sábado, 23 de novembro
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Masculinidade bíblica

O que significa ser homem segundo Deus

Assim como nunca entenderemos as regras de Deus para o casamento e seu chamado para esposos e esposas sem o entendimento de Gênesis 2, também nunca entenderemos o que significa ser homem — solteiro ou casado — sem estudar este capítulo de importância vital. Gênesis 2 nos diz quatro coisas essenciais sobre o homem: quem ele é, onde está, o que é e como deve cumprir sua vocação. Obviamente, isso é algo muito importante, essencial para uma compreensão correta de nosso chamado como homens.

Quem somos: criaturas espirituais

Gênesis 2.7 fala de como Deus formou o homem de maneira especial: “Então, formou o Senhor Deus ao homem do pó da terra e lhe soprou nas narinas o fôlego de vida, e o homem passou a ser alma vivente”. Essa criação do homem é única de duas maneiras.

Primeiro, Deus não fez nenhuma outra criatura com esse cuidado manual. Para criar os animais, Deus simplesmente falou, e sua declaração foi suficiente. Mas Deus formou o homem do pó, moldando-nos com cuidado paternal.

Segundo, Deus soprou no homem seu próprio sopro — o sopro da vida eterna. Retornarei à identidade do homem na criação no capítulo 4, mas, por ora, devemos perceber que isso significa que Deus fez o homem para ser diferente. Não somos apenas mais um tipo de criatura entre muitas. Homens e mulheres são criaturas espirituais. Antes, a Bíblia diz que Deus fez o homem “à sua imagem” (Gn 1.27). Tanto em nossos corpos mortais como em nossos espíritos imortais (aquele sopro de vida de Deus), fomos capacitados a conhecer a Deus e chamados a carregar sua imagem no mundo criado.

Deus nos deu uma natureza espiritual para que pudéssemos carregar sua imagem como seus adoradores e servos. Isso é quem somos como homens.

Onde Deus nos colocou: aliança versus a falácia de Coração Selvagem

O próximo versículo, Gênesis 2.8, nos dá informações importantes que são facilmente ignoradas. Depois de Deus ter feito esse homem como algo único — uma criatura espiritual —, onde, no grande globo terrestre, o colocou? Afinal, havia apenas um Adão, que só poderia estar em um lugar, e, durante todo o processo de criação, Deus estava claramente sendo bastante intencional em todas as suas ações. Certamente, o posicionamento do homem seria igualmente intencional. A resposta é: “E plantou o Senhor Deus um jardim no Éden, na direção do Oriente, e pôs nele o homem que havia formado”.

O jardim do Éden é descrito na Bíblia como um pequeno canto do mundo originalmente criado que Deus tornou rico e belo. Adão foi colocado no jardim, juntamente com Eva, com o seguinte mandamento: “Sede fecundos, multiplicai-vos, enchei a terra e sujeitai-a; dominai sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus e sobre todo animal que rasteja pela terra” (Gn 1.28).

O que devemos pensar sobre esse jardim? O jardim é o lugar no qual Deus se relaciona de maneira pactual com sua criatura humana, e onde Deus leva o homem a relacionamentos e obrigações pactuais. Em termos da história bíblica do homem, o jardim era originalmente o lugar no qual toda a ação acontecia. Adão deveria inserir-se na obra de criação de Deus, a começar pelo jardim, que ele deveria cultivar e trabalhar, a fim de que a glória de Deus crescesse e se espalhasse, e para que o conhecimento de Deus se estendesse por todo o cosmos. O onde do homem, pelo menos antes da queda de Adão no pecado (Gn 3), é o jardim: o reino feito por Deus de relacionamentos e deveres pactuais para a glória do Senhor.

Neste ponto, tenho o desagradável dever de corrigir alguns ensinamentos equivocados que ganharam destaque nos últimos anos. Desde a sua publicação nos EUA em 2001, o principal livro cristão sobre masculinidade tem sido Coração Selvagem, de John Eldredge. Este livro tornou-se praticamente uma marca artesanal, com vídeos de apoio, livros de atividades e até mesmo um“Manual de Campo”. Na minha opinião, Coração Selvagem ganhou força com os homens cristãos em grande parte porque nos convoca a deixar de ser afeminados, a deixar de tentar entrar em contato com nosso “lado feminino” (o meu chama-se Sharon) e, em vez disso, a embarcar em uma busca emocionante para descobrir nossa identidade masculina. Posso dar um caloroso “amém!” à ideia de que os homens cristãos devem rejeitar uma ideia feminizada de masculinidade. O problema é que a abordagem básica da masculinidade apresentada em Coração selvagem é quase exatamente o oposto do que realmente é ensinado na Bíblia. Por esse motivo, na minha opinião, esse livro gerou muita confusão entre homens que buscam um sentido verdadeiramente bíblico de masculinidade.

Encontramos erros graves em Coração selvagem logo em seu começo, na passagem em que Eldredge discute Gênesis 2.8: “Eva foi criada dentro da beleza exuberante do Jardim do Éden. Mas Adão, se você se lembra, foi criado fora do jardim, no ambiente selvagem”. Eldredge pondera aqui que, se Deus “pôs o homem” no jardim, deve ter sido feito fora do jardim. Apesar de a Bíblia não dizer isso, é algo plausível. Contudo, mesmo assumindo isso como verdadeiro, o que devemos depreender disso? Eldredge faz um salto lógico desnecessário e praticamente inútil, concluindo que “o cerne do coração de um homem não é domesticado”, e, porque temos o “coração selvagem”, nossas almas devem pertencer a um ambiente selvagem, e não ao jardim cultivado. Ou seja, Eldredge assume e depois ensina como um ponto de doutrina uma visão da masculinidade que simplesmente não encontra apoio nas Escrituras.

É fácil entender como esse ensinamento pareceu atraente aos homens que trabalham em prédios de escritórios ou se sentem aprisionados pelas obrigações do casamento, da paternidade e da sociedade civilizada. Mas há algo que Eldredge não percebe. Deus colocou o homem no jardim. O ponto de Coração Selvagem é que um homem encontra sua identidade fora do jardim, em aventuras selvagens. Em contraste, o ponto de Gênesis 2.8 é que Deus colocou o homem no jardim, no mundo dos relacionamentos e deveres pactuais, e era ali que ele deveria receber e praticar sua identidade dada por Deus. Se a intenção de Deus era que o homem tivesse um coração selvagem, é bastante estranho o fato de tê-lo colocado no jardim, onde sua vida seria moldada não por buscas autocentradas de identidade, mas por laços e bênçãos pactuais.

O que somos: senhores e servos

“Sede fecundos, multiplicai-vos, enchei a terra e sujeitai-a”, disse Deus a Adão e a Eva em conjunto (Gn 1.28). Aqui começamos a ver “o quê” da masculinidade, ou seja, que Adão foi colocado no jardim para ser seu senhor e servo. Adão deveria glorificar a Deus ao se dedicar a frutificar em nome de Deus, começando no jardim e estendendo-se por toda a criação. Por essa razão, Adão era o assistente de Deus, exercendo autoridade sobre a criação: “dominai sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus e sobre todo animal que rasteja pela terra” (Gn 1.28).

Essa é a vocação da humanidade como um todo, tanto dos homens como das mulheres, mas especialmente dos homens. Deus colocou Adão em um papel de liderança em relação a Eva, referindo-se a ela como a “auxiliadora” de Adão (Gn 2.18, 20). Deus fez a mulher para Adão, e foi Adão quem deu nome à mulher, como havia nomeado todas as outras criaturas; pois ele era o senhor do jardim, servindo e representando o Senhor, seu Deus, que está acima de tudo. Adão não deveria dedicar-se, portanto, a infindáveis buscas por sua identidade masculina; ele deveria ser o senhor e o guardião do reino criado por Deus, trazendo glória ao Criador ao buscar espelhar a imagem de Deus como um servo fiel.

Como obedecemos a Deus: cultivar e guardar

Gênesis 2.7–8 nos diz quem o homem é, uma criatura espiritual feita para conhecer e glorificar a Deus; onde o homem está, colocado por Deus no coração do jardim que ele fez; e o que o homem é, o senhor e servo da glória criada por Deus. Finalmente, avançando alguns versículos até Gênesis 2.15, aprendemos como o homem deveria cumprir seu chamado: “Tomou, pois, o Senhor Deus ao homem e o colocou no jardim do Éden para o cultivar e o guardar”.

Cultivar e guardar: aqui está o como da masculinidade bíblica, o mandato da Escritura para os homens. É meu mandato neste livro, portanto, procurar especificar, esclarecer, elaborar e aplicar esses dois verbos a esse projeto vitalício, glorioso e divinamente estabelecido de uma vida masculina:

• Cultivar. Cultivar é trabalhar para fazer com que as coisas cresçam. Nos capítulos seguintes, discutirei o trabalho em termos de nutrir, cultivar, cuidar, construir, orientar e governar.

• Guardar. Guardar é proteger e sustentar o progresso já alcançado. Mais adiante, falarei sobre isso como defender, proteger, vigiar, cuidar e manter.

Conceitualmente, há alguma sobreposição entre esses termos e, na prática, as ações de cultivar e de guardar frequentemente se misturam. Parece que Deus estava usando esses dois termos complementares para indicar o conjunto de atitudes e comportamentos que constituiriam a masculinidade como ele desejava que funcionasse. É útil, portanto, ver “cultivar” e “guardar” em Gênesis 2.15 como papéis separados, embora relacionados. Duas palavras que servem como bons resumos de ambos os termos são serviço e liderança, palavras modernas que se relacionam intimamente com as palavras bíblicas servo e senhor.

Com base no ensinamento de Gênesis 2, os homens devem entrar no mundo que Deus criou como os homens que ele nos fez para ser, senhores e servos sob sua autoridade, a fim de que possamos cumprir nosso mandato: cultivar e guardar.


Este artigo é um trecho adaptado e retirado com permissão do livro: Homens de verdade, de Richard D. Phillips, Editora Fiel


Autor: Richard D. Phillips

Richard D. Phillips servir por trinta anos no exército até que o Senhor o chamou para o ministério pastoral. Doutor em Divindade pela Greenville Presbyterian Theological Seminary, Phillips serve como ministro sênior da Second Presbyterian Church, em Greenville, Carolina do Sul, EUA, e é membro do conselho do The Gospel Coalition.

Ministério: Editora Fiel

Editora Fiel
A Editora Fiel tem como missão publicar livros comprometidos com a sã doutrina bíblica, visando a edificação da igreja de fala portuguesa ao redor do mundo. Atualmente, o catálogo da Fiel possui títulos de autores clássicos da literatura reformada, como João Calvino, Charles Spurgeon, Martyn Lloyd-Jones, bem como escritores contemporâneos, como John MacArthur, R.C. Sproul e John Piper.

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