sexta-feira, 22 de novembro
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Não seja um pregador desequilibrado!

Em 1982, Lech Walesa foi libertado pelo governo polonês depois de onze meses de aprisionamento. Ele disse: “Estou solto numa corda bamba, sob a qual há um pátio de prisão, e esta corda bamba foi engraxada. Não tenho a intenção de cair”.[1]

De muitas maneiras, o pregador Reformado experiencial sempre anda numa corda bamba engraxada. Ele pode achar que, para manter sua firmeza em um aspecto do cristianismo, precisa afrouxar em outro aspecto. Mas o pregador deve abraçar todo o conselho de Deus que impacta todo o homem.

Há duas áreas que exigem equilíbrio cuidadoso e vigilante para manter um tipo saudável de pregação experiencial. Em algumas destas áreas, os pregadores têm de abranger dois opostos aparentes. Se abandonarmos um ou outro, não seremos bem-sucedidos.

1) Elementos objetivos e subjetivos do cristianismo

Nosso Senhor Jesus Cristo orou: “E a vida eterna é esta: que te conheçam a ti, o único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem enviaste” (Jo 17:3). Esta é a verdade objetiva… Portanto, o pregador cristão tem de girar em torno do foco objetivo da verdade sobre Deus em Cristo e sua obra salvadora realizada em favor de seu povo.

Ao mesmo tempo, há uma experiência subjetiva: o conhecimento deste Deus pela alma humana. Este conhecimento não é meramente um exercício intelectual; é conhecimento vivificante e transformador, é “vida eterna”. Portanto, a pregação tem de girar em torno do foco subjetivo da experiência de Deus em Cristo.

O subjetivo deve ser arraigado no objetivo. A verdade tem de levar à experiência. Charles Bridges escreveu: “A experiência cristã é a influência da verdade doutrinária nas afeições”.[2] Experiência divorciada de verdade objetiva é ilusão. A vida eterna não é apenas sentimentos e ações; é conhecer “a ti, o único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem enviaste”.

No entanto, no cristianismo, o objetivo sempre tem o subjetivo como alvo. Charles Bridges disse que a vida do cristianismo “consiste não na exposição, e sim na aplicação da doutrina ao coração, para a santificação e o consolo do cristão sincero”.[3] Verdade sem experiência vital é vaidade e hipocrisia. Portanto, a pregação deve permanecer na órbita destes dois focos, o objetivo e o subjetivo.

2) A soberania de Deus e a responsabilidade do homem

Uma característica dos antigos pregadores reformados era que pregavam a responsabilidade do homem com plena convicção e a soberania de Deus com plena convicção. Eles se prendiam a tudo que a Escritura ensina. Não acreditavam que pregar a responsabilidade humana é anular a soberania divina ou que pregar a soberania de Deus é anular a responsabilidade humana. Temos de pregar ambas, como eles o faziam, com toda a convicção.

Muito frequentemente as pessoas pensam que a soberania de Deus e a responsabilidade humana são polos opostos, como frio e calor – mais de um significa menos do outro. Na realidade, elas não são opostas ou inimigas. Em resposta à pergunta “Como reconciliamos estas duas doutrinas?”, Charles H. Spurgeon disse: “Eu nunca reconcilio dois amigos”.[4] Ambos os aspectos da verdade do evangelho são ensino das Escrituras.

Devemos pregar todo o conselho de Deus sem apologia e sem tristeza ou reservas. Lembre: somos apenas os mensageiros de Deus e ministros da sua Palavra. Permita que o texto da Escritura estabeleça a agenda.

Portanto, a fim de pregar de maneira experiencial, nunca sacrifique a soberania de Deus e a responsabilidade do homem. Enfatize o que seu texto específico enfatiza. Em alguns sermões, é permissível focalizar-se totalmente na glória da soberania de Deus; em outros, colocar a ênfase sobre a responsabilidade humana; e ainda em outros, expor ambas as doutrinas.

Pregação sem equilíbrio produz discórdia e divisões, pois algumas pessoas concordarão com você, enquanto outras tentarão corrigir seu desequilíbrio com seus próprios desequilíbrios. A pregação equilibrada em várias porções da Escritura oferece à congregação um banquete nutritivo com muitos pratos. A congregação não fica em perigo de tornar-se enfermiça ou moribunda porque falta em sua dieta espiritual um nutriente ou elemento importante. Em vez disso, a igreja cresce em direção à maturidade holística, “à medida da estatura da plenitude de Cristo” (Ef 4:13).

Artigo adaptado do livro Pregação Reformada, de Joel Beeke.

[1] Ruth E. Gruber, “Walesa: Playing It Cool, Cautious, Cagey”, UPI, Nov. 15, 1982, https://www.upi.com/Archives/1982/11/15/Walesa-playing-it-cool-cautious-cagey/5818406184400/.

[2] Charles Bridges, The Christian Ministry: With an Inquiry into the Causes of Its Inefficiency (Edinburgh: Banner of Truth, 1967), 259.

[3] Bridges, The Christian Ministry, 260.

[4] Charles H. Spurgeon, Sermon No. 239, “Jacob and Esau” (Rom. 9:13), em The New Park Street Pulpit (1859; repr., Pasadena, TX: Pilgrim Press, 1975), 5:120.


Autor: Joel Beeke

Joel Beeke é presidente e professor de teologia sistemática no Puritan Reformed Theological Seminary (EUA) e pastor da Heritage Netherlands Reformed Congregation. Beeke é Ph.D. em teologia pelo Westminster Theological Seminary. Publicou 50 livros, dentre eles, “Vivendo para a Glória de Deus” e “Vencendo o Mundo” (Fiel).

Ministério: Editora Fiel

Editora Fiel
A Editora Fiel tem como missão publicar livros comprometidos com a sã doutrina bíblica, visando a edificação da igreja de fala portuguesa ao redor do mundo. Atualmente, o catálogo da Fiel possui títulos de autores clássicos da literatura reformada, como João Calvino, Charles Spurgeon, Martyn Lloyd-Jones, bem como escritores contemporâneos, como John MacArthur, R.C. Sproul e John Piper.

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