenhar-se da ordem divina de ensinar a verdade a todos os homens?

Conhecendo o coração egoísta do homem, o profeta escreveu: ‘Sem uma visão, o povo perece’. Somente uma visão de um Deus santo que exige obediência incitará o homem a contribuir desprendidamente para tornar conhecida a vontade divina. Paulo, que viu o Senhor em sua glória, pôde dizer: ‘O amor de Cristo constrange!’ E isto foi motivo suficiente para fazê-lo desistir de sua vida por causa de Cristo. Sem esse poder motivador do amor de Cristo, a obra de publicação e distribuição da literatura cristã nunca será realizada.

Lucros rápidos, negócios e poder devem ser procurados em outras áreas, mas diante de nós está uma oportunidade. Temos a motivação necessária para agir?

No ano seguinte, a saber, em agosto de 1967, com o selo da Editora Leitor Cristão, foi publicado o primeiro livro, O ide é com você!, de Norman Lewis. Com tradução dos pastores Gerson Rocha e João Bentes, a publicação deste livro contou com a participação da Missão Novas Tribos do Brasil. É muito significativo que o primeiro livro publicado tenha sido acerca de evangelização e missões. No primeiro capítulo do seu livro, o autor assim escreve:

Cada crente é responsável pela evangelização do mundo. O Senhor disse: ‘Ide por todo o mundo e pregai o evangelho a toda criatura’. Cada um dos filhos de Deus, individualmente, tem uma parcela de responsabilidade nessa obra. A ordem de Cristo é consigo. Cada crente será julgado pela resposta que houver dado à ordem de Cristo. Fique, contudo, entendido, que não se trata de uma ordem eminentemente geográfica. Cada crente não terá de ser, necessariamente, um missionário em terras estrangeiras. Mas cada crente precisa ser possuído da disposição de ser missionário. A questão é estar rendido a Cristo. Ele dirigirá cada crente que se Lhe submeteu, e decidirá sobre o seu tempo de serviço. O Senhor da seara distribuirá os Seus filhos obedientes na tarefa da evangelização do mundo. Fatos abundantes provam que essa é a tarefa de cada crente. [2]

O trabalho da editora começou a crescer, tomando a seguir o nome de Editora Fiel. O casal Roger e Gwen Kirk exerceu um papel chave nos primeiros anos do ministério da Editora Fiel. Os talentos e aptidões de Roger e Gwen contribuíram imensamente para complementar algumas áreas mais práticas e administrativas do trabalho, que eram carentes ao senhor Ricardo. A dívida de gratidão que o senhor Denham nutre para com os Kirk é algo que ele sempre faz questão de enfatizar. Amigo pessoal do senhor Ricardo, Roger Kirk escreve:

O senhor Ricardo e a família mudaram para Campinas, onde sua filha Elizabeth se dava melhor com o clima. Sendo um dos diretores da Academia Cristã Pan Americana, o senhor Ricardo vinha semanalmente a São Paulo e se hospedava em nossa casa. Jantava conosco, às vezes lavava a louça, ou cuidava do nosso filho. Também muito nos ajudava em aconselhamento e outras coisas práticas. Nós amávamos muito aquele homem, e ele se tornou o meu melhor amigo.

O senhor Ricardo foi usado por Deus para ensinar-nos certas verdades bíblicas a respeito da nossa salvação. Ele era muito paciente em mostrar-nos a soberania de Deus, embora Gwen, minha esposa, o tenha chamado de ‘herético’. Ela insistia no argumento de que era salva porque ‘havia tomado a decisão de aceitar Cristo’, e de que ‘Deus seria injusto ao escolher alguns para a vida eterna e a outros não’. Quando vinham hóspedes à nossa casa, eu sempre iniciava uma conversa sobre este assunto, a fim de ouvir os pensamentos de outros e provar o erro do senhor Ricardo! Porém, em vez disso, Deus começou a abrir o meu entendimento através da leitura de sua Palavra.

O senhor Ricardo convidou-nos para trabalhar com ele na nova editora chamada Fiel. Quando estávamos preparando o livro Deus é Soberano, de A. W. Pink, o Senhor abriu o entendimento de Gwen para a sua maravilhosa graça. Logo depois, ela ouviu uma pregação em que o pastor estava explicando a doutrina bíblica da eleição. Ele explicou que durante toda a história bíblica as pessoas foram escolhidas por Deus para ocupar determinadas posições por meio de um apontar de dedo. Em seguida, este pregador falou: ‘Imagine o Deus triúno apontando o dedo para você e dizendo: ‘Quero você!’. Isto é graça!’

Em 1973 e 1974, a família Denham estava ocupada na construção do escritório e do depósito da Editora em Atibaia, São Paulo. Ali a editora começou a ganhar força e crescer. O senhor Denham esforçou-se para construir uma casa ampla e confortável para sua família. Na aprazível estância em Atibaia o casal pôde oferecer melhores condições para seus filhos, e a família experimentou a sua melhor plenitude. Os Denham também privavam do saudável contato com todo o corpo de irmãos envolvidos no Instituto Bíblico Palavra da Vida. Em Atibaia os Denham receberam a visita do casal Bill e Berry Lyons, que representavam a Scott Memorial Baptist Church (que se tornou depois a Shadow Mountain Community Church), pastoreada por Tim LaHaye, em San Diego, Califórnia. O casal Lyons voltou altamente entusiasmado com o que viu, oferecendo à sua igreja, e a outras dentro da comunhão, uma recomendação de suporte ao trabalho do casal Denham. Este fato marcou um maior apoio ao trabalho realizado no Brasil. O suporte oferecido pela igreja em San Diego foi imensamente importante para o casal Denham, e naquela igreja eles fizeram muitos amigos, havendo os seus filhos estudado na escola da igreja e estabelecido fortes vínculos em San Diego.

Nessa época surgiu a necessidade de um veículo para transportar livros, materiais de construção e fazer campanhas evangelísticas. Um fazendeiro norte-americano doou um ônibus para a Editora. Muitas campanhas foram feitas utilizando este veículo, viajando pelo interior do Brasil com vários grupos de jovens brasileiros e americanos, vendendo livros de porta em porta e convidando pessoas para ouvir pregações ao ar livre, ou em alguma congregação local.

A Editora Fiel prosseguiu crescendo, e também a visão do senhor Denham. Um novo passo foi dado, o qual teve grandes implicações: a casa da família Denham foi vendida e um imóvel foi adquirido em São José dos Campos, São Paulo. O ideal acalentado pelo senhor Denham, que nunca chegou a ser concretizado, era instalar neste grande patrimônio também uma universidade, na qual se aplicasse um currículo integral e interdisciplinar de educação cristã.

O primeiro semestre de 1986 foi usado na tremenda tarefa de transferir a editora para São José dos Campos. A boa administração do senhor Denham fez com que o imóvel adquirido gerasse outros recursos, os quais viabilizaram muitos projetos da editora, visto que as ofertas recebidas nunca foram suficientes para tal. A abnegação pessoal do senhor Denham e de sua família foi sempre uma fonte de recurso, para que a Missão levasse adiante o seu ministério.

Em São José dos Campos, sentiu o casal Denham a necessidade de uma igreja firmada nas doutrinas da graça. Entre o final de fevereiro e início de março de 1986 aconteceram os primeiros encontros nos lares. A primeira reunião contou com a presença de pastor Ricardo Denham, do missionário britânico pastor Jack Walkey e do pastor Sillas Campos, os quais, juntamente com suas esposas e filhos, davam início ao trabalho missionário. A esta altura, todos os filhos do casal Denham eram residentes ou estudantes nos Estados Unidos. Roger Kirk escreve: “Lembramos dos cultos realizados no prédio alugado… Foi necessário colocar uma divisória no salão, porque os banheiros ficavam bem perto do púlpito, causando bastante distração”. A pequena congregação peregrinou ainda por outros quatro salões alugados, e o Senhor acrescentou à igreja aqueles que deviam ser salvos. Esta igreja resolveu adotar formalmente a Confissão de Fé Batista de 1689, tendo sido, pelo que consta, a primeira igreja batista no Brasil a adotar formalmente este muito distinto documento confessional batista.

O senhor Ricardo e dona Pérola dizem: “Estar na Igreja Batista da Graça é uma bênção maior do que podemos contar. Aqui temos encontrado irmãos e irmãs, filhos e netos, parentes e família em Jesus Cristo. Para nós, isso é bênção! Significa, acima de tudo, ter comunhão com os irmãos, no amor de Cristo, que nos une uns aos outros em sua família”. Desde o seu início, e até hoje, a Igreja Batista da Graça tem estendido formalmente termos de cooperação com a Editora Fiel, oferecendo apoio aos seus ministérios.

Também em São José dos Campos foi organizada uma escola de inglês, Inglês Fiel, que foi um instrumento muito importante para equipar jovens brasileiros naquele idioma. Mais tarde a escola foi transferida para um casal cristão, e funciona ainda hoje, com novo nome e estrutura.

Conquanto não tenha recebido uma educação teológica formal, o senhor Denham tem sido um ávido leitor; amante dos livros, formou ele uma boa biblioteca pessoal e dedicou bastante atenção aos estudos teológicos. Invariavelmente, ele sempre lia os livros que iria publicar, e, quando estes eram traduzidos, o senhor Denham era geralmente alguém diretamente partícipe no processo de revisão. Excetuada a sua vasta correspondência, escreveu muito pouco. Conquanto tenha se esforçado ele mesmo em prol da pregação, o seu maior empenho, entretanto, foi no sentido de promover boa pregação por parte de reconhecidos pregadores, trazendo ao Brasil aqueles que tinham um referendado ministério no púlpito. Leitor regular da Bíblia, pela qual sempre nutriu comovida reverência, o senhor Denham esposou uma doutrina distintamente conservadora, conquanto estivesse sempre a par das tendências teológicas e eclesiásticas do mundo evangélico-protestante, especialmente o de fala inglesa.

Nas igrejas em que contribuiu para a implantação, o senhor Denham procurou prestigiar o ministério de pregadores nacionais, sendo, entretanto, ele mesmo um grande e generoso cooperador, determinado em prol da disciplina e do culto, e alguém arduamente devotado à tarefa de testemunhar pessoalmente do evangelho de Cristo. Nestes anos de ministério penso haver conhecido poucos tão devotados ao ministério pessoal de evangelização quanto ele. Durante algum tempo, aqui em nossa cidade, ele conduziu regularmente um estudo semanal com homens, o qual resultou na conversão de diversos deles. Em nossa igreja, por exemplo, três dos atuais diáconos foram convertidos como resultado do empenho pessoal do senhor Denham nestes estudos bíblicos. Também foi ele alguém que sempre se empenhou no sentido de prover liderança masculina para a igreja, chamando os homens a que, em Cristo, exerçam uma liderança servil e altruísta dos seus lares.

No Brasil, a primeira Conferência Fiel para Pastores e Líderes aconteceu num hotel em Atibaia, São Paulo, em 1985. Os preletores convidados foram Bill Clark e Edgar Andrews, ambos diretores da editora britânica Evangelical Press. Nesta primeira conferência, que contou com cerca de oitenta participantes, pregaram ainda os irmãos Francisco Solano Portela Neto e Valter Graciano Martins. Marilene Paschoal, atualmente a mais antiga funcionária da Editora Fiel, desempenhou desde então um papel muito importante na organização das conferências, e tornou-se pessoa muito querida do público que frequenta regularmente os eventos anuais.

A conferência Fiel para pastores e líderes é, de alguma maneira, a suma dos propósitos da Missão. O trabalho da Fiel consiste em servir a Deus através do serviço à igreja; em cooperar com a igreja de Deus, trabalhando em sua edificação. Busca-se alcançar esse alvo, com a graça de Deus, através da edição, produção e distribuição de literatura sã e bíblica; através também de diversos projetos que visam a auxiliar o pastor; através da revista e do website. Contudo, é na conferência que se experimenta um pouco de cada aspecto de todo o trabalho. Nela, têm-se a oportunidade de ouvir os autores dos livros que são publicados, pastores, professores e palestrantes cujos labores pela causa do reino têm beneficiado multidões e cujas vidas testificam sua piedade e disposição de servir. Mensagens abençoadoras, edificantes, instrutivas e consoladoras são a matiz do que se encontra na conferência Fiel. Além disso, milhares de livros, da Fiel e de outras editoras, são selecionados criteriosamente e disponibilizados a preços baixos para todos quantos frequentam a conferência. O conclave ainda propicia um ambiente em que centenas de servos do Senhor, de regiões, contextos e denominações diferentes podem desfrutar de comunhão, trocar experiências e desenvolver laços de cooperação e amizade.

Ao final de 1995 tive a oportunidade de escrever um testemunho sobre a participação de nossa família na conferência daquele ano. Entre outras coisas, eu salientei:

Nestes anos recentes tenho tido a progressiva sensação de que a Editora Fiel vem se tornando um pouco do olho, do ouvido e da voz de um crescente e significativo segmento da liderança evangélica brasileira. O seu diretor – Richard Denham – vem conseguindo imprimir à Editora muito de suas virtudes pessoais: conceitos bem definidos, corajosos; perseverança; incontida paixão pela pureza da verdade; resistência às soluções de compromisso, à negligência e à omissão; permanente vigilância e desconfiança em relação à popularidade; e ainda assim, não se resignar à solidão. Num tempo que cada vez mais conspira contra a verdade, o ministério da Editora Fiel, com nome bastante proposicional, tem mostrado que, quando a fidelidade se torna mais difícil, ela é ainda mais necessária.

Realizadas anualmente na primeira quinzena do mês de outubro, estas conferências têm fornecido bases sólidas para a formação doutrinária de uma geração de evangélicos brasileiros, que não podem calcular o quanto lhe devem… Uma equipe de quarenta e quatro pessoas ligadas à Editora trabalhou arduamente para que todos os presentes tirassem o maior proveito das Conferências. O programa bem distribuído permitiu lazer, descanso, confraternização, favorecendo a que todos estivéssemos bem dispostos ao ouvir os preletores…

Um dos bons serviços prestados durante a Conferência é a livraria. Com atendimento de pessoal eficiente e informatizado, a livraria oferece o que há de melhor no meio evangélico brasileiro… Além deste esforço no período das Conferências, a editora mantém o Projeto Biblioteca do Pastor, enviando mensalmente livros gratuitos para dezenas de pastores inscritos. Alguém disse que ‘o mal que podem fazer os maus livros só é corrigido pelos bons’. Num tempo em que todo mundo faz livros, e em que os sábios leitores são raros, a Editora Fiel vem ocupando um lugar de respeito, fazendo livros que refazem a gente.

No exato momento em que o mercado editorial evangélico brasileiro está se tornando cada vez mais sofisticado, profissional e seletivo, transformando-se igualmente em um grande negócio, é de notar o fato que a Editora Fiel, também neste fluxo, parece entretanto não perder o senso de que é uma missão. Apegando-se a uma ação coerente, antes de buscar ser uma instituição de sucesso, a editora tem procurado ser uma instituição de valor e força moral. Com boa literatura e boas conferências, está mostrando que um novo país se faz com homens e livros. E eu termino dizendo que, com toda a certeza, este é um ministério cuja maior dificuldade é continuar prosseguindo. Oro para que continue!

Um Ministério Que Se Expande

O senhor Denham teve a visão de que o trabalho sediado no Brasil deveria expandirse para todo o vasto mundo lusófono. Assim, o ministério foi estendido para Moçambique, na África, e a primeira conferência anual foi realizada no ano 2000. As conferências sempre foram realizadas na cidade de Nampula, ao norte do país, e logo se tornou um evento acolhendo servos do Senhor provenientes de toda a nação. Coordena o projeto da Editora Fiel no país Karl Peterson, missionário norte-americano, que chegou à África em 1996. Peterson instalou-se na capital, Maputo, e começou a trabalhar com a Editora Fiel em 1997, administrando o projeto Biblioteca do Pastor, e depois de três anos as conferências tiveram início. Em Nampula o trabalho recebe o apoio decisivo de doutor Charles Woodrow e sua família. O doutor Woodrow é medico cirurgião, missionário norte-americano, muito respeitado pelo povo evangélico no país e fora dele. Ele reside em Nampula há cerca de vinte anos. O casal Woodrow tem se empenhado ao longo desse tempo no desafio de implantar um hospital, que deverá ter uma importância imensa naquela cidade e em toda a região. Outras áreas de atuação missionária da família Woodrow são a distribuição de literatura, a logística da conferência para pastores e a condução de seminários de treinamento de líderes. Todos estes ministérios são realizados em conjunção com a Editora Fiel no Brasil. Foi estabelecida a Livraria Fiel, no centro de Nampula, que oferece um ministério estratégico para todo aquele país, especialmente na região norte. O projeto Biblioteca do Pastor, que tem a gestão direta do missionário Peterson, tem distribuído farta literatura reformada, patrocinada pela Editora Fiel, incluindo subsídios para a participação nas conferências e o envio da revista Fé para Hoje publicada no Brasil.

Uma das grandes conquistas nos últimos anos tem sido o Seminário Fiel, que acontece imediatamente após a conferência. Este seminário, idealizado pelo irmão Woodrow, nasceu da necessidade de encorajamento e reciclagem para pastores. Alguns pastores vêm identificando este seminário como o ponto alto de sua ida a Nampula – e alguns, inclusive, já demonstram um grande débito para com ele e o aguardam com ansiedade. Vários líderes nacionais têm compartilhado acerca da mudança que experimentam em suas vidas e ministérios como resultado deste seminário.

Em Portugal, os primeiro contatos de senhor Denham se deram através da distribuição de livros pelas Edições Peregrino, e este consórcio resultou em alguns frutíferos resultados no campo da literatura. Uma pessoa estratégica para os ministérios da Fiel no país foi o pastor João Nunes, a quem o senhor Denham conheceu ainda na década de oitenta. O estimado irmão João Nunes, pastor-missionário na cidade de Tomar, português da gema, é pessoa afetuosa e muito querida. Ele fazia a expedição das correspondências locais, realizava os procedimentos logísticos, recebia as inscrições, e conduzia as reuniões com grande paciência e distinção. Versado em alguns idiomas, entre os quais o inglês e o francês, ele também tem contribuído na tradução das mensagens dos preletores. Nutrindo grande amor a Portugal e ao idioma de Camões, o pastor Nunes tem, sobretudo, amado e servido o Senhor Jesus Cristo e dignificado o evangelho de nosso Senhor entre o povo lusitano. A liderança da Editora Fiel é muito grata a Deus pela vida e ministério deste dileto irmão.

A primeira conferência Fiel em Portugal foi organizada com o essencial apoio de João Nunes, no ano 2001. Ao lado de pastor Tom Ascol, tive o privilégio de ser um dos preletores do evento. Chegávamos lá com disposição e grande alegria, levando no coração o propósito de servir os irmãos portugueses. Porém, por melhor que fosse, à ocasião era muito superficial o conhecimento que tínhamos da realidade experimentada pelos servos de Cristo naquele país, assim como poucos os relacionamentos prévios de que dispúnhamos. Não obstante a enorme boa vontade de nossa parte, logo se nos impôs o desafio de conhecer mais profundamente os irmãos, suas igrejas e seus desafios. Mesmo assim, desde o início encontramos boa e simpática acolhida de queridos irmãos portugueses e contamos com sua paciência e estímulo. Em meio a alguns limites, as conferências anuais aconteceram, e Deus dignou-se em conceder graça ao ministério. Logo foi estabelecido um grupo mais amplo de amigos, que nas próximas conferências proporcionaram encorajamento às pregações ministradas e à distribuição de literatura ao povo evangélico lusitano. As conferências em Portugal contaram com o privilégio da participação de pregadores grandemente capacitados e muito abençoados em sua exposição da Palavra de Cristo. Um senso de temor, de serviço e de unidade no Senhor fez-se sentir crescentemente, à proporção que aconteciam os eventos anuais. Boa e farta literatura foi colocada nas mãos de muitos pastores e líderes; a revista Fé para Hoje passou a ser periódica e gratuitamente enviada para um número crescente deles. As correspondências e contatos se multiplicaram. Os vínculos se fortaleceram. Os ministérios da Editora Fiel ganharam a amizade e o respeito de preciosos irmãos e irmãs em Cristo.

As conferências em Portugal têm sido realizadas no Acampamento Baptista em Água de Madeiros, local muito aprazível e bem estruturado, situado numa região privilegiada do litoral português, a meio caminho entre as cidades de Lisboa e Porto. A paisagem dos pinhais de Leiria compõe um ambiente acolhedor, e em poucos minutos chega-se a importantes cidades. A localização estratégica e a facilidade de acesso por meio das principais rodovias favorecem a chegada ao patrimônio da Convenção Batista Portuguesa. Tiago Santos, editor-chefe da Editora Fiel, vem ocupando um papel importante no apoio às conferências naquele país, especialmente quando o pastor Nunes viu-se limitado por razões de saúde da esposa. Neste ano de 2010, um passo muito importante foi dado no trabalho em Portugal. Foi enviado um container com mais de três mil livros, com a finalidade de se organizar uma loja online no país e atender não só a Portugal, mas também outras comunidades de língua portuguesa na Europa. Um trabalho de divulgação tem sido realizado por um dos integrantes da Editora Fiel no Brasil, que tem visitado o país de norte a sul, contatando igrejas, seminários, pastores e instituições em geral.

Com o direto incentivo do senhor Denham, uma primeira visita da Fiel em Angola foi empreendida por Tiago Santos e por mim em 2004. Uma reunião com quatorze pastores, organizada com a ajuda de um líder local, recebeu-nos para divulgar o trabalho da editora Fiel, quando também pudemos pregar em algumas igrejas. No ano seguinte, o senhor Denham fez sua primeira e única visita a Angola; na ocasião um grupo de quase setenta pessoas aguardava os brasileiros. Nessa viagem o senhor Denham enfrentou, junto dos seus companheiros, incontáveis dificuldades, inclusive furtos, horas e horas sem dormir, atrasos, alterações de rotas… Foi também nesta viagem que o senhor Denham, de passagem pela África do Sul, recebeu a notícia enviada do Brasil acerca do falecimento de sua mãe, dona Aletha, o que se deu seis meses antes dela completar cem anos. Um dos irmãos que o acompanhavam narrou: “O senhor Ricardo derramou uma lágrima grossa ao tomar conhecimento, e mesmo debaixo de forte impacto emocional, decidiu seguir conosco adiante”. O fato é que Deus abençoou imensamente esta viagem. Livros e revistas foram distribuídos e, nos encontros que se desdobraram, pregaram, além de pessoas ligadas a editora, Josafá Vasconcelos, Adauto Lourenço e Conrad Mbewe. O último encontro em Angola foi realizado em 2006.

Um plano do senhor Ricardo sempre foi tornar acessível a literatura ao povo de Deus, em especial aos seus líderes. Com esse ideal em vista, ele intencionou distribuir pelo país bancas de livros, semelhantes às bancas de jornal. Chegou a implementar um projeto modelo e até estabeleceu uma banca com algum êxito, mas o plano não seguiu adiante por falta de uma gestão específica. Entretanto, do mesmo ideal nasceu o projeto Biblioteca do Pastor, com o objetivo de oferecer apoio ao ministro, especialmente a aquele privado de maiores recursos para adquirir livros e participar de conferências. O projeto consiste de um programa missionário que visa cooperar com a igreja por meio de apoio ao seu pastor, oferecendo-lhe ferramentas para treinamento ministerial e sua edificação pessoal. Isto é feito enviando ao pastor participante do projeto um livro por mês e possibilitando sua participação na conferência local da Editora Fiel. Os livros são selecionados pela editora, e os meios para o sustento do pastor beneficiado pelo projeto são obtidos através de ofertas específicas, enviadas por indivíduos ou igrejas que desejam “adotar” um pastor e que assumem o compromisso de enviar as ofertas por um período determinado – de um a três anos, podendo ser renovado. Os desafios sempre têm sido grandes, e a lista de pastores à espera de serem admitidos ao projeto geralmente é imensa. Atualmente o projeto envia livros para Angola, Moçambique, Cabo Verde, Timor Leste, Portugal e Brasil, e para indivíduos específicos em outros países. Seu atual coordenador é o missionário norte-americano Kevin Millard, que conta com o apoio de sua esposa brasileira, Edneia Millard. Faz-se necessário destacar, ainda, o inestimável apoio de Gwen Kirk, prestado até aos dias de hoje, ao trabalho da Fiel, particularmente ao projeto Biblioteca do Pastor. A senhora Kirk é quem traduz do português para o inglês, com velocidade e competência incomuns, as centenas de cartas que lhe chegam, remetendo-as aos mantenedores do projeto.

A revista Fé para Hoje comemorou dez anos em 2009. Foram mais de seiscentas mil cópias impressas e distribuídas gratuitamente nesse período. Nos anos iniciais tive o privilégio de cooperar diretamente com este ministério, que logo se tornou de imensa influência. A tiragem inicial de um pouco mais de três mil exemplares logo atingiu a faixa dos vinte mil. A revista tornou-se um veículo de grande impulso à divulgação dos autores, dos livros e das conferências, e permitiu que crentes nos mais diferentes locais e contextos pudessem ter acesso ao ministério da editora, através de desafiantes artigos. São inúmeras as histórias sobre a revista. Deus a tem utilizado de forma muitíssimo especial para edificar e abençoar milhares de pessoas, ao longo dos anos. Uma carta que recentemente chegou à editora, procedente de Sergipe, trouxe um testemunho muito tocante:

Escrevo com muita alegria em meu coração para esta editora. Porque assim Deus me fez achar uma revista de ensino bíblico no meio de papéis que ajuntava para vender para reciclagem. No meio dum amontoado de papéis, o Espírito Santo me fez ver uma revista que dizia Fé para Hoje. Eu apanhei aquela revista e a levei para casa. Era uma revista simples, mas, por dentro, seu conteúdo de ensino era tremendamente glorioso. Eu lia e relia e cada vez mais o Espírito Santo iluminava minha mente, e eu fui fortalecido no Senhor.

Durante todo o período em que tem exercido o trabalho missionário no Brasil, o casal Denham passou diversas temporadas nos Estados Unidos. Nestas oportunidades, o casal dedicou tempo aos seus familiares e buscou estreitar os laços de comunhão com as igrejas onde têm sido membros. Foi também nestes períodos que o senhor Denham promoveu um intenso e exaustivo programa de viagem por toda a nação norte-americana, pregando nas igrejas, oferecendo testemunhos e relatórios, participando de conferências para pastores e líderes, reunindo-se com autores e editoras e angariando amigos e simpatizantes para a obra missionária que têm realizado. Além disto, tem sido intensa e proficiente a correspondência que o senhor Denham tem mantido ao longo dos anos, desde as noites mal iluminadas no Amazonas, quando se utilizava, para tanto, de uma máquina datilográfica e cópia carbono. Esta correspondência tornou-se ainda mais intensa com as facilidades providenciadas pelas novas tecnologias em comunicação, tais como aquelas que o advento da internet providenciou. E por falar em tecnologia, é fato bastante reconhecido por todos a constante atualização do senhor Denham nesta área, procurando sempre evitar que a Missão estivesse defasada neste terreno.

Tendo sido desportista em sua juventude, e peregrinado em ocupações tão variadas quanto o trabalho em minas e em serviços florestais, Ricardo Denham herdou de seus pais um coração um tanto quanto andarilho. Detentor de um senso mecânico bastante desenvolvido, ele prosseguiu incansável com habilidades no campo dos negócios, dos pesados trabalhos manuais, sendo capaz de realizar trabalhos profissionais da construção civil, dirigir desde motocicletas a ônibus e tratores, abrir estradas, instalar poços, projetar móveis e artefatos, manusear máquinas de carpintarias… Sua alma inquieta, itinerante, independente, exigente e enérgica, sempre revelou um senso quase obcecado de simetria e proporções. Era capaz de perceber as pequenas variações na simetria de uma coluna, onde poucos seriam capazes de perceber. E as coisas poderiam ir ainda mais adiante, pois em seu inconformismo era capaz de derrubar a coluna e pedir que a refizessem, isto quando não se dispunha ele mesmo a refazê-la.

Obviamente que nem sempre é tão fácil trabalhar com um tipo de temperamento assim. Ainda que tenham sido envidados esforços, tanto da parte do senhor Denham pessoalmente, assim como de seus familiares e amigos mais próximos, a fim de que a Editora contasse com uma liderança colegiada, isto não chegou a se concretizar com muitos êxitos. O senhor Denham é alguém formado numa têmpera de iniciativas individuais, havendo Deus o dotado de uma vocação pioneira e independente, e nesta condição foram erguidos os seus esforços mais frutíferos. Assim, a Missão Evangélica Literária foi sempre uma organização evangélica independente, sem qualquer afiliação eclesiástica ou denominacional, fundada, administrada e representada pelo senhor Denham, e filosoficamente dirigida por sua visão pessoal. Não obstante, faz-se necessário enfatizar haver ele sempre contado com um círculo de bons amigos, conselheiros, mantenedores e auxiliadores. Por exemplo, entre os seus mais antigos mantenedores sempre esteve um antigo técnico do time de futebol americano de seus tempos na universidade.

Nos Estados Unidos, o senhor Denham instalou uma organização que pudesse intermediar os trabalhos missionários no Brasil. Trata-se da Christian Literature Advance (CLA), que durante muitos anos foi gerida, em San Diego, Califórnia, pelo casal Maurice e Agnes Fennel, amigos dos Denham. Maurice Fennel era colega de senhor Denham desde o time de baseball e também colega de faculdade em Santa Bárbara. Em tempos recentes, a CLA recebeu colaboração graciosa de três irmãos, entre os quais se incluem dois genros do casal Denham. Atualmente, Hudson Taylor Blough é quem ocupa a presidência do Conselho da CLA, por recomendação do senhor Ricardo. O senhor Blough tem sido um amigo e apoiador de longa data; uma pessoa que tem gozado do afeto e confiança de senhor Denham, oferecendo um suporte muito decisivo nesta fase final de seu ministério. Hudson tem se feito presente algumas vezes no Brasil e também em Portugal, inclusive na primeira conferência, e em Moçambique, acompanhando mais de perto o ministério realizado.

Em São José dos Campos, a editora contou com a prestimosa e competente colaboração do casal pastor Earl e sua esposa Jo Ann “Joana” Mets. O casal Mets chegou ao Brasil em 1967, e nos primeiros anos atuou ele como gerente administrativo de Edições Vida Nova, onde o casal recebeu apoio de Russell Shedd e esposa. Neste período, os Mets conheceram o pastor Ricardo Denham quando este dirigia a livraria O Leitor Cristão, em São Paulo. Eles dizem: “Fizemos amizade com o pastor Ricardo e apreciamos muito o seu andar cristão”. Em 1997, o casal Mets mudou-se para São José dos Campos, a fim de ajudar no ministério da Editora Fiel, onde reside até hoje. Demonstrando particular sensibilidade, inteligência, sabedoria e humanidade na gestão de pessoas, o senhor Mets tem prestado uma ajuda significativa à Missão, suprindo-lhe de oportuna provisão em algumas carências mais sensíveis.

Os Anos Recentes

Nestes últimos anos o senhor Denham tem tido um papel importante, ao encorajar e contribuir para a implantação de alguns ministérios no Brasil, tais como o Projeto Os Puritanos e o estabelecimento da Rádio BBN, ocupando, nesta última, também alguma função de exigência legal. Teve ele a oportunidade de oferecer o seu encorajamento aos irmãos reunidos em torno da Comunhão Reformada Batista no Brasil (CRBB), instituição organizada em 2004 com o propósito de reunir, em apoio mútuo, indivíduos de persuasão reformada e batista. O senhor Denham enviou sua carta ao congresso de instalação e, tanto quanto lhe foi possível, fez-se presente em congressos seguintes, havendo compartilhado um comovente testemunho em um deles.

Em 2003 a editora Fiel deu início a um ministério que vem ocupando gradativamente um espaço de grande relevância. Trata-se da Conferência Fiel para Jovens. Em 2002 recebia em minha residência um jovem de nossa igreja, quando ele compartilhou o seu desejo de que a editora Fiel promovesse um evento específico para jovens. Conversamos um pouco, e firmou-se muito fortemente a ideia de que uma conferência anual seria algo de grande valor para os nossos jovens, que poderiam desfrutar de uma comunhão mais ampla com jovens de outras igrejas, em um contexto em que estivessem expostos à boa e sã exposição bíblica. Rascunhamos ali algumas ideias e sugeri que ele procurasse o senhor Denham, a fim de ser ouvida a impressão deste. O senhor Denham imediatamente acolheu com entusiasmo a ideia! A primeira conferência foi realizada com grande êxito, e pouco a pouco o evento veio se firmando. Porém, dadas as características desta conferência, ela era inicialmente deficitária economicamente, obrigando a Missão a deslocar verba orçamentária de outras origens a fim de cobrir os custos operacionais. Ainda assim, mesmo que isto trouxesse alguma preocupação, o senhor Denham entendeu que deveria perseverar na realização da conferência para jovens, o mesmo se dando com seu filho, Rick Denham. O fato é que as últimas conferências adquiriram bastante consistência, como se pôde perceber na oitava conferência realizada neste ano de 2010. Muitos jovens têm sido abençoados, e até alguns casamentos tiveram início com contatos estabelecidos durante a conferência – eu mesmo já tive o privilégio de conduzir três deles. Aliás, o jovem que nos procurou foi o primeiro. Ele conheceu sua esposa numa das conferências para jovens, e hoje o casal, membro de nossa igreja, tem dois filhos, numa família bonita e que planeja crescer!

Outro passo muito importante deu-se por meio da aquisição do selo Edições Parakletos, que resultou dos denodados esforços do pastor Valter Graciano Martins. O senhor Valter conseguiu imprimir muitas obras de bom valor, incluindo um esforço hercúleo para “fazer Calvino falar português”. O seu acervo de livros foi transferido à Editora Fiel, que vem dando prosseguimento, inclusive com a contribuição decisiva de senhor Valter no “Projeto Calvino”. O pastor Franklin Ferreira veio somar com a equipe da editora, oferecendo uma atenção especial ao projeto, ao mesmo tempo em que nutre o ideal de ver a editora envolvida num ministério de formação e/ou capacitação teológica de pastores e líderes. Frutíferos contatos têm sido estabelecidos nesta direção.

À medida que os anos lhes pesaram, os Denham viram-se também debaixo do crescente desafio de, junto aos seus familiares, encontrar diretrizes para o prosseguimento da obra missionária que vem acontecendo ao longo dos anos. Em 2002, numa de suas últimas jornadas pelos Estados Unidos em visita às igrejas, o senhor Ricardo teve hemorragia interna por conta de um grave problema no esôfago. Caiu, esvaindo-se em sangue, num posto de gasolina em uma rodovia que atravessa o deserto do Arizona. Precisou ser socorrido de helicóptero, sendo transportado do deserto a um hospital na cidade de Tucson. Lá permaneceu até recuperar-se e compreendeu mais agudamente, naquele ponto, que precisava pensar na continuidade de seu ministério. Naquele ano, seu filho Rick Denham, que atuava na indústria da música na área de merchandising, passou a acompanhar mais de perto o ministério do pai e, eventualmente, fixou-se definitivamente no Brasil, junto de sua família. Rick Denham vendeu a sua empresa e passou a dedicar tempo integral ao trabalho da Fiel. Em janeiro de 2009, o senhor Ricardo, já debilitado por conta de sua doença, convocou uma reunião do conselho, em que recomendava a transferência da presidência para Rick Denham, seu filho. O conselho determinou manter o senhor Denham como vice-presidente e concedeu-lhe o título honorífico de presidente emérito. Neste mesmo ano o senhor Ricardo foi diagnosticado com Atrofia Sistêmica Múltipla ou Atrofia Multi-Sistêmica (MSA, Multiple System Atrophy), uma síndrome neurológica degenerativa.

Desde então, o casal Denham vem limitando seus compromissos e recebendo uma assistência mais direta de familiares, irmãos e profissionais de saúde. Rick Denham, à frente da editora, vem revelando bom tino administrativo, ampliando e modernizando as diversas áreas de atuação da editora e tecendo contatos imensamente frutíferos, no sentido de estender ainda mais os ministérios da Missão. Esta vem expandindo exponencialmente o seu ministério através da internet, de tal maneira que, dia após dia, milhares de pessoas mantêm contato com o material produzido pela editora, interagem com seus ministérios, leem e ouvem livros e artigos, acessam o blog, assistem a vídeos e adquirem online os livros e produtos oferecidos. Um passo ousado foi dado com a construção do novo edifício para a editora, localizado numa das mais crescentes regiões da dinâmica São José dos Campos. A moderna, ampla e muito bem aparelhada construção tem recebido a supervisão pessoal de Rick Denham, e a Missão pôde instalar-se este ano neste novo prédio, em condições bem mais adequadas ao seu trabalho.

Na igreja, o casal Denham continua servindo ao Senhor com bastante alegria, tanto quanto as forças físicas lhes permitem. O senhor Ricardo é um dos presbíteros associados, com direito a participação no conselho, embora já não tenha condições de se fazer presente. As forças físicas já não lhe são muitas, mas ele encontra oportunidade para testemunhar, fazer contatos e estabelecer correspondências, e não raramente chega aos domingos à igreja conduzindo o seu veículo. Dona Pérola eventualmente continua servindo como pianista de talento apurado, e é incansável em desafiar o aprimoramento da qualidade musical da igreja, revelando perceptível impaciência com qualquer tendência de banalização da música no culto evangélico. E ninguém tem conseguido demovê-la de sua apreciação pelos bons coros, grupos musicais e solistas.

“AO TEU NOME, SENHOR, DÁ GLÓRIA”

Hoje é perceptível e inegável a grande influência exercida pelo ministério da Editora Fiel na edificação de pastores, líderes e igrejas no mundo de língua portuguesa. Diante do veterano e querido casal Denham, todos nós temos sido constantemente relembrados do versículo que tem sido um lema para o senhor Ricardo: “Buscai, pois, em primeiro lugar, o seu reino e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas” (Mt 6.33). O seu hino predileto é bem conhecido de todos:

Em Jesus amigo temos, mais chegado que um irmão.
Ele manda que levemos tudo a Deus em oração.
Oh, que paz perdemos sempre! Oh, que dor no coração,
Só porque nós não levamos tudo a Deus em oração.

Temos lutas e pesares, e enfrentamos tentação,
Mas conforto recebemos indo a Cristo em oração.
Haverá um outro amigo de tão grande compaixão?
Aos contritos Jesus Cristo sempre atende em oração.

E, se nós desfalecemos, Cristo estende-nos a mão,
Pois é sempre a nossa força e refúgio em oração.
Se este mundo nos despreza, Cristo dá consolação;
Em seus braços nos acolhe e ouve a nossa petição. [3]

Dona Pérola diz:

Tenho aprendido a nunca dizer não para o que eu penso ser impossível, e o senhor Ricardo é um bom exemplo disso para mim, pois sempre tem mostrado mais prontidão em tomar passos pela fé do que eu. Eu sou mais devagar, mas Deus é paciente comigo. Ele tem me dado um marido que tem provado a fidelidade de Deus e eu também tenho visto a fidelidade do Senhor. Queremos servi-Lo, até que Ele nos chame. Eu quero dar graças por estarmos juntos todos estes anos, pois isto é um milagre também.

Em todas estas coisas, a afirmação do casal tem sido a seguinte:

Deus é muito gracioso, e tem sido muito bom para nós. Ele nunca nos chama para fazer uma coisa sem que nos dê também da sua graça. Temos sido abençoados com as oportunidades que Deus nos tem outorgado para publicar e distribuir o evangelho neste grande país e no vasto mundo de língua portuguesa. Agradecemos a Deus pelas pessoas dedicadas que têm trabalhado na Editora Fiel, e pela amabilidade e afeto de nossos irmãos em Cristo neste país. A Deus seja dada toda a glória.

Notas:

1 – Os doze volumes originais, contendo noventa ensaios, afirmando a ortodoxia evangélica e defendendo-a contra os ataques do liberalismo teológico, do catolicismo romano, do socialismo, do ateísmo e das modernas seitas e heresias, foram resumidos em R. A. Torrey (ed.), Os fundamentos (São Paulo: Hagnos, 2005).

2 – Norman Lewis, O ide é com você! (São Paulo: Leitor Cristão, 1967), p. 9-10.

3 – “Em Jesus amigo temos”, no 165, em Joan Laurie Sutton (org.), Hinário para o culto cristão (Rio de Janeiro: JUERP, 1992).

 

Fonte: trecho do livro “A Glória da Graça de Deus” publicado pela Editora Fiel.


Autor: Gilson Santos

Gilson Santos é Ministro Batista e pastor titular da Igreja Batista da Graça, em São José dos Campos, SP, há mais de 20 anos. Graduado em História, Teologia e Psicologia, é pós-graduado em psicologia pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. É escritor no institutopoimenica.com e professor de disciplinas de Teologia Prática no Seminário Martin Bucer.

Ministério: Editora Fiel

Editora Fiel
A Editora Fiel tem como missão publicar livros comprometidos com a sã doutrina bíblica, visando a edificação da igreja de fala portuguesa ao redor do mundo. Atualmente, o catálogo da Fiel possui títulos de autores clássicos da literatura reformada, como João Calvino, Charles Spurgeon, Martyn Lloyd-Jones, bem como escritores contemporâneos, como John MacArthur, R.C. Sproul e John Piper.

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