segunda-feira, 6 de maio
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Os heróis se vão: Nossos heróis morrem

O trecho abaixo foi extraído com permissão do livro Sansão e o amor invencível: a vitória de Deus por meio de heróis quebrados, de Emílio Garofalo (em breve).


Nossos heróis morrem

Eles estão indo. Aos poucos, eles estão indo. É assim mesmo: eles se vão; nós vamos. E, enquanto vamos, estamos crescendo. Mas, ainda assim, seguimos imperfeitos. E essa é a dor. Nossos heróis morrem. Não necessariamente de overdose, felizmente. Mas todos morrem no mundo caído. O pecado que quebrou o mundo é a causa mortis de cem por cento das mortes. E nossos heróis se vão assim. Hoje veremos um herói, ou um anti-herói do Antigo Testamento ir. Sansão, o homem que gostava de charadas. Um homem de quem ninguém gostava, ainda que ele tivesse poderes impressionantes. 

Heróis. Vários de vocês amam filmes e histórias de heróis. Podem ser os heróis Marvel e DC. Podem ser os heróis dos filmes de guerra. Podem ser os heróis das histórias de amor e de família. Heróis. Gente que olhamos e que nos levam a pensar: “Quero ser assim quando crescer”. Eu queria ter sido assim, mas já cresci. Quisera eu ter outra chance! Isso faz parte do drama e do desejo. Olhamos e queremos ser. E sabemos que não somos.

Existe uma canção de Coldplay/Chainsmokers que lida com isso, intitulada Something just like this [Algo meio assim]:

 

“Tenho lido livros antigos… As lendas e os mitos Aquiles e seus ouro Hércules e seus dons

O controle do Homem-Aranha

E os punhos do Batman..

E claramente não me vejo nessa lista

O Super-Homem veste um traje antes de voar Mas não sou o tipo de pessoa que pode vesti-lo.”

 

Essa letra ressoa em mim, pois, quando olho para a lista de heróis, percebo claramente que não me encaixo nela. O traje do Super-Homem não serve para mim.

É bom reconhecermos que não somos muito especiais. Que sofremos e lamentamos e que, muitas vezes, nos vemos totalmente sem saída. E muitas das nossas dores são autoinflingidas. É claro que nossos heróis não são perfeitos, pois eles também vêm com falhas. E, sim, de certa forma, nós amamos os heróis até mesmo nas falhas.

Por que o Homem-Aranha é um dos heróis mais amados? Talvez porque milhões de leitores se tenham identificado com um adolescente um pouco desajeitado, tímido com as meninas e que, ainda assim, vai longe. O Batman, por sua vez, tem seu lado soturno, atormentado. Wolverine é aquele que não tem problema com derramamento de sangue. E ele sequer consegue beber suficientemente rápido para esquecer, pois seu ato de cura resolve a embriaguez quase imediatamente. O Homem de Ferro também tem seus próprios monstros e, em geral, eles vêm engarrafados com um alto teor alcoólico.

Mas a situação toda vai além dos heróis da imaginação, tanto literária como cinematográfica; tem a ver com nossos heróis do cotidiano.

Alguém já disse que um dia especialmente importante para uma pessoa é aquele no qual se dá conta de que seus pais pecam. Eu diria que é importante para a vida de uma ovelha quando ela descobre que seu pastor peca. Aliás, a história da Igreja no que diz respeito à controvérsia “So- mente Cristo” passa justamente pela ideia de que talvez alguns dos heróis tenham sido tão santos que seus méritos podem passar para nós. Os santos pais, os santos mártires… Não. Se não sabemos de seus erros, não temos a história completa, pois todos os nossos heróis são falhos.

Mas e quanto ao autor deste livro, também ele está longe de ser um herói? É claro que, com o passar dos anos, a graça divina vai trabalhando em nós. Mas a nossa diferença para Cristo é maior do que a nossa para Sansão. E é assim com os melhores de nós, até a nossa partida.

Somente Cristo é o herói — e isso tem de ficar bastante claro para você, ainda que existam outros heróis em sua vida. A vida do povo de Deus é complexa. Nós deveríamos ser um povo que sempre luta contra o mal, inclusive contra o mal interior. Mas nos esquecemos disso. A vida cristã apresenta nuances que não se encaixam em uma visão triunfalista. E Sansão e o livro de Juízes nos lembram que a vida é mais complicada do que estamos dispostos a admitir. E que os maiores dentre nós, ainda assim, são pequenos.

A vida envolve gente redimida chegar ao seu fim. Alguns em melhor estado; outros, em pior estado. Mas todos os que são dele chegam ao fim sob seus cuidados, cumprindo, na vida e na morte, os planos dele.

“O que é o que é?”: está sem esperança alguma e encrencado por causa de seu pecado, mas nunca se vê fora do alcance de Deus? Não, meus caros. O Senhor triunfa sobre o mal e salva seu povo de seus pecados.

 


Para saber mais, além do livro de onde adaptamos este artigo, recomendamos o curso Amor invencível: O evangelho na história de Sansão, de Emílio Garofalo.


Autor: Emilio Garofalo Neto

Emilio Garofalo Neto é ministro presbiteriano e pastor da Igreja Presbiteriana Semear em Brasília, DF. Completou seu Ph.D no Reformed Theological Seminary, nos EUA. É professor de teologia sistemática no Seminário Presbiteriano de Brasília e professor visitante em teologia pastoral no CPAJ.

Ministério: Editora Fiel

Editora Fiel
A Editora Fiel tem como missão publicar livros comprometidos com a sã doutrina bíblica, visando a edificação da igreja de fala portuguesa ao redor do mundo. Atualmente, o catálogo da Fiel possui títulos de autores clássicos da literatura reformada, como João Calvino, Charles Spurgeon, Martyn Lloyd-Jones, bem como escritores contemporâneos, como John MacArthur, R.C. Sproul e John Piper.

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