quinta-feira, 19 de dezembro
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A bondade importa?

*O trecho abaixo foi extraído com permissão do Livro A Lei da Bondade, de Mary Beeke, Editora Fiel.

A bondade é um conceito amplo. As pessoas demonstram bondade em vários graus, desde pequenos atos, quase imperceptíveis, até uma vida toda repleta de atos de bondade. Uma pessoa verdadeiramente bondosa mostra bondade habitualmente, e ao mesmo tempo age com bondade em casos específicos. Uma pessoa realmente bondosa demonstra cuidado e interesse pelos outros, e pelas necessidades e interesses deles. Uma pessoa bondosa não age com favoritismos, mas respeita cada indivíduo como um ser criado por Deus. A pessoa bondosa não é sarcástica e não se alegra com a desgraça do outro.

Apesar disso, a pessoa bondosa não é alguém sem personalidade. Ela é honesta, mesmo quando isso lhe causa sofrimento, e permanece firme nos princípios bíblicos, mesmo quando eles não são populares, pois ama o Senhor acima de todas as coisas e a Lei de Deus reflete o próprio Deus. Assim sendo, a bondade está sujeita à lei de Deus, mantendo os padrões de certo e errado. Em essência, a moralidade e a bondade andam de mãos dadas. A profunda motivação da bondade brota da humildade e da gratidão a Deus pelo seu maravilhoso dom da salvação. A pessoa bondosa diz: “Deus demonstrou uma bondade sem igual ao perdoar os meus pecados; em resposta, serei bondosa para com as outras pessoas, sejam elas bondosas para comigo ou não.” Existe uma variedade inacreditável até mesmo entre aquelas pessoas que costumamos rotular de bondosas. Uma vovozinha que se encontra com quinze pessoas por semana, em média, e Corrie Ten Boom são pessoas bondosas, mas existe uma enorme diferença entre o campo de atuação de uma e de outra. Uma pessoa realmente bondosa pode estar bem atarefada com os afazeres da vida e ao mesmo tempo difundir bondade por onde passa, talvez dando passagem para um outro motorista ou sorrindo para um adolescente desajeitado que está na fila do supermercado, procurando onde colocou o dinheiro. Há milhares de pessoas que dedicam horas por semana em suas obras de caridade preferidas, liderando um grupo de escoteiros, dando aconselhamento em organizações antiaborto, ensinando na escola dominical, ou servindo refeições em albergues para moradores de rua. Há um número incontável de indivíduos, em sua maioria aposentados, que gastam horas como voluntários em hospitais ou construindo casas em mutirões humanitários, ou sentando-se a beira de leitos de pessoas moribundas em hospitais psiquiátricos. Há também aqueles cujo trabalho principal é cuidar dos outros e demonstrar bondade, por exemplo aquela enfermeira que é um “anjo de misericórdia” em um hospital, o servente prestativo em uma escola ou um voluntário da Cruz Vermelha no Afeganistão pós-guerra.

Existe uma distinção entre a bondade como traço de personalidade e os atos isolados de bondade, embora a linha de separação entre eles seja tênue. No primeiro caso, a bondade permeia tudo, fazendo que haja uma ligação direta entre o que motiva a bondade e os atos de bondade. No segundo caso, a bondade é mais esporádica, e os atos de bondade podem, ou não, estar ligados às motivações do indivíduo. Até as pessoas cruéis demonstram bondade uma vez ou outra. “Madeline” costuma ter problemas com cada um dos vizinhos e é grosseira com todos eles, mas quando suas amigas que gostam de jardinagem chegam, ela se derrete toda.

Dentro de cada um de nós existe um caleidoscópio de experiências, lembranças, habilidades de relacionamentos pessoais, motivações, traços de personalidade, mau humor, princípios e sentimentos. Esses fatores podem gerar uma grande variedade de comportamentos. Comportamentos idênticos podem surgir de motivações diferentes, em indivíduos diferentes. Jake pode ajudar o grupo de jovens da igreja a ajuntar as folhas do jardim porque simpatiza com os velhinhos que não conseguem mais realizar o trabalho de jardinagem, enquanto Blake pode estar retirando as folhas somente porque seus pais obrigaram-no a fazer isso. O resultado é o mesmo, embora o processo mental para realizar tal ação tenha sido diferente.

A motivação pode ser diferente, de tempos em tempos, até no mesmo indivíduo. Quando eu disse a “Nancy” o quanto a admirava por sempre ajudar uma amiga viúva, ela me disse: “Às vezes faço isso porque a amo e me importo com ela, outras vezes, é a obrigação que me impulsiona.”

É possível que as duas coisas, motivação bondosa e atos bondosos, aconteçam de forma independente. Uma pessoa pode ter bondade em seu coração, mas ninguém se beneficiará disso, a menos que ela seja posta em prática. Uma pessoa muito introvertida ou isolada pode ser bondosa e demonstrar isso aos outros. Entretanto, parece que se uma pessoa tem bondade no coração, esta será revelada, mesmo que o indivíduo não deseje ser bondoso de forma proposital. “Hilda” é mais ou menos assim. Ela é extremamente tímida e trabalha muito bem no negócio da família. Ela nunca fala, a menos que lhe dirijam a palavra. Muitas vezes, parece preocupar-se apenas com seu mundinho. Contudo, quando alguém fala com ela de forma gentil, um sorriso doce surge em seu rosto, e quando ela presenteia alguém, geralmente, o presente é feito por suas próprias mãos e com muito amor.

Por outro lado, uma pessoa pode demonstrar atos de bondade por razões puramente egoístas. Em quase todas as viagens missionárias, das quais participei, ficava admirada com a quantidade de pessoas que iam somente por estarem interessadas em alguém do sexo oposto que estava inscrito. Ainda que a motivação não seja pura, esse comportamento é benéfico. Tenho de admitir que eu mesma já fiz esse tipo de coisa. Na verdade, talvez façamos isso com mais frequência do que somos capazes de admitir. De qualquer forma, Deus pode usar essas nossas experiências de maneiras misteriosas, levando-nos a ter um encontro com ele ao longo da viagem ou permitindo que possamos descobrir a alegria de servir aos outros.

Existe a possibilidade de a bondade habitar nos recônditos do coração de uma pessoa e ao mesmo tempo ser obscurecida por um outro traço de personalidade. «James» é um menino muito bom em casa e na vizinhança, mas na escola, o desejo que tem por atenção é tão grande que ele pode até ser cruel com as crianças mais novas, somente para ser aceito pelos seus colegas.

O comportamento da humanidade é como o mar, sempre se modificando, misturando-se e entrando em contato com novas pessoas, em diferentes situações. A nossa vida também é mutável. O grau de nossa bondade é determinado pelas nossas experiências, nossa personalidade, e pela forma como somos instruídos por Deus e pelos outros.

Qual é a importância da bondade?
Qual é quantidade de bondade que precisamos? Ela é essencial ou supérflua em nossa vida? Várias pessoas poderiam dar várias respostas para essas perguntas. Porém, todos concordaríamos em um ponto: queremos que os outros sejam bondosos conosco. Jesus se referiu a esse traço comum na linha de raciocínio dos seres humanos quando deu a seguinte instrução: “Como quereis que os homens vos façam, assim fazei-o vós também a eles” (Lc 6.31). Seguir essa lei de ouro requer que compreendamos o nosso desejo de receber um tratamento bondoso por parte dos outros, bem como que estejamos conscientes que o nosso próximo deseja o mesmo. Por conseguinte, devemos dar mais valor ao desejo do nosso próximo do que aos nossos. Compreensão e cuidado não são suficientes, é necessário que haja ação. A bondade surge quando nos preocupamos com os outros; quando temos empatia por eles; quando nosso desejo é satisfazer as necessidades deles; quando a dor deles torna-se nossa; e o fardo deles, o nosso; quando colocamos nossos sentimentos em ação e nos dispomos a dividir o fardo com eles; e quando promovemos a alegria deles através das nossas ações.

A lei de ouro é fundamentada nos Dez Mandamentos. Mas qual dos mandamentos nos ensina a sermos bondosos? Todos eles. Jesus nos instruiu dizendo: “Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todo o teu entendimento. Este é o grande e primeiro mandamento. O segundo, semelhante a este, é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Destes dois mandamentos dependem toda a Lei e os Profetas” (Mt 22.37-39). W. Phillip Keller destaca que “o importante tema da bondade incessante de Deus pulsa como um poderoso batimento cardíaco em toda a Escritura. ‘Porque mui grande é a sua misericórdia para conosco…’ (Sl. 117.2) é um refrão que nunca morre. Ele é repetido uma porção de vezes como um lembrete que a misericórdia, a compaixão e a bondade de Deus fluem até nós de graça, de forma abundante, em rios refrescantes todos os dias.” Quando a misericórdia e a bondade de Deus fluem dentro de nós, a única coisa que podemos fazer é repassá-la aos outros. Consequentemente, Deus identifica a bondade como uma característica muito importante do cristão. Colossenses 3.12 afirma: “Revesti-vos, pois, como eleitos de Deus, santos e amados, de ternos afetos de misericórdia, de bondade, de humildade, de mansidão, de longanimidade.”

A vida de Jesus, cujo exemplo devemos seguir, era um panorama da bondade. Ele curou doentes, perdoou pecadores, ressuscitou mortos, confortou os necessitados e alimentou os famintos. E a quem Ele direcionou sua bondade? Não foi aos ricos, aos orgulhosos, aos socialmente honrados, mas sim, aos pobres, aos doentes, aos rejeitados, às crianças, aos dementes, às prostitutas, aos deformados, aos feridos, aos moribundos e aos pecadores. E Ele nos disse que quando ajudamos aos necessitados, é como se estivéssemos demonstrando bondade a Ele mesmo.

Jesus nunca tolerou aqueles que tiravam vantagens dos menos privilegiados. Ele ficou muito irado com os cambistas que enganavam aqueles que iam ao templo. Eles estavam profanando a casa de Deus. Ele os expulsou, a fim de devolver honra à casa de Deus. Ele também desprezou aqueles que se orgulhavam da sua autojustiça; e a razão para isso era que os homens estavam usurpando a glória de Deus. Ele estava justamente irado e fez isso pelo bem de todos.

A bondade é fundamental em nossas vidas. A lei da bondade deve ser escrita em nossos corações. É uma característica que não pode ser dividida em compartimentos. Dizer: “Hoje vou praticar a bondade das duas às quatro da tarde” é o tipo de coisa que não funciona. Antes, a bondade deve dar cor à maioria das coisas que fazemos. Como gotas de corante alimentício em um copo de água, assim também nossas ações deveriam ser coloridas de bondade.

A bondade é importante? Todos concordaríamos que sim. Poderíamos ser mais eficientes naquilo que fazemos se assimilássemos melhor o princípio da bondade. A vida familiar flui mais tranquilamente quando expressamos bondade. A vida escolar é mais fácil com bondade. As muitas horas gastas no trabalho são mais calmas se forem permeadas de bondade. E os relacionamentos sociais florescem quando coloridos pela bondade. Esses são propósitos práticos para sermos bondosos e nos são também muito úteis. Entretanto, em um nível mais profundo, quando somos bondosos porque Deus está operando a bondade dele através de nós, servimos e damos honras a ele.


Autor: Mary Beeke

Mary Beeke obteve certificado de competência na área de Deficiência de Aprendizagem no Calvin College e trabalhou como enfermeira e professora de ensino fundamental. É autora do livro A Lei da Bondade (Fiel). Mary é esposa do pastor Joel Beeke.

Ministério: Editora Fiel

Editora Fiel
A Editora Fiel tem como missão publicar livros comprometidos com a sã doutrina bíblica, visando a edificação da igreja de fala portuguesa ao redor do mundo. Atualmente, o catálogo da Fiel possui títulos de autores clássicos da literatura reformada, como João Calvino, Charles Spurgeon, Martyn Lloyd-Jones, bem como escritores contemporâneos, como John MacArthur, R.C. Sproul e John Piper.

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