quarta-feira, 16 de outubro
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A pregação como virtude da igreja

Série "Reunindo a igreja, as quatro virtudes"

Quando eu estava sendo entrevistado pela Capitol Hill Baptist Church, antes de ser chamado ao seu pastorado, alguém me perguntou se eu tinha um programa ou um plano a implementar visando ao crescimento da igreja. Talvez essa pessoa tenha ficado surpresa (e provavelmente você também) quando respondi que não tinha grandes planos ou programas a implementar. Estava armado apenas com quatro virtudes — pregação, oração, desenvolvimento de relacionamentos de discipulado e paciência.

Pregação

Alguns ficaram ainda mais surpresos quando disse que ficaria feliz se todos os aspectos de meu ministério público falhassem, se isso fosse necessário — exceto a pregação da Palavra de Deus. Ora, esse é o tipo de declaração que um candidato ao pastorado deve dizer a uma igreja? O que eu pretendia comunicar era que há somente um fator que, de acordo com a Bíblia, é necessário à edificação da igreja — a pregação da Palavra de Deus. Outros pastores poderiam cumprir quaisquer outros deveres; mas eu era responsável e fora separado, pela congregação, para o ensino público da Palavra de Deus. Esta seria a fonte de nossa vida espiritual, quer como indivíduos, quer como igreja.

A Palavra de Deus sempre foi o instrumento que ele escolheu para criar, convencer, converter e conformar o seu povo. Desde o primeiro anúncio do evangelho em Gênesis 3.15 até à promessa inicial feita à Abraão, em Gênesis 12.13, bem como até à regulação dessa promessa, por meio de sua Palavra, nos Dez Mandamentos (Êx 20), Deus outorgou vida, saúde e santidade ao seu povo por intermédio de sua Palavra. Desde as reformas durante o governo de Josias, descrito em 2 Reis 22 e 23, até ao avivamento da obra de Deus, durante o ministério de Neemias e Esdras (Ne 8 e 9), e até à grande visão do vale de ossos secos, descrita em Ezequiel 37.1-14, de acordo com a qual Deus transmite a vida de seu Espírito ao seu povo morto, mediante a pregação de sua Palavra, Deus sempre envia sua Palavra quando deseja renovar a vida em seu povo e ajuntá-los para a sua glória. Ele faz isso por intermédio de sua Palavra. Ele diz isso em Isaías 55.10-11:

“Porque, assim como descem a chuva e a neve dos céus e para lá não tornam, sem que primeiro reguem a terra, e a fecundem, e a façam brotar, para dar semente ao semeador e pão ao que come, assim será a palavra que sair da minha boca: não voltará para mim vazia, mas fará o que me apraz e prosperará naquilo para que a designei.”

O testemunho do Novo Testamento sobre a primazia da Palavra de Deus em seus métodos é igualmente claro: “Jesus, porém, respondeu: Está escrito: Não só de pão viverá o homem, mas de toda palavra que procede da boca de Deus” (Mt 4.4). A Palavra de Deus nos sustenta: “No princípio era o Verbo… A vida estava nele… E o Verbo se fez carne e habitou entre nós” (Jo 1.1, 4, 14). Jesus, a Palavra que se fez carne, é, em última análise, vida encarnada: “A palavra do Senhor crescia e prevalecia poderosamente” (At 19.20). A Palavra cresce e luta: “Agora, pois, encomendo-vos ao Senhor e à palavra da sua graça, que tem poder para vos edificar e dar herança entre todos os que são santificados” (At 20.32). A Palavra nos edifica e preserva: “Pois não me envergonho do evangelho, porque é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê, primeiro do judeu e também do grego” (Rm 1.16; cf. 1Co 1.18).

O evangelho, a expressão mais nítida da Palavra de Deus, é o poder de Deus para a salvação:[1] “Assim, a fé vem pela pregação, e a pregação, pela palavra de Cristo” (Rm 10.17). A Palavra de Deus cria a fé: “Tendo vós recebido a palavra que de nós ouvistes, que é de Deus, acolhestes não como palavra de homens, e sim como, em verdade é, a palavra de Deus, a qual, com efeito, está operando eficazmente em vós, os que credes” (1Ts 2.13). A Palavra realiza a obra de Deus no crente: “Porque a palavra de Deus é viva, e eficaz, e mais cortante do que qualquer espada de dois gumes, e penetra até ao ponto de dividir alma e espírito, juntas e medulas, e é apta para discernir os pensamentos e propósitos do coração” (Hb 4.12). A Palavra de Deus convence: “Segundo o seu querer, ele nos gerou pela palavra da verdade, para que fôssemos como que primícias das suas criaturas” (Tg 1.18). A Palavra de Deus nos dá o novo nascimento. Em seguida, Tiago advertiu: “Acolhei, com mansidão, a palavra em vós implantada, a qual é poderosa para salvar a vossa alma” (v. 21). A Palavra nos salva. Pedro também afirmou o poder regenerador da Palavra de Deus: “Fostes regenerados não de semente corruptível, mas de incorruptível, mediante a palavra de Deus, a qual vive e é permanente… esta é a palavra que vos foi evangelizada” (1Pe 1.23, 25).

Há poder criador, conformador, vivificador na Palavra de Deus! O evangelho é o instrumento de Deus para dar vida a pecadores mortos — e a igrejas mortas (Ez 37.1-14). Ele não tem outro instrumento. Se quisermos trabalhar em benefício de vida, saúde e santidade renovadas em nossa igreja, então, devemos trabalhar de acordo com a maneira de agir de Deus, revelada por ele mesmo. Do contrário, arriscamo-nos a correr em vão. A Palavra de Deus é o seu poder sobrenatural para realizar sua obra sobrenatural. Essa é a razão por que eloquência, inovações e programas são muito menos importantes do que pensamos. Essa é a razão por que nós, pastores, temos de nos dedicar à pregação e não a programas. Essa é a razão por que precisamos ensinar a nossas igrejas que a Palavra de Deus é mais valiosa do que os programas. Pregar o conteúdo e a intenção da Palavra de Deus é o que desencadeia o poder de Deus sobre o seu povo, porque o poder de Deus para edificar o seu povo está na Palavra, especialmente conforme o achamos no evangelho (Rm 1.16). A Palavra de Deus edifica a sua igreja. Portanto, pregar o evangelho de Deus é prioritário.[2]


O trecho acima foi retirado com permissão do Livro: Como edificar uma igreja saudável – Um guia prático para liderança intencional, de Mark Dever e Paul Alexander, Editora Fiel.

CLIQUE AQUI para ver os demais artigos que são trechos deste livro.


[1] Quanto a uma defesa simples e bíblica a respeito da permutabilidade das expressões “o evangelho” e “a Palavra de Deus”, observe como Paulo as permutou em 1Tessalonicenses 2.9 e 13. No versículo 9, ele disse que proclamara “o evangelho de Deus”. No entanto, no versículo 13, Paulo afirmou que eles tinham ouvido e “recebido… a palavra de Deus”.

[2] Para saber mais a respeito de como pregar o conteúdo e a intenção de uma passagem das Escrituras, ver John Stott, Eu Creio na Pregação (São Paulo: Vida, 2003). Quanto a informações a respeito de como planejar sermões e cultos, acesse o site www.9marks.org, clique na guia 9Marks e, em seguida, no link Expositional Preaching.


Autor: Mark Dever

Mark Dever é diretor do Ministério 9 Marcas, nos Estados Unidos, e pastor da Igreja Batista de Capitol Hill, em Washington D.C. Graduado na Universidade de Duke, obteve mestrado em Divindade no Gordon Conwell Theological Seminary e Ph.D. em História Eclesiástica na Universidade de Cambridge.

Ministério: Editora Fiel

Editora Fiel
A Editora Fiel tem como missão publicar livros comprometidos com a sã doutrina bíblica, visando a edificação da igreja de fala portuguesa ao redor do mundo. Atualmente, o catálogo da Fiel possui títulos de autores clássicos da literatura reformada, como João Calvino, Charles Spurgeon, Martyn Lloyd-Jones, bem como escritores contemporâneos, como John MacArthur, R.C. Sproul e John Piper.

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